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Crítica/televisão
Em sua estréia, Record News imita o padrão Globo, mas talk-show se destaca
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
A guerra de audiência se
acirra com a estréia e a
presença da Record
News. É o terceiro canal brasileiro dedicado exclusivamente
ao telejornalismo; com a diferença que ambos os antecedentes, Globo News e Band News,
não são abertos.
A estréia, na quinta passada,
se deu com pompa e circunstância, com o aval dos poderes
constituídos em nível federal,
estadual e municipal -estavam
presentes à cerimônia de inauguração da emissora o presidente Lula, o governador do
Estado de São Paulo, José Serra, e o prefeito de São Paulo,
Gilberto Kassab, e provocações
explícitas de Edir Macedo dirigidas à Rede Globo.
Excetuando-se o fato de a Record News estar em sinal aberto, nem Globo nem Bandeirantes ainda têm o que temer por
parte do canal de notícias de
Edir Macedo. A exemplo do que
fez com a teledramaturgia, a
Record primeiro copia, em registro um pouco mais precário,
aquilo que fez o poderio e o
prestígio da Globo.
Por enquanto, a Record ainda não tem um projeto de telejornalismo que difira tanto assim dos outros dois. A programação do canal -numa proporção anunciada de 19 horas
de material inédito para 5 horas de reapresentações- combina dois grandes telejornais,
um matutino e um no horário
das 21h, com telejornais regionais e programas temáticos espalhados ao longo do dia.
Mesma escola
Embora diga querer "pensar"
o Brasil, os telejornais, na tarefa imitativa da escola Globo de
telejornalismo, não se livraram
do formato reportagem curta,
comentários do "especialista"
entremeados por algumas reportagens mais longas, exibidas
em série. Os telejornais e os
programas de entrevistas estrearam com nomes proeminentes -Lula, Renan Calheiros, Hugo Chávez-, mas não dá
para supor que, no dia-a-dia, os
entrevistados se mantenham
nesse nível de interesse.
O canal também ainda não
passou pelo grande teste de
qualquer telejornal, enfrentar
uma cobertura imprevista, que
é onde a agilidade da reportagem e a inteligência da edição
se põem à prova.
Uma novidade bem-vinda,
no horário nobre, é a do talk-show temático: no "Entrevista
Record", a cada dia da semana é
abordado um assunto em uma
entrevista de duração mais longa que o habitual (uma hora).
Na contracorrente da entrevista como entretenimento e do
apresentador como performer,
o programa consegue tratar temas quentes com maior profundidade do que o comentário
mais apressado dos telejornais.
Pelo que a Record News
apresentou até agora, ainda
não é o suficiente para quem
quer, ao mesmo tempo, fazer
frente ao monopólio da Globo e
fazer um telejornalismo mais
eficiente e mais analítico. Se o
passo adotado for o das novelas,
vai demorar.
Avaliação: regular
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