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Última Moda
ALCINO LEITE NETO, EM PARIS - ultima.moda@grupofolha.com.br
Paris busca a (poesia da) luz no fim do túnel
Na semana de moda francesa, grife Issey Miyake mostra coleção inspirada nas cores e na luminosidade do Brasil
Nenhum estilista brasileiro
desfila na semana de moda de
Paris. Mas, desta vez, o Brasil
acabou comparecendo nas passarelas francesas, com a Amazônia, o Rio de Janeiro e a arquitetura de Oscar Niemeyer
transfigurados nos looks da grife japonesa Issey Miyake.
Foi uma das melhores coleções mostradas até quarta-feira
na temporada do verão 2009,
que começou no sábado e vai
até o próximo domingo.
Chamada de "Caçador de Cores", foi desenhada pelo novo
estilista da marca, Dai Fujiwara, que esteve com sua equipe
no Brasil, caçando novas formas e "cores verdadeiras", nas
palavras do próprio designer.
A equipe colheu 3.000 referências de cores, selecionou oito principais, criando uma paleta notável, dominada por vários tons de verde e de cores
terrosas, com referências à floresta e às águas do Amazonas.
A arquitetura de Niemeyer
serviu a Fujiwara como contraponto à desconstrução de Miyake dos anos 80/90. O resultado são peças vaporosas, com
formas sinuosas, dobras e plissados, numa silhueta jovem,
entre o "orgânico" e o futurista,
o construtivo e o informal.
Fujiwara também gostou dos
reflexos da luz na Catedral Metropolitana do Rio, que inspirou a série "Prismas". A coleção
inteira demonstra tanto preocupação com as cores quanto
com os efeitos prismáticos da
luz e as variações de tons -tudo
obtido graças a uma tecnologia
incrível de tecidos.
Alguns dos principais estilistas em Paris parecem obcecados pela poesia da luz e do imaterial. A coleção da Balenciaga
trabalhou os "jogos de luz" e
"reflexos sobre as matérias
neutras ou brilhantes", disse o
estilista Nicholas Ghesquière
-como nos flamejantes vestidos do final do desfile.
Mais do que a luz, foi a imaterialidade do som e os efeitos da
velocidade que inspiraram o
desfile de Hussein Chalayan. A
trilha sonora foi feita ao vivo,
com taças de cristais arranhadas pelos dedos de um músico.
As estampas tinham por base
carrocerias deformadas de carros. Os cabelos das modelos pareciam carregados por uma
ventania. E o design das roupas
-em geral, minivestidos- quebravam a fixidez da silhueta,
criando uma fluidez visual em
sintonia com as ondas sonoras
espalhadas no ambiente e as
idéias de dinâmica e choque.
Ao final, looks impressionantes fixaram em "deformações"
esculturais o efeito do vento sobre o corpo -como se as garotas estivessem vestidas com um
fluido novo e mutante.
Para que tanta experimentação? A moda está cada vez mais
encurralada entre a tradição e
as crescentes exigências comerciais. A tecnologia de tecidos, porém, tem propiciado um
campo de experimentações cada vez maior para os estilistas.
Os mais ousados se beneficiam
das novidades para achar novos
caminhos para as grifes.
É também forte o impacto
das novas tecnologias (como a
tela maleável do iPhone ou as
superfícies luminosas digitais)
sobre os melhores criadores,
que já vislumbram um futuro
com morfologias inéditas.
Além disso, em tempos de
tanta volatilidade do capital,
até a luz parece mais palpável.
com Vivian Whiteman
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