São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2008

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO, EM PARIS - ultima.moda@grupofolha.com.br

Paris busca a (poesia da) luz no fim do túnel

Na semana de moda francesa, grife Issey Miyake mostra coleção inspirada nas cores e na luminosidade do Brasil

Nenhum estilista brasileiro desfila na semana de moda de Paris. Mas, desta vez, o Brasil acabou comparecendo nas passarelas francesas, com a Amazônia, o Rio de Janeiro e a arquitetura de Oscar Niemeyer transfigurados nos looks da grife japonesa Issey Miyake.
Foi uma das melhores coleções mostradas até quarta-feira na temporada do verão 2009, que começou no sábado e vai até o próximo domingo.
Chamada de "Caçador de Cores", foi desenhada pelo novo estilista da marca, Dai Fujiwara, que esteve com sua equipe no Brasil, caçando novas formas e "cores verdadeiras", nas palavras do próprio designer.
A equipe colheu 3.000 referências de cores, selecionou oito principais, criando uma paleta notável, dominada por vários tons de verde e de cores terrosas, com referências à floresta e às águas do Amazonas.
A arquitetura de Niemeyer serviu a Fujiwara como contraponto à desconstrução de Miyake dos anos 80/90. O resultado são peças vaporosas, com formas sinuosas, dobras e plissados, numa silhueta jovem, entre o "orgânico" e o futurista, o construtivo e o informal.
Fujiwara também gostou dos reflexos da luz na Catedral Metropolitana do Rio, que inspirou a série "Prismas". A coleção inteira demonstra tanto preocupação com as cores quanto com os efeitos prismáticos da luz e as variações de tons -tudo obtido graças a uma tecnologia incrível de tecidos.
Alguns dos principais estilistas em Paris parecem obcecados pela poesia da luz e do imaterial. A coleção da Balenciaga trabalhou os "jogos de luz" e "reflexos sobre as matérias neutras ou brilhantes", disse o estilista Nicholas Ghesquière -como nos flamejantes vestidos do final do desfile.
Mais do que a luz, foi a imaterialidade do som e os efeitos da velocidade que inspiraram o desfile de Hussein Chalayan. A trilha sonora foi feita ao vivo, com taças de cristais arranhadas pelos dedos de um músico.
As estampas tinham por base carrocerias deformadas de carros. Os cabelos das modelos pareciam carregados por uma ventania. E o design das roupas -em geral, minivestidos- quebravam a fixidez da silhueta, criando uma fluidez visual em sintonia com as ondas sonoras espalhadas no ambiente e as idéias de dinâmica e choque.
Ao final, looks impressionantes fixaram em "deformações" esculturais o efeito do vento sobre o corpo -como se as garotas estivessem vestidas com um fluido novo e mutante.
Para que tanta experimentação? A moda está cada vez mais encurralada entre a tradição e as crescentes exigências comerciais. A tecnologia de tecidos, porém, tem propiciado um campo de experimentações cada vez maior para os estilistas. Os mais ousados se beneficiam das novidades para achar novos caminhos para as grifes.
É também forte o impacto das novas tecnologias (como a tela maleável do iPhone ou as superfícies luminosas digitais) sobre os melhores criadores, que já vislumbram um futuro com morfologias inéditas.
Além disso, em tempos de tanta volatilidade do capital, até a luz parece mais palpável.

com Vivian Whiteman



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