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EVENTO
"Encontros Improváveis" junta a dupla no palco do CCBB-SP e exibe vídeos gravados pelo músico com artistas da MPB
Macalé e Gil Gomes se unem como "jazzistas"
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REDAÇÃO
"Acho que vai ser como dois
músicos de jazz, cada um improvisando na sua linguagem." É
com essa improvável comparação
que Jards Macalé define o encontro que terá na noite de hoje, às
19h35, no teatro do CCBB, com o
jornalista policial Gil Gomes, célebre por suas reportagens (e sua locução característica) em programas como o finado "Aqui Agora".
A reunião da dupla, que encerra
a série "Encontros Improváveis"
neste ano, é bizarra sob qualquer
ótica: mistura um músico profissional com um repórter policial;
um notório esquerdista, perseguido pela ditadura, com um homem que, pelo menos no imaginário popular, é associado à direita da estirpe "bandido bom é bandido morto"; um "maldito" com
um "caçador de marginais".
"Você acha que pode sair morte?", pergunta o irônico Macalé.
Morte, não, mas talvez um assassinato musical? "De minha parte
não", garante o músico, que se diz
acostumado ao improviso. "Eu
sempre entro no palco sem saber
o que vai acontecer. Posso ter a espinha de um roteiro, mas, na hora, as coisas vão acontecendo. Então não vai ser novidade."
"Talvez o Gil Gomes cante
"Ronda" [que fala da "cena de sangue num bar da avenida São
João']", sugere, entre a brincadeira e a intenção real, Carlos Careqa, organizador do evento. Ele
consegue enxergar um ponto de
contato entre os dois convidados:
"Vi o Gil Gomes na TV e automaticamente o associei ao Macalé;
ele narra o submundo, a coisa do
hediondo; o Macalé também faz
música em cima disso".
Sobre a imagem "policial" do
repórter, Careqa desmistifica:
"Na TV, ele encarna um personagem. Conversei com ele, é uma
pessoa normal, inclusive no jeito
de falar. É boa gente". Macalé
também não teme a fera: "Vai ser
um encontro divertido, no mínimo. Se não, eu nem ia".
Se do improvável encontro não
se sabe ainda o resultado, a platéia
pode ir ao CCBB já sabendo, pelo
menos em parte, o que esperar do
evento: Jards Macalé vai levar para ser exibido um DVD que reúne
parte das oito horas de seus vídeos caseiros, gravados em Super-8, com momentos íntimos da
nata da MPB entre 1969 e 1989.
Isso, claro, se o músico se lembrar de trazer o DVD do Rio. "Ih,
rapaz, ainda bem que você me
lembrou, eu tinha esquecido disso! Tenho que procurar aqui",
surpreendeu-se o músico, ao ser
perguntado sobre o que seria o tal
DVD que o evento mostrará.
E pela explicação de Macalé, as
fitas guardam tesouros. Há cenas
dos concertos de Amsterdã e Paris, Gal Costa cantando em casa,
na época em que morou com Macalé, os ensaios da gravação do álbum "Transa", de Caetano Veloso, em Londres, reunindo Macalé,
Gilberto Gil e Caetano...
"Desde criancinha, quando eu
ganhei uma câmera fotográfica,
sou fascinado por registrar as coisas", explica o músico. "Quando
eu e Capinam fomos convidados
para o Festival das Selvas (69), em
Manaus, nós vimos as primeiras
câmeras Super-8, compramos e
saímos filmando. Era uma câmera na mão e nada na cabeça."
Entre os momentos antológicos, ele destaca a gravação do
show de lançamento do álbum "O
Banquete dos Mendigos" (74),
realizado na Quinta da Boa Vista,
no Rio, em 1979, após cinco anos
impedido pela censura. "Foi no
dia de Cosme e Damião, enchemos um caminhão com doces e
distribuímos", relembra Macalé.
ENCONTROS IMPROVÁVEIS. Onde:
CCBB-SP (r. Álvares Penteado, 112,
Centro, tel. 0/xx/11/3113-3651) Quando:
hoje, às 19h30. Quanto: R$ 6.
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