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ANÁLISE
Seriado tem alternativas ao padrão da TV
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na seqüência de programas
como "Brasil Legal", "Muvuca" e "Brasil Total", foi ao ar no
último sábado a mais nova versão
de uma linhagem de realizações
que busca revelar e promover encontros entre pessoas que não fazem parte do show business e que
pensam diferente.
"Tá Dominado" é o título do seriado de quatro programetes de
oito minutos que estreou no último sábado, como quadro do "Altas Horas", de Sérgio Groisman.
A série acompanha as aventuras
de Camila e Maíra, duas animadas moradoras do morro do Cantagalo, em encontros inusitados
em diversas regiões do Brasil. No
primeiro curta, as duas, negras,
vivazes dançarinas, grandes, ativas participantes de projetos culturais na comunidade, se encontraram com também animadas
"cowgirls", moças loiras e ricas da
goiana cidade de Rio Verde.
A interação revela por exemplo
os diferentes significados possíveis para o uso da palavra "vaca"
quando usada para caracterizar
uma mulher. O que é pejorativo
no Sudeste, no Oeste bovino ganha sentido altamente positivo.
A interação entre as meninas é
gravada e exibida para seus amigos do Cantagalo, que por sua vez
reagem diante da atuação das
duas apresentadoras. Algumas
dessas opiniões críticas são registradas e inseridas no curta, que
ganha assim diferentes níveis de
intervenção e interação.
A televisão corre o risco de ficar
jurássica se não explorar a flexibilidade que a tecnologia permite.
Elementos como rostos e corpos
que fogem aos padrões consagrados de beleza. Assuntos que não
se enquadram na pauta dos grandes acontecimentos nos bairros
centrais das principais cidades do
país e sotaques variados estão ausentes da programação convencional da TV.
"Tá Dominado" se insere em
uma seqüência de programas que
abre espaço para formar talentos
alternativos aos usuais estereótipos. Vale conferir a evolução das
meninas nos próximos sábados.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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