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crítica
CD impecável tira ouvinte de plano mediano
DA SUCURSAL DO RIO
A abertura de "Mar
de Sophia" com a
força de "Canto de
Oxum" (Toquinho/Vinicius de Moraes), em que
Maria Bethânia passa do
grave ritualístico para um
agudo idem (e raro em sua
carreira), já arranca o ouvinte do plano mediano e o
lança em algo maior e instável, como o mar. O jogo
está ganho, mas ela prossegue num CD impecável.
Os versos de Sophia de
Mello Breyner integram o
conjunto de rasgos curtos
e profundos, como são as
citações de Dorival Caymmi: "O Vento", "Cantiga da
Noiva" e "Canto de Nanã",
que fecha o círculo aberto
com o canto inicial.
Em 8 das 15 faixas, a percussão de Naná Vasconcelos é fundamental. Sem o
virtuosismo que o torna às
vezes maçante, ele reveste
o ambiente para a voz de
Bethânia navegar.
O peso ancestral fica explícito nas cirandas de domínio público e em duas
letras de Paulo César Pinheiro: "Iemanjá Rainha
do Mar", com melodia medieval de Pedro Amorim, e
"A Dona do Raio e do Vento", reverência a Iansã.
Em outro bom momento, Bethânia emenda "Debaixo d"Água", letra de Arnaldo Antunes sobre os
bons tempos do útero,
com "Agora", dos Titãs,
em eficiente tom rap. As
dores de amor emocionam
em "Floresta do Amazonas", de Villa-Lobos, "Lágrima", valsa do mestre do
samba-de-roda Roque
Ferreira, e "As Praias Desertas", de Tom Jobim.
"Pirata", embora também coeso, tem impacto
menor em momentos como "Eu que Não Sei Quase
Nada do Mar" (Ana Carolina/Jorge Vercilo). Mas há
"O Tempo e o Rio" (Edu
Lobo/Capinam), beleza
recorrente na discografia
de Bethânia, e a sofrida
"Os Argonautas", de Caetano. Também é dele "Onde Eu Nasci Passa um
Rio", aboio que Bethânia
não gravara. Agora a música está completa.
(LFV)
MAR DE SOPHIA
PIRATA
Artista: Maria Bethânia
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 39 cada, em média
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