São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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Crítica/rock

Morrissey encontra o sexo em bom disco

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pânico nas ruas de Roma!
Morrissey está feliz.
Mais lenha na fogueira: o mais celibatário dos vocalistas de rock anda cantando as alegrias do sexo e do amor, e não apenas como testemunha.
"Ringleader of the Tormentors", seu oitavo disco solo, ganha lançamento no Brasil e desmonta o mito de que a alegria é a morte dos artistas deprês. E, em se tratando de Morrissey, 47, que sempre viveu de transformar resmungos como "o céu sabe que eu sou um infeliz agora" em clássicos da música pop, e não uma mera confissão embaraçosa, o risco de termos um péssimo disco era alta.
Mesmo que esteja longe de figurar entre os seus melhores trabalhos e que musicalmente seja redundante, pouco marcante e traga mais do mesmo, "Ringleader" funciona. Confirma ainda que Morrissey exerce um fascínio digno de "reality show" sobre seus fãs, ou seja, sua vida pessoal, exposta em letras confessionais, tal qual um diário, é o que fascina.
Sendo assim, o disco registra uma fase de transição do cantor inglês. Após um período de ostracismo, em que já era considerado morto para a indústria, Morrissey retornou após sete anos com "You Are the Quarry"; breves dois anos depois lança este "Ringleader", que marca a troca de Los Angeles por Roma como casa e traz Tony Visconti, produtor que trabalhou com David Bowie quando este só fazia clássicos.
O ar quente de Roma fez o sangue de Morrissey circular abaixo da cintura, como ele descreve sem pudores já na segunda faixa, "Dear God Please Help me": "Há barris explosivos entre minhas pernas"; em "You Have Killed me", identifica-se com os cineastas Luchino Visconti e [Pier Paolo] Pasolini, ambos gays; o último, aliás, foi morto por um michê.
Para não falar que tudo está igual musicalmente, "Dear God" tem como atrativo arranjos de Ennio Morricone (autor de trilhas de filmes de Sergio Leone), enquanto um coro de criancinhas assombra "The Youngest Was the Most Loved" (sobre um garoto que se torna assassino; "não há nada normal na vida", canta) e "The Father Who Must Be Killed" (sobre uma infância traumatizada).
Mas, claro, Morrissey não será nunca um poço de felicidade -a busca pelo ser amado nunca termina. Ele encarna um personagem, e seus fãs gostam sempre de ver o mesmo filme.


RINGLEADER OF THE TORMENTORS    
Artista: Morrissey
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 30, em média


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