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Crítica/rock
Morrissey encontra o sexo em bom disco
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pânico nas ruas de Roma!
Morrissey está feliz.
Mais lenha na fogueira:
o mais celibatário dos vocalistas de rock anda cantando as
alegrias do sexo e do amor, e
não apenas como testemunha.
"Ringleader of the Tormentors", seu oitavo disco solo, ganha lançamento no Brasil e
desmonta o mito de que a alegria é a morte dos artistas deprês. E, em se tratando de Morrissey, 47, que sempre viveu de
transformar resmungos como
"o céu sabe que eu sou um infeliz agora" em clássicos da música pop, e não uma mera confissão embaraçosa, o risco de termos um péssimo disco era alta.
Mesmo que esteja longe de
figurar entre os seus melhores
trabalhos e que musicalmente
seja redundante, pouco marcante e traga mais do mesmo,
"Ringleader" funciona. Confirma ainda que Morrissey exerce
um fascínio digno de "reality
show" sobre seus fãs, ou seja,
sua vida pessoal, exposta em letras confessionais, tal qual um
diário, é o que fascina.
Sendo assim, o disco registra
uma fase de transição do cantor
inglês. Após um período de ostracismo, em que já era considerado morto para a indústria,
Morrissey retornou após sete
anos com "You Are the
Quarry"; breves dois anos depois lança este "Ringleader",
que marca a troca de Los Angeles por Roma como casa e traz
Tony Visconti, produtor que
trabalhou com David Bowie
quando este só fazia clássicos.
O ar quente de Roma fez o
sangue de Morrissey circular
abaixo da cintura, como ele
descreve sem pudores já na segunda faixa, "Dear God Please
Help me": "Há barris explosivos entre minhas pernas"; em
"You Have Killed me", identifica-se com os cineastas Luchino
Visconti e [Pier Paolo] Pasolini,
ambos gays; o último, aliás, foi
morto por um michê.
Para não falar que tudo está
igual musicalmente, "Dear
God" tem como atrativo arranjos de Ennio Morricone (autor
de trilhas de filmes de Sergio
Leone), enquanto um coro de
criancinhas assombra "The
Youngest Was the Most Loved"
(sobre um garoto que se torna
assassino; "não há nada normal
na vida", canta) e "The Father
Who Must Be Killed" (sobre
uma infância traumatizada).
Mas, claro, Morrissey não será nunca um poço de felicidade
-a busca pelo ser amado nunca
termina. Ele encarna um personagem, e seus fãs gostam
sempre de ver o mesmo filme.
RINGLEADER OF THE TORMENTORS
Artista: Morrissey
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 30, em média
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