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Salgado compila suas viagens à África
Fotógrafo reúne cerca de 300 imagens feitas ao longo de 30 anos no continente e apresenta pela primeira vez fotos de natureza
Sebastião Salgado prepara oito livros com 30 grandes reportagens sobre o planeta; regiões do Brasil serão tema de três delas
Sebastião Salgado/Amazonas Images
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Imagem de "África": membro do grupo Dinka em um pasto no sul do Sudão em 2006; Salgado, que esteve no continente pela primeira vez em 1971, diz que livro é reaproximação com seu trabalho
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
O continente africano sempre esteve na rota do fotógrafo
Sebastião Salgado. Em 1971,
ainda economista da Organização Internacional do Café, ele
foi a Ruanda pela primeira vez.
Voltaria ao país em outras
ocasiões. Em 1991, já com fama
internacional, ele fotografou
plantações de chá, parte de um
projeto comunitário, cujo início teve sua participação 20
anos antes; em 1995, registrou a
destruição desses campos e os
horrores do genocídio que matou mais de 800 mil pessoas; e,
em 2004, retratou gorilas e vulcões. Tudo captado em um perímetro de apenas 50 km.
Cerca de 300 imagens como
essas, feitas ao longo de 30 anos
de carreira, integram "África",
o novo trabalho do mais conhecido fotógrafo brasileiro.
"O livro conta um pouco minha história, porque comecei a
fotografar na África e, como escrevo na introdução, dedico-o a
um amigo. É um pedaço da minha história, mesmo antes de
ser fotógrafo", conta.
A dedicatória é para Joseph
Munyankindi, um hutu que
Salgado conheceu naquela primeira viagem a Ruanda, assassinado em 1994.
Em entrevista à Folha, por
telefone, de Paris, Salgado dimensiona o significado da África em sua trajetória. "O continente foi muito importante na
minha fotografia. De certa forma, o livro é uma reaproximação com tudo o que fiz lá. O fato
de trabalhar com Mia Couto
[escritor que assina os textos],
meu contemporâneo de trabalho na época da chegada da
Frelimo [Frente de Libertação
de Moçambique] ao poder, é
outra razão para fazê-lo."
Moçambique está entre as
experiências com bons resultados que Salgado testemunhou.
"Foi o único projeto das Nações Unidas de uma negociação
de paz que deu certo. O acordo
entre a Frelimo e a Renamo
[Resistência Nacional Moçambicana] funcionou bem."
O trabalho de Salgado ganhou projeção por levar ao
mundo imagens de miséria e
violência de lugares marcados
por guerras e tragédias naturais. Em um perfil publicado na
revista "New Yorker", em
2005, o Amazon Images, escritório do fotógrafo em Paris, foi
definido como uma filial solo
da ONU, o que ele refuta. "É o
ponto de vista do repórter. Claro que trabalhamos com uma
grande quantidade dessas instituições, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o Unicef e a
Organização Mundial da Saúde", enumera. "Mas você não
pode dizer que essas coisas, sozinhas, vão provocar mudanças. Elas fazem parte de um
grupo de coisas que acontecem
juntas. É um dos segmentos
que levam à modificação."
Por outro lado, Salgado é criticado por glamourizar a miséria em suas imagens. "É o ponto de vista deles [críticos]. O
crítico nunca foi onde o fotógrafo foi, nunca viu o que ele
viu. Tenho meu estilo. Algumas
pessoas gostam, e outras, não."
Em "África", pela primeira
vez Salgado apresenta fotos de
natureza.
"Não tem diferença nenhuma [fotografar gente e animais]. Tem que respeitar o bicho como se respeita o homem,
saber como se aproximar. Com
as paisagens é mais ou menos a
mesma coisa, há uma certa dignidade nelas."
As novas temáticas ampliaram seu trabalho. "Elas abriram uma nova fotografia na
minha vida."
"Genesis"
As fotografias de natureza fazem parte de "Genesis", oito livros com 30 reportagens sobre
o planeta. Algumas dessas imagens estão em "África".
"Já destruímos 54% do planeta e ainda temos 46% relativamente intactos, que são as
partes mais difíceis de destruir,
como os grandes desertos e as
terras muito frias", diz.
"Estou buscando mostrar
que ainda convivemos com o
gênese e que temos que preservá-lo. Pensamos em fazer uma
exposição ao ar livre, criar um
livro para o grande público, que
seja relativamente barato." O
Brasil será tema de pelo menos
três dessas reportagens, com o
Alto Xingu, Amazonas e Pantanal. "Criamos também um projeto educacional que testamos
no Brasil e que está sendo aplicado na Espanha e na Itália."
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