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ANÁLISE
Vida animal ganha espaço na televisão
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Documentários sobre a vida animal abundam na TV
nos mais variados horários e
emissoras -dos canais da TV paga à Globo. Em certo sentido o sucesso desses programas pode ser
interpretado como expressão de
uma demanda avessa à profusão
do sensacionalismo.
Enlatados, "frios", convencionais na sua forma narrativa, esses
filmes encarnam muitos dos atributos da TV educativa, não comercial e "chata", supostamente
enterrada por modelos mais atentos às expectativas da audiência.
Contra todos os prognósticos,
filmes dedicados ao cotidiano de
espécies animais específicas, pouco conhecidas, habitantes de regiões remotas sobreviveram e se
multiplicaram.
Os diversos canais a cabo especializados em natureza, difusores
de programação gerada e processada em matrizes estrangeiras são
nichos naturais para esses programas.
Esses canais correm em faixa
própria. Mas o espaço que consolidaram no mercado aumenta. O
Discovery Channel lança coleções
de documentários em DVD.
O Animal Planet anunciou recentemente, em grande estilo, o
início de uma série sobre os mamíferos.
Mas o gênero ganha espaço
também na TV aberta. A Cultura
mantém uma faixa fixa, no horário nobre, dedicada à programação do National Geographic.
A emissora exibe também outros títulos, como "Planeta Terra"
(dom., 13h e 23h), ou "Expedições" (dom., 19h30), uma das
poucas produções independentes
nacionais no gênero natureza.
A evidência maior da popularidade do tema é a exibição semanal no "Fantástico" (Globo, dom.,
20h30) de seriados dedicados à vida animal, do fundo do mar, à onça-do-mato.
Surpreende que o interesse público não tenha estimulado alguma renovação no gênero. A fórmula pouco mudou desde o início
da década de 70, quando o advento de poderosas lentes permitiram que cinegrafistas estrategicamente posicionados registrassem
os primeiros close-ups de pássaros em pleno vôo.
Imagens privilegiadas de animais surpreendidos em seu habitat natural, por câmeras ocultas,
são em geral "explicadas" por
narradores, cuja voz sobreposta
procura aproximar o comportamento "selvagem" dos códigos
humanos.
Nos melhores momentos, a beleza do vôo das aves ou do movimento de determinado cardume é
realçada por uma trilha sonora
grandiosa. Aqui os filmes de natureza parecem alcançar o que o espectador busca neles. Esse desejo
de beleza, não encontrável nas cidades dos homens, pede vôos
maiores na representação da natureza.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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