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Crítica/"Novos Olhares Vol. 1"
Poesia conduz "Acidente"
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Heliodora, virgem da
Lapa, espera feliz Jacinto: olhos d'água.
A frase acima, que reúne os
nomes de cinco cidades de Minas Gerais, corresponde em
forma de prosa à primeira das
três partes do poema montado
por "Acidente" a partir desses e
de outros 15 municípios mineiros. Primeiro, o verbo: cada segmento desse ensaio poético é aberto pelo nome do lugar. Sugestivos, todos: Ferros, Vazante, Fervedouro, Pai Pedro.
O jogo inicial de associações,
que deságua no poema, se alimenta do significado imediato
das palavras.
Depois, vêm as imagens. Algumas, sugeridas pelas cidades:
a linha do horizonte introduz
Planura, um engraxate cego de
Passos apela a Deus, um rodeio
movimentado se dá em Tiros,
azulejos rubros apresentam
Águas Vermelhas.
Outras conexões são puramente visuais -cabelos que se
confundem com a vegetação-
ou sonoras: o amanhecer em
Descoberto é uma melodia que
combina a tosse de uma mulher, o cantar de um galo e a
descarga de um vaso sanitário.
Não haverá esforço de legendagem capaz de traduzir a história e a dinâmica das palavras quando "Acidente" for exibido
na mostra competitiva internacional de documentários do
Festival Sundance (EUA), que
terá início em 18 de janeiro.
Será mais fácil se deixar levar
por algo de entendimento mais
universal, a idéia de mineirice
(e de brasilidade interiorana)
de que se ocupam os diretores
Cao Guimarães e Pablo Lobato:
um certo tempo, um certo jeito,
uma certa luz.
Artista plástico baseado em
Belo Horizonte, Guimarães
realiza há dez anos filmes experimentais que já haviam se inspirado em Minas e sua gente,
como "A Alma do Osso" (2004),
vencedor do É Tudo Verdade, e
"O Andarilho" (2006), exibido
na Bienal de São Paulo.
Em "Acidente", o registro é o
da homenagem baseada na observação do dia-a-dia em busca
do que a câmera consegue revelar para além do olhar cotidiano e apressado.
Documentário
com elementos de ficção, e às
vezes ficção com um ponto de
partida documental. Híbrido
porque contemporâneo.
Integrante do programa
DOCTV, o filme é lançado agora em um pacote, batizado de
"Novos Olhares", que reúne
"Paraíso", de Marco Antonio
Ribeiro, Fernando Uehara e
Caetana Britto, sobre vestígios
da memória de diversos personagens, e "As Vilas Volantes - O
Verbo contra o Vento", de Alexandre Veras, sobre antigos
pescadores cujas práticas já
não existem.
NOVOS OLHARES VOL. 1
Quanto: R$ 99, em média (preço unitário: R$ 39,50); vendas pelo site
www.culturamarcas.com.br
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