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Museu alemão mantém artistas no anonimato
Ninguém sabe quem são os autores dos trabalhos e os curadores da exposição "No Futuro Ninguém Será Famoso", em Frankfurt
11 participantes de renome internacional (quem serão?) toparam expor ocultando a identidade; idéia é eliminar os preconceitos do público
SILVIA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE
FRANKFURT
"No Futuro Ninguém Será
Famoso." Com um título programático, em tom de manifesto, uma exposição recém-inaugurada no Museu Schirn, em
Frankfurt, apresenta até janeiro obras de 11 artistas internacionais famosos, mas que concordaram permanecer anônimos para o evento.
Além do nome dos artistas,
ao visitante também é negada
qualquer informação sobre a
origem e o currículo deles, assim como as obras ali expostas:
desenhos, fotos e esculturas,
por exemplo. Também é desconhecido do público o nome do
curador ou curadora do evento.
"Trata-se de uma experiência", afirmou Max Hollein, diretor do Schirn, na inauguração. "A exposição questiona o
que acontece com a obra de arte quando ela se liberta de sua
autoria. O visitante fica com a
difícil missão de avaliar a obra
segundo critérios imanentes,
desconhecendo o nome e a vida
do artista", acrescentou.
Um "Manifesto da Anonimidade" ali exposto também mostra se tratar de uma espécie de
protesto contra o "establishment" artístico. Ele critica a influência do mercado sobre o
processo de criação e a "utilização dos artistas como marcas".
O mesmo vale, na opinião de
Hollein, para os curadores.
"Muitos se tornaram empresários, dirigindo com seus nomes
as linhas de recepção. A obra de
arte acabou em segundo plano,
perdendo seu potencial subversivo", acrescentou.
Foi neste contexto que surgiu a idéia de uma exposição de
anônimos. "Não se trata apenas
de eliminar o nome do artista,
mas sim os preconceitos que o
público traz quando aprecia
uma obra", diz o curador ou curadora do evento, numa entrevista (anônima) publicada no
catálogo da exposição. "Os visitantes devem formar sua própria opinião, sem serem manipulados por textos jornalísticos, críticas e catálogos."
Já na entrada da exposição o
público percebe que será deixado literalmente às escuras. Devagar o visitante tem que atravessar corredores escuros, em
forma de labirinto, até desembocar em salas, onde cada obra
recebe iluminação especial.
Um grupo de alunos de ginásio aprecia, por exemplo, três
canoas penduradas. "Sem saber
quem é o autor, para cada obra
a gente tem mil perguntas",
afirma um dos adolescentes.
Palpites
Nenhum visitante questionado pela Folha arriscou adivinhar a autoria das obras ali expostas. "Acho que a gente nem
tem que adivinhar. Só apreciar
mesmo", disse a estudante universitária Anna Baur.
Nem os críticos dos principais jornais alemães ousaram
citar artistas que pudessem ter
participado dessa "experiência" no Schirn. Apenas Gerd
Döring, colaborador de um site
de Frankfurt, afirmou que alguns trabalhos expostos lembram obras dos fotógrafos
Thomas Demand, da Alemanha, e Jeff Wall, do Canadá.
Quem procura informações
no catálogo da exposição também nada encontra. Em vez de
guiar o visitante pelos trabalhos, o catálogo é mais uma
reunião de textos (estes, sim,
assinados) e fotos, chamando a
atenção para "possibilidades
infinitas" de anonimidade.
"Exercitar a anonimidade",
aliás, é um dos objetivos do
evento, segundo o diretor do
projeto, Matthias Ulrich. Além
de confrontar o público com
obras anônimas, a exposição
transcende suas salas escuras.
Um folheto distribuído na entrada, por exemplo, sugere ao
visitante um passeio pelos arredores do Schirn, chamando a
atenção para detalhes nas ruas.
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