São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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Museu alemão mantém artistas no anonimato

Ninguém sabe quem são os autores dos trabalhos e os curadores da exposição "No Futuro Ninguém Será Famoso", em Frankfurt

11 participantes de renome internacional (quem serão?) toparam expor ocultando a identidade; idéia é eliminar os preconceitos do público

SILVIA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE FRANKFURT

"No Futuro Ninguém Será Famoso." Com um título programático, em tom de manifesto, uma exposição recém-inaugurada no Museu Schirn, em Frankfurt, apresenta até janeiro obras de 11 artistas internacionais famosos, mas que concordaram permanecer anônimos para o evento.
Além do nome dos artistas, ao visitante também é negada qualquer informação sobre a origem e o currículo deles, assim como as obras ali expostas: desenhos, fotos e esculturas, por exemplo. Também é desconhecido do público o nome do curador ou curadora do evento.
"Trata-se de uma experiência", afirmou Max Hollein, diretor do Schirn, na inauguração. "A exposição questiona o que acontece com a obra de arte quando ela se liberta de sua autoria. O visitante fica com a difícil missão de avaliar a obra segundo critérios imanentes, desconhecendo o nome e a vida do artista", acrescentou.
Um "Manifesto da Anonimidade" ali exposto também mostra se tratar de uma espécie de protesto contra o "establishment" artístico. Ele critica a influência do mercado sobre o processo de criação e a "utilização dos artistas como marcas".
O mesmo vale, na opinião de Hollein, para os curadores. "Muitos se tornaram empresários, dirigindo com seus nomes as linhas de recepção. A obra de arte acabou em segundo plano, perdendo seu potencial subversivo", acrescentou.
Foi neste contexto que surgiu a idéia de uma exposição de anônimos. "Não se trata apenas de eliminar o nome do artista, mas sim os preconceitos que o público traz quando aprecia uma obra", diz o curador ou curadora do evento, numa entrevista (anônima) publicada no catálogo da exposição. "Os visitantes devem formar sua própria opinião, sem serem manipulados por textos jornalísticos, críticas e catálogos."
Já na entrada da exposição o público percebe que será deixado literalmente às escuras. Devagar o visitante tem que atravessar corredores escuros, em forma de labirinto, até desembocar em salas, onde cada obra recebe iluminação especial.
Um grupo de alunos de ginásio aprecia, por exemplo, três canoas penduradas. "Sem saber quem é o autor, para cada obra a gente tem mil perguntas", afirma um dos adolescentes.

Palpites
Nenhum visitante questionado pela Folha arriscou adivinhar a autoria das obras ali expostas. "Acho que a gente nem tem que adivinhar. Só apreciar mesmo", disse a estudante universitária Anna Baur.
Nem os críticos dos principais jornais alemães ousaram citar artistas que pudessem ter participado dessa "experiência" no Schirn. Apenas Gerd Döring, colaborador de um site de Frankfurt, afirmou que alguns trabalhos expostos lembram obras dos fotógrafos Thomas Demand, da Alemanha, e Jeff Wall, do Canadá.
Quem procura informações no catálogo da exposição também nada encontra. Em vez de guiar o visitante pelos trabalhos, o catálogo é mais uma reunião de textos (estes, sim, assinados) e fotos, chamando a atenção para "possibilidades infinitas" de anonimidade.
"Exercitar a anonimidade", aliás, é um dos objetivos do evento, segundo o diretor do projeto, Matthias Ulrich. Além de confrontar o público com obras anônimas, a exposição transcende suas salas escuras. Um folheto distribuído na entrada, por exemplo, sugere ao visitante um passeio pelos arredores do Schirn, chamando a atenção para detalhes nas ruas.


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