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Arte latina vive fase excepcional em Nova York
Um dos maiores museus do mundo, MoMa apresenta 200
obras de artistas contemporâneos da América Latina
Exposição, elogiada pela
crítica, traz peças dos
brasileiros Hélio Oiticica,
Lygia Pape, Mira Schendel,
Alfredo Volpi e Vik Muniz
EDUARDO GRAÇA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
Pela primeira vez em 40
anos, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) apresenta uma retrospectiva exclusivamente dedicada a obras de
arte latino-americana adquiridas pela instituição.
Reunindo 200 peças -entre
pinturas, esculturas, desenhos,
gravuras, fotografias e instalações- incorporadas ao acervo
do museu na última década (a
partir de 1996), "New Perspectives in Latin American Art"
ocupa dois andares do prédio
da rua 53 até fevereiro do ano
que vem e é o exemplo mais gritante do excepcional momento
em que vive, nos Estados Unidos, a arte moderna e contemporânea produzida na região.
Até o próximo dia 8, a Grey
Art Gallery da Universidade de
Nova York (NYU) está ocupada
pelos destaques da coleção de
arte latino-americana da venezuelana Patrícia Phelps de Cisneros (mulher de Gustavo Cisneros, uma das maiores fortunas do continente).
E a primeira feira dedicada
exclusivamente à arte contemporânea latino-americana em
Nova York, a Pinta, ocupou por
cinco dias de novembro o Metropolitan Pavillion, na rua 18.
Um dos conselheiros informais de Cisneros é justamente
o idealizador de "New Perspectives", Luiz Pérez-Oramas, que
no ano passado se tornou o primeiro curador de arte latino-americana do MoMA, o único
cargo do museu definido por limites geográficos, e não por
vertente artística.
"Há algo singular em relação
à arte moderna na América Latina. Os latino-americanos jamais negaram a concepção do
objeto e se afastaram da idéia
de desmaterialização da arte,
tão intensa na realidade anglo-saxônica. A produção de objetos como conceitos sem dúvida
fascina o espectador norte-americano", diz.
Brasil
Uma das salas mais impressionantes da mostra é a que dispõe, frente a frente, a "Caixa-Bólido 12 Arqueológica", de
Hélio Oiticica, e o "Livro da
Criação", de Lygia Pape.
Entre os destaques brasileiros, estão obras de Mira Schendel (que em 2009 será tema da
exposição, também no MoMA,
"Leon Ferrari & Mira Schendel: Written Paintings/Objects
of Silence"), Lygia Clark, Alfredo Volpi, Waltercio Caldas e
Cildo Meirelles. Os dois últimos são exceções em uma mostra que excluiu a arte mais política dos anos de chumbo.
Aquisições
O período em que o MoMA
menos adquiriu obras de artistas da América Latina foram as
décadas de 70 e 80, em que as
ditaduras militares sufocaram
a região.
"Ironicamente, trata-se da
época em que as populações
desses países migraram para os
Estados Unidos de forma mais
intensa. Ouso dizer que nenhuma instituição cultural norte-americana prestou atenção à
arte da América espanhola e
portuguesa nesse período.
Queremos começar a mudar
esse quadro", diz o venezuelano Pérez-Oramas.
Roberta Smith, severa crítica
de arte do "The New York Times", teceu loas à mostra, que
considerou riquíssima e com
excelente seleção de obras (incluindo trabalhos do uruguaio
Joaquín Torres-García, dos argentinos Xul Solar e Leon Ferrari e dos venezuelanos Rafael
Soto, Gerd Leufert e Gego), indo além da exposição da NYU
ao apresentar exemplos de produção mais recente da região.
Dos artistas brasileiros pós-80 destacam-se em "New Perspectives" José Damasceno,
Leonilson, Iran do Espírito
Santo, Anna Maria Maiolino,
Ernesto Neto e Vik Muniz, que
comparece com nove obras, entre elas a imensa fotografia
"Narcissus, after Caravaggio",
de 2005, parte da série "Pictures of Junk", instalada na sala
de entrada do segundo andar
do museu. "A escolha dessa
obra do Vik mostra que estamos, aqui, olhando para nós
mesmos. A exposição é um
grande espelho, uma conversa
sobre o que se faz nos EUA e na
América Latina neste exato
momento. Ela pretende ajudar
o espectador a entender a arte
contemporânea como um todo,
a partir de sua manifestação latino-americana", diz o curador.
O acervo de arte latino-americana do MoMA -com 3.591
obras (600 adquiridas na última década)- é considerado
por especialistas o mais compreensivo dedicado à região no
planeta.
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