São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2010

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CRÍTICA ERUDITO

"A Viúva Alegre" reúne sucessão de festas

Montagem primorosa da obra de Franz Lehár encerra a atual temporada da Orquestra do Theatro São Pedro


GABRIELLA PACE ENCARNOU O PAPEL TÍTULO COM VERSATILIDADE E ELEGÂNCIA


SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Não é só Hanna, a viúva rica, que é "alegre" na opereta vienense "A Viúva Alegre", de Franz Lehár (1870-1948), em cartaz até domingo no Theatro São Pedro.
A alegria perpassa até mesmo os momentos em que tudo ameaça desandar na embaixada parisiense de Pontevedro -país fictício onde é natural a fusão de polcas, valsas e marchas austríacas com canções de cabaré francês.
Com direção cênica primorosa de William Pereira, a ação é uma sucessão de festas: começa com um brinde que deságua em baile no primeiro ato (dominado pelo preto e branco), cai na festa nos jardins da mansão de Hanna no segundo ato (com predomínio de tons azulados) e segue para a festa do terceiro ato (vermelho), que reproduz os salões do cabaré Maxim's.
O próprio Lehár, que mais tarde seria condecorado por Hitler, regeu a estreia de sua obra em dezembro de 1905 no Theater an der Wien. Poucos dias antes, Gustav Mahler (1860-1911), então diretor da Ópera de Viena, havia apresentado o "Don Govanni", de Mozart (1756-1791).
Na estreia da atual montagem da Orquestra do Theatro São Pedro, sob a direção de Emiliano Patarra, seu regente titular, Gabriella Pace encarnou o papel título com versatilidade e elegância, contracenando com o competente e engraçadíssimo barítono Pedro Ometto (que interpreta Danilo).
Saulo Javan saiu-se bem como Baron, mas os destaques vocais foram Edna D'Oliveira (como Valencienne) e Miguel Geraldi (Camille): vozes cristalinas, encorpadas, sempre por cima da orquestra, precisão nas entradas.
O dueto do segundo ato de "A Viúva Alegre" foi o ponto culminante do espetáculo.
Coro (preparado por Teresa Longatto) ótimo, inclusive cenicamente, e orquestra boa: cordas coesas, a caminho do equilíbrio fino entre naipes. Algumas vezes transpareceu certa ansiedade, o que é normal em uma estreia.
Funcionou a ideia de manter o canto em alemão e os trechos falados em português, permitindo agilidade na narrativa. A falta de contraste, no entanto, dificultou a leitura das legendas.
Há muito o que aprender com "A Viúva Alegre", sobretudo se a colocamos em uma perspectiva histórica.
E é difícil não desconfiar dessa alegria leve e festiva: afinal, a quase milenar dinastia de Habsburgo estava, àquela altura, prestes a desmoronar, ao mesmo tempo em que Sigmund Freud (1856-1939) -que vivia e trabalhava em Viena- publicava os "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade".

A VIÚVA ALEGRE

QUANDO hoje, às 20h30; sáb. e dom., às 17h; até domingo
ONDE Theatro São Pedro (r. Barra Funda, 171, tel. 0/xx/11/ 3667-0499)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 8 anos
AVALIAÇÃO bom


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