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CINEMA
"Une por Toutes", filme do diretor, estreou em Paris
Lelouch lança versão feminina atípica dos três mosqueteiros
FÁTIMA GIGLIOTTI
de Paris
Quem, senão ele, poderia lançar
um filme no dia 1º de janeiro de
2000, sábado, quando todas as estréias nas salas de cinema da
França acontecem às quartas?
E quem poderia lançar um filme
que, entre tantos tempos, também é narrado na noite do réveillon e no próprio dia 1º?
O autor do feito é o mais publicitário dos cineastas franceses,
Claude Lelouch, obviamente, diretor de "Retratos da Vida"
(1981), filme que ainda mantém
um dos recordes de exibição nos
cinemas brasileiros: ficou mais de
um ano em cartaz.
Considerado um dos pais do videoclipe, filmou "Um Homem,
uma Mulher" (1966), com Anouk
Aimée e Jean-Louis Trintignant,
em ritmo de comercial, operando
a própria câmera, e ganhou a Palma de Ouro em Cannes."Os primeiros 20 minutos do filme narram fatos que acontecem na passagem para o ano 2000, eu pensei
nisso antes mesmo de começar a
escrever o roteiro. Eu queria que
as pessoas que fossem ver o filme
no dia 1º vivessem ao mesmo
tempo a história na tela e esse momento inesquecível da nossa vida", disse Lelouch.
Depois dessa declaração, os responsáveis pela publicidade do filme devem ter se esforçado muito
para se igualar ao diretor. Mas
nem precisaram ter muito trabalho na divulgação da obra. O cartaz do filme, com cinco lindas
mulheres fotografadas na turística praça da Concórdia, no centro
de Paris, pelo fotógrafo Jean-Marie Perier, já dá conta do recado.
Uma delas, aliás, Alessandra
Martines, é a atual esposa de Lelouch, que continua assim a tradição de se casar com as atrizes que
escolhe para seus roteiros.
"Une pour Toutes" (Uma por
Todas) é um filme típico de Lelouch. Há a câmera na mão, o vai-e-vem do tempo narrativo, as
muitas histórias paralelas e as irônicas auto-referências, marca da
obra mais recente do cineasta.
Segundo o próprio Lelouch, esse seu 37º filme é uma espécie de
"versão feminina" de "A Aventura É uma Aventura" (1972), uma
de suas produções mais famosas,
estrelada por Jacques Brel e Lino
Ventura. Mas também pode ser
uma versão feminina da aventura
dos três mosqueteiros, inflacionada para cinco "mosqueteiras", como fica evidente no título.
Lelouch contou que teve a idéia
para o filme voando em um Concorde. Sua vizinha de poltrona,
uma passageira muito chique, lhe
disse que viajava no supersônico
para caçar milionários. Verdade
ou mais um golpe de publicidade?
Pouco importa. O que importa
mesmo é que Claude Lelouch, 62,
mais de 40 anos de cinema, ainda
tem a coragem de não levar a sério
a si mesmo nem o cinema francês.
Num dos diálogos de "Une
pour Toutes", um produtor de cinema que está na cadeia diz ao
amigo que vem lhe pedir conselhos para escrever um roteiro: "O
que faz a força do cinema americano é contar histórias simples
com muito dinheiro. Os franceses
contam histórias complicadas
com pouco dinheiro".
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