São Paulo, Terça-feira, 04 de Janeiro de 2000


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CINEMA
"Une por Toutes", filme do diretor, estreou em Paris
Lelouch lança versão feminina atípica dos três mosqueteiros


FÁTIMA GIGLIOTTI
de Paris

Quem, senão ele, poderia lançar um filme no dia 1º de janeiro de 2000, sábado, quando todas as estréias nas salas de cinema da França acontecem às quartas?
E quem poderia lançar um filme que, entre tantos tempos, também é narrado na noite do réveillon e no próprio dia 1º?
O autor do feito é o mais publicitário dos cineastas franceses, Claude Lelouch, obviamente, diretor de "Retratos da Vida" (1981), filme que ainda mantém um dos recordes de exibição nos cinemas brasileiros: ficou mais de um ano em cartaz.
Considerado um dos pais do videoclipe, filmou "Um Homem, uma Mulher" (1966), com Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant, em ritmo de comercial, operando a própria câmera, e ganhou a Palma de Ouro em Cannes."Os primeiros 20 minutos do filme narram fatos que acontecem na passagem para o ano 2000, eu pensei nisso antes mesmo de começar a escrever o roteiro. Eu queria que as pessoas que fossem ver o filme no dia 1º vivessem ao mesmo tempo a história na tela e esse momento inesquecível da nossa vida", disse Lelouch.
Depois dessa declaração, os responsáveis pela publicidade do filme devem ter se esforçado muito para se igualar ao diretor. Mas nem precisaram ter muito trabalho na divulgação da obra. O cartaz do filme, com cinco lindas mulheres fotografadas na turística praça da Concórdia, no centro de Paris, pelo fotógrafo Jean-Marie Perier, já dá conta do recado.
Uma delas, aliás, Alessandra Martines, é a atual esposa de Lelouch, que continua assim a tradição de se casar com as atrizes que escolhe para seus roteiros.
"Une pour Toutes" (Uma por Todas) é um filme típico de Lelouch. Há a câmera na mão, o vai-e-vem do tempo narrativo, as muitas histórias paralelas e as irônicas auto-referências, marca da obra mais recente do cineasta.
Segundo o próprio Lelouch, esse seu 37º filme é uma espécie de "versão feminina" de "A Aventura É uma Aventura" (1972), uma de suas produções mais famosas, estrelada por Jacques Brel e Lino Ventura. Mas também pode ser uma versão feminina da aventura dos três mosqueteiros, inflacionada para cinco "mosqueteiras", como fica evidente no título.
Lelouch contou que teve a idéia para o filme voando em um Concorde. Sua vizinha de poltrona, uma passageira muito chique, lhe disse que viajava no supersônico para caçar milionários. Verdade ou mais um golpe de publicidade?
Pouco importa. O que importa mesmo é que Claude Lelouch, 62, mais de 40 anos de cinema, ainda tem a coragem de não levar a sério a si mesmo nem o cinema francês.
Num dos diálogos de "Une pour Toutes", um produtor de cinema que está na cadeia diz ao amigo que vem lhe pedir conselhos para escrever um roteiro: "O que faz a força do cinema americano é contar histórias simples com muito dinheiro. Os franceses contam histórias complicadas com pouco dinheiro".


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