São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2008

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Poderoso Allen

Livro lançado nos EUA reúne entrevistas feitas durante 36 anos como cineasta de "Manhattan" e "Scoop"

Albert Olivé - 1º.jan.2008/Efe
Woody Allen, 72, toca clarinete em show em Barcelona em turnê com a New Orleans Jazz Band


SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Na primavera de 1971, Eric Lax foi convidado pela revista dominical do "The New York Times" a desenvolver um perfil de Woody Allen, então com 35 anos, autor de duas peças de sucesso na Broadway ("Don't Drink the Water" e "Sonhos de um Sedutor") e diretor de dois filmes ("Um Assaltante Bem Trapalhão" e "Bananas").
A entrevista inicial, em Nova York, foi um desastre. "Ele parecia desconfortável e tímido, e eu, novato em jornalismo, estava nervoso por falar com alguém cujo trabalho admirava", recorda Lax. Seis meses depois, eles se reencontraram em Los Angeles durante as filmagens de "Sonhos de um Sedutor".
Em seguida, Lax acompanhou a realização de "Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (Mas Tinha Medo de Perguntar)". Azar de principiante: quando o perfil estava pronto, a revista "Time" soltou matéria de capa sobre o cineasta, o "Times" derrubou a pauta, e Lax enviou o texto não-publicado a Allen, com um pedido de desculpas pelo tempo perdido.
"Sinta-se à vontade para passar pela minha sala de montagem quando quiser", respondeu o cineasta. Desde então, é o que Lax tem feito. Suas entrevistas com Allen durante 36 anos -que deram origem aos livros "On Being Funny" (1975), inédito no Brasil, e "Woody Allen" (1991), da Companhia das Letras- estão reunidas em "Conversations with Woody Allen" (ed. Alfred A. Knopf; US$ 20, cerca de R$ 35, mais taxas, em www.amazon.com; 394 págs.).
Organizadas por temas, as conversas cobrem sua carreira no cinema, além de teatro, música, literatura e filmes de outros cineastas. A seguir, trechos da entrevista que Lax concedeu à Folha, por e-mail, de Los Angeles, onde mora e atua como diretor do clube de escritores International PEN.

 

FOLHA - Desde 1971, quais as principais mudanças na maneira de Woody Allen encarar os próprios filmes e o cinema?
ERIC LAX
- Ele teve o objetivo de se mover entre comédias e filmes dramáticos. Sua maneira de pensar a respeito de seus filmes e do cinema em geral não mudou muito. Ele prefere assistir a dramas do que a comédias, a filmes europeus do que a norte-americanos (em sua maioria) e continua, ano a ano, a realizar os filmes que sente serem aqueles que mais fortemente precisa fazer.

FOLHA - Como avalia seu trabalho recente?
LAX
- Com "Match Point" (2005), ele atingiu a meta de realizar um filme dramático que fosse satisfatório tanto para ele quanto para o público. Seus diversos filmes longe de Nova York -três em Londres e, mais recentemente, um em Barcelona- deram outra aparência à sua obra. Ele gosta de trabalhar na Europa porque tem inteira liberdade para fazer o que quer. É agradável vê-lo ali. Depois de tantos filmes, ele usou virtualmente todos os atrativos visuais que Nova York tinha a oferecer.

FOLHA - Ainda o considera um dos principais cineastas norte-americanos em atividade?
LAX
- E como. Ele concluiu um filme por ano durante quatro décadas. A amplitude e a alta qualidade de sua obra são impressionantes por qualquer critério de avaliação no qual possamos pensar.

FOLHA - Quais as suas impressões pessoais sobre ele?
LAX
- O homem é muito diferente da persona que vemos no cinema, ainda que se vista exatamente da mesma forma e fale daquele jeito. Tem controle total sobre ele mesmo e seu trabalho e sabe muito bem o que quer fazer, ao contrário de seus personagens. É um homem inteligente, em boa parte autodidata, com um amplo leque de interesses literários e filosóficos. Woody fala a respeito de como um artista não pode ser guiado por críticos ou por ninguém mais, mas apenas pela sua própria visão. De um modo cômico, nós o vimos defendendo essa idéia em "Tiros na Broadway", no qual um jovem simpático com grandes aspirações artísticas percebe que não é, em absoluto, um artista.


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