São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2008

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Música - Crítica/"The Biggest Bang"

Caixa de DVDs revela medos e ambições dos Stones no Rio

Edição especial mostra temor da banda com a grandiosidade do show em Copacabana

André Sarmento/Folha Imagem
Imagem do vocalista dos Rolling Stones, Mick Jagger, projetada em telão durante show em Copacabana, no Rio, em 2006


MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando se fala de Rolling Stones nos dias de hoje, é comum ver gente falando de uma banda/empresa gananciosa, que não soube o momento de parar, movida pela vontade de fama e dinheiro do líder, Mick Jagger. Há no mínimo 20 anos, toda vez que surge um lançamento da "Stones Ltda.", a dúvida é se ainda há rock'n'roll ali.
Desta vez, o pretexto é a segunda caixa de quatro DVDs que a banda lança neste século. "The Biggest Bang" documenta a última turnê dos ingleses, com o enorme show da praia de Copacabana, em 2006.
A extravagância domina o segundo disco e boa parte do documentário do quarto. No primeiro, está registrado um concerto no Texas; no terceiro, trechos de shows no Japão, o primeiro show da história do grupo na China e um show na Argentina -que a banda reconhece como o público mais insano que viu. É, amigo...
Copacabana é o momento em que os Stones mostram mais medo. Jagger manifesta preocupação em relação ao interesse do público; chega a duvidar de que o público possa chegar a 1 milhão. Bom empresário, ele já sabia que estava em jogo a reputação deste DVD, que mostra seu recorde de público -no Rio, 1,2 milhão-, o avanço sobre a China e a conquista do Oeste americano.
O gigantismo da empreitada carioca é o que mais deixou os Stones apreensivos. Copacabana demandou alterações no palco, telões e alto-falantes. É quando se repara que ainda há espaço na banda para temor de ver tudo dar errado.

Documentário
O mais divertido é o documentário dedicado especialmente a Copacabana, no segundo disco. A equipe de montagem de palco simplesmente aceita que os operários brasileiros trabalhem num ritmo "mais lento" que de costume. Muitos deles causados pelo hábito de virar o pescoço para ver alguma bela forma feminina.
Copacabana é o material mais intenso do pacote. Ainda que a banda demore a se situar em cena, o show é empolgante, com imagens eficientes e lindas tomadas aéreas. Lamenta-se apenas o repertório óbvio.
É verdade que o concerto não está por inteiro, o que certamente obriga o telespectador a assistir aos outros shows, em que há algumas músicas a mais. O bônus de Copacabana é o cover de "Night Time Is the Right Time", de Ray Charles.
Enfim, encerrar as discussões a respeito da ganância de Jagger será impossível. Mas, ao ver o frontman que ele é, cantando a obra que canta ao lado de Keith Richards, a figura que mais encarnou o rock desde que o gênero surgiu -irônico, descomprometido, debochado e genial-, é de se pensar que esse será o único debate a ser sustentado. Porque, em todos os outros, os "Stones Ltda." continuam ganhando de lavada.


THE BIGGEST BAND
Artista: Rolling Stones
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 170, em média
Avaliação: bom



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