São Paulo, segunda-feira, 04 de janeiro de 2010

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Crítica/"Lutas.doc"

Série documental questiona clichês sobre o Brasil

Produção "Lutas.doc", que estreia amanhã na TV Brasil, entrevista políticos, historiadores e artistas, entre outros

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O brasileiro é um povo de índole pacífica. O Brasil é o país do futuro. Deus é brasileiro. Somos uma democracia racial. Para discutir esses e outros clichês amplamente difundidos, os cineastas Daniel Augusto e Luiz Bolognesi conceberam a série "Lutas.doc", que estreia amanhã na TV Brasil.
O projeto do documentário surgiu quando Bolognesi fez uma pesquisa com historiadores da USP para rever a ideia do brasileiro como um povo pacífico.
"O resultado dessa pesquisa foi uma história da violência no Brasil", diz Daniel Augusto. Convidado por Bolognesi para codirigir a série, Augusto propôs um corte não cronológico, em que a história fosse vista a partir do presente.
"Lutas.doc" é exatamente isso: partindo de problemas da atualidade, a desigualdade social e racial, a situação da mulher, a deterioração do ambiente e as mazelas políticas, um punhado de pessoas reflete sobre o processo histórico que nos trouxe a isso. Os entrevistados são historiadores, filósofos, escritores, políticos, artistas, militantes de ONGs.
De Fernando Henrique Cardoso à escritora e ex-moradora de rua Esmeralda Ortiz, do presidente Lula ao coordenador do Afro-Reggae José Junior, da ex-ministra Marina Silva ao escritor Ferréz, todos têm alguma coisa a dizer sobre os temas abordados. Mas a série está longe de ser uma aborrecida sequência de depoimentos.
Uma de suas virtudes é a hábil mistura de registros em animação, material de arquivo, trechos de filmes de ficção e reportagens televisivas, numa montagem audiovisual dinâmica e provocadora. Daniel Augusto não esconde que o interesse dos realizadores é atingir prioritariamente os jovens "com idade para estar no colegial ou na faculdade", pois neles estaria o maior potencial de mudança política e social.

Videoclipe
O episódio que abre a série, "Guerra sem fim", é o que radicaliza a opção por um ritmo de videoclipe, o que torna um tanto superficial a discussão dos movimentos e guerras civis da história brasileira, correndo o risco de diluir as diferenças entre eles e instituir um "contraclichê", o de que o brasileiro tem "índole combativa". Nos quatro segmentos seguintes, a série ganha mais densidade.


LUTAS.DOC

Onde: TV Brasil
Quando: terças, às 23h, com reprise às quintas, à meia-noite (cinco episódios, um por semana, a partir de amanhã)
Classificação: 10 anos
Avaliação: ótimo




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