São Paulo, terça-feira, 04 de janeiro de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
OPINIÃO Em NY, Museo del Barrio atenua conflitos e adota tom edificante PEDRO MEIRA MONTEIRO ESPECIAL PARA A FOLHA Na Quinta Avenida, a poucas quadras do Guggenheim, uma surpresa aguarda quem vai além do circuito dos grandes museus de Nova York: o Museo del Barrio. Criado no final dos anos 1960, ele nasceu da luta pelos direitos civis, quando afro-americanos e latinos exigiam que sua herança cultural fosse reconhecida nas escolas. A briga era por "desbranquear" o currículo. O Museo é hoje uma instituição com um importante acervo e um longo histórico de exposições e atividades. O turista brasileiro que passear pelos limites do Harlem, onde ele fica, pode ser assaltado por uma pergunta: por que São Paulo não tem algo semelhante, um Museu do Nordeste? Talvez a resposta esteja na ausência de um movimento pelos direitos civis entre nós. Mas deixemos as revoluções para lá, e voltemos a Nova York. A exposição que marca a reabertura do museu, recém-reformado, foi copatrocinada pela prestigiosa New-York Historical Society, e se chama "Nueva York (1613-1945)". Por meio de documentos, pintura, música e instalações, o visitante rememora a presença "ibérica" ou "latina" na cidade, dos judeus sefarditas no século 17 à variedade cultural do fim da Segunda Guerra, passando pelas figuras tutelares dos grandes intelectuais do século 19, como José Martí. Só por isso, já vale a visita. Mas a exposição expõe um problema: os limites da instituição. Por trás da história da produção açucareira no Caribe, ou da efervescência política do entre-guerras (ambas entrelaçadas à história de Nova York), há conflitos que nem sempre aparecem na exposição, que convida à harmonia, mais que ao ruído. É estranho ver que o choque e o preconceito, sem os quais o museu jamais teria surgido nos anos 1960, foram atenuados, envoltos num tom edificante que desencadeia questões: há lugar para o conflito no discurso institucional? Como retratar os "de baixo" sem cair na cantilena da inclusão? O museu é sempre uma invenção da elite? Talvez por causa dos limites da instituição, o novo logo ("El Museo") tenha sido aliviado da palavra "barrio", que identifica a porção latina, especialmente porto-riquenha, desse enclave simbólico em plena Manhattan. Tudo um pouco "clean". Mas não sejamos ranzinzas e lembremos do que são capazes os museus, sempre que se decida transformá-los em expressão daquilo que, na ordem do dia, se varre para baixo do tapete. E que São Paulo tenha, um belo dia, o seu Museu do Nordeste. PEDRO MEIRA MONTEIRO é professor de literatura brasileira em Princeton, autor de "Um Moralista nos Trópicos" (Boitempo). Texto Anterior: Bienal do Mercosul discute territorialidade pela arte Próximo Texto: Mostra de Mariko Mori revela crítica às imagens do presente Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |