São Paulo, terça, 4 de fevereiro de 1997.

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Morte encerra os anos 90 no Brasil

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Redação

A dimensão da morte de Chico Science não é menor que a de tragédia para o pop brasileiro, comparável, por exemplo, à morte precoce de Dolores Duran ou ao abandono da cena pelo mutante Arnaldo Baptista.
O acidente de Chico faz lembrar que os anos 90 já vão acabando. E que, no Brasil, eles se encerram com três anos de antecipação.
Outros vão ficar, é certo, mas o único movimento musical que se pôde produzir aqui desde a tropicália -e lá se vão 30 anos- acaba de ser abruptamente abortado.
Ficam Fred Zero Quatro e seu Mundo Livre S/A, mas agora com o fardo por demais pesado de sustentar sozinhos a utopia da mangue beat.
Com Chico Science se vai o pedaço mais comunicativo, mais marketeiro, mais disposto a dialogar com as belezas e mazelas do pop nacional daquilo que se convencionou chamar mangue beat -e que durou poucos três anos.
Por um curto lapso de tempo, nos parecia que finalmente o trem da música popular voltava aos trilhos. Finalmente alguém prestava homenagem à revolução tropicalista tentando superá-la, admitindo que ela era coisa do passado.
Por esparsos instantes, nos parecia que o Brasil se engajava no bonde da história e embarcava na modernidade da descentralização, no reconhecimento da virtude da inteligência fermentada numa cidade excêntrica como Recife, num país excêntrico como o Brasil.
Por um pouquinho de tempo, parecia que o futuro existia, que uma história começava a ser contada, que essa história ia ser longa e ia mudar -para melhor- o sentido das coisas.
Agora, da lama ao caos, tornam-se ínfimas de novo quaisquer expectativas, quaisquer esperanças. A ordem no caos se restabelecerá, que convulsão e desordem nunca fizeram bem ao Brasil.
Os talentos emepebísticos brilharão, sem o perigo da inteligência, até que surja outro Science. E o gênio de Fred Zero Quatro, agora, vai ter que aguentar a solidão.


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