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Morte encerra os anos 90 no Brasil
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Redação
A dimensão da morte de Chico
Science não é menor que a de tragédia para o pop brasileiro, comparável, por exemplo, à morte precoce de Dolores Duran ou ao
abandono da cena pelo mutante
Arnaldo Baptista.
O acidente de Chico faz lembrar
que os anos 90 já vão acabando. E
que, no Brasil, eles se encerram
com três anos de antecipação.
Outros vão ficar, é certo, mas o
único movimento musical que se
pôde produzir aqui desde a tropicália -e lá se vão 30 anos- acaba
de ser abruptamente abortado.
Ficam Fred Zero Quatro e seu
Mundo Livre S/A, mas agora com
o fardo por demais pesado de sustentar sozinhos a utopia da mangue beat.
Com Chico Science se vai o pedaço mais comunicativo, mais marketeiro, mais disposto a dialogar
com as belezas e mazelas do pop
nacional daquilo que se convencionou chamar mangue beat -e
que durou poucos três anos.
Por um curto lapso de tempo,
nos parecia que finalmente o trem
da música popular voltava aos trilhos. Finalmente alguém prestava
homenagem à revolução tropicalista tentando superá-la, admitindo que ela era coisa do passado.
Por esparsos instantes, nos parecia que o Brasil se engajava no
bonde da história e embarcava na
modernidade da descentralização,
no reconhecimento da virtude da
inteligência fermentada numa cidade excêntrica como Recife, num
país excêntrico como o Brasil.
Por um pouquinho de tempo,
parecia que o futuro existia, que
uma história começava a ser contada, que essa história ia ser longa e
ia mudar -para melhor- o sentido das coisas.
Agora, da lama ao caos, tornam-se ínfimas de novo quaisquer
expectativas, quaisquer esperanças. A ordem no caos se restabelecerá, que convulsão e desordem
nunca fizeram bem ao Brasil.
Os talentos emepebísticos brilharão, sem o perigo da inteligência, até que surja outro Science. E o
gênio de Fred Zero Quatro, agora,
vai ter que aguentar a solidão.
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