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CINEMA - ESTRÉIAS
Unir som e imagem dá prazer, diz Jarmusch
LAURENT RIGOULET
do "Libération"
Desde que viu, quando criança,
em um "drive-in" na Florida, Robert Mitchum atuar e cantar em
"Thunder Road", Jim Jarmusch
explora as relações entre a vida de
cineasta e a de músico.
Ele já tocou em um grupo de
rock de Nova York, o Del Bizanteens, dirigiu Tom Waits e John
Lurie, filmou um documentário
sobre Neil Young e o Crazy Horse.
Em "Ghost Dog", por meio de
RZA, homem-orquestra do Wu
Tang Clan, é o universo complexo
e melancólico da América do rap
que ele coloca em seu cinema.
SCRIPT MUSIC - "Quando eu
começo a escrever um filme, procuro os discos que irão mergulhar minha imaginação na atmosfera da história que eu quero
inventar. Algumas músicas me
transportam imediatamente. Para "Ghost Dog" eu escutei muito
hip hop, Wu Tang Clan, principalmente, Miles Davis, do período elétrico, e as primeiras obras
de Ornette Coleman."
BEBOP - "Gosto particularmente do modo como os músicos
do bebop se lançam em um solo e
citam, no interior da improvisação, um standard popular. Isso
me deu a coragem, ou talvez a liberdade, de fazer a mesma coisa
enquanto escrevia. No passado,
quando me vinham certas imagens de um livro ou de um filme,
eu as refutava, pois não eram fruto da minha imaginação. Mas
dessa vez eu as deixei entrar em
meu filme. Minha paixão pelo bebop foi decisiva. Albert Ayler, por
exemplo, de quem escutei muito
uma gravação recentemente reeditada, retoma fragmentos de hino, de marcha militar, e os reorganiza de forma exemplar."
HIP HOP - "O hip hop também
cultiva a arte da citação. Mas de
uma maneira um pouco diferente, porque os músicos "sampleiam" os fragmentos que lhes
interessam nos discos de outros e
os utilizam como são, mas eles os
organizam em estribilhos para fazer uma coisa completamente
nova. Amo o espírito dessa música desde que a descobri, no final
dos anos 70. Quando RZA, líder
do Wu Tang Clan, compôs a música para "Ghost Dog" ele viu comigo o filme e sumiu por três semanas. Depois ligou para um encontro. Me deu uma fita e falamos de tudo, menos da música.
Ele me deixou livre para colocar
as canções onde bem quisesse. Às
vezes eu lhe mandava umas fitas
do filme. Uma semana depois,
me ligou dizendo que encontrou
as fitas todas molhadas no gramado e não pôde assisti-las. Ainda assim, ele tinha tudo na cabeça; o ritmo, os movimentos do filme. RZA achava que o espírito do
filme estava nele. A música saiu
naturalmente. Era meu trabalho
colocá-la e modelá-la em função
das imagens."
RITMO - "A música me ajuda a
encontrar o ritmo do filme de um
modo um pouco abstrato, mas
ela sugere também imagens e cria
ligações temáticas. Sou muito
atento às imagens do rap. Por
que, nas cidades, eles usam roupas com capuz? Porque se tornam invisíveis, principalmente
quando a polícia chega. O exagero deles também me interessa, é o
modo de encontrar uma forma
de poder. Isso existe no cinema,
como em "Scarface", de De Palma,
muito popular nessa geração."
O OLHO ESCUTA - "Às vezes
tenho a impressão de que não
procuro a música para um filme,
mas sim o filme que vai acompanhar a música de que gosto. Casar
sons e imagens é um dos grandes
prazeres da atividade de cineasta,
principalmente na montagem."
Tradução Luiz Antonio Del Tedesco
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