São Paulo, #!L#Sexta-feira, 04 de Fevereiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA - ESTRÉIAS
Unir som e imagem dá prazer, diz Jarmusch

LAURENT RIGOULET
do "Libération"

Desde que viu, quando criança, em um "drive-in" na Florida, Robert Mitchum atuar e cantar em "Thunder Road", Jim Jarmusch explora as relações entre a vida de cineasta e a de músico.
Ele já tocou em um grupo de rock de Nova York, o Del Bizanteens, dirigiu Tom Waits e John Lurie, filmou um documentário sobre Neil Young e o Crazy Horse. Em "Ghost Dog", por meio de RZA, homem-orquestra do Wu Tang Clan, é o universo complexo e melancólico da América do rap que ele coloca em seu cinema.

SCRIPT MUSIC -
"Quando eu começo a escrever um filme, procuro os discos que irão mergulhar minha imaginação na atmosfera da história que eu quero inventar. Algumas músicas me transportam imediatamente. Para "Ghost Dog" eu escutei muito hip hop, Wu Tang Clan, principalmente, Miles Davis, do período elétrico, e as primeiras obras de Ornette Coleman."

BEBOP -
"Gosto particularmente do modo como os músicos do bebop se lançam em um solo e citam, no interior da improvisação, um standard popular. Isso me deu a coragem, ou talvez a liberdade, de fazer a mesma coisa enquanto escrevia. No passado, quando me vinham certas imagens de um livro ou de um filme, eu as refutava, pois não eram fruto da minha imaginação. Mas dessa vez eu as deixei entrar em meu filme. Minha paixão pelo bebop foi decisiva. Albert Ayler, por exemplo, de quem escutei muito uma gravação recentemente reeditada, retoma fragmentos de hino, de marcha militar, e os reorganiza de forma exemplar."

HIP HOP -
"O hip hop também cultiva a arte da citação. Mas de uma maneira um pouco diferente, porque os músicos "sampleiam" os fragmentos que lhes interessam nos discos de outros e os utilizam como são, mas eles os organizam em estribilhos para fazer uma coisa completamente nova. Amo o espírito dessa música desde que a descobri, no final dos anos 70. Quando RZA, líder do Wu Tang Clan, compôs a música para "Ghost Dog" ele viu comigo o filme e sumiu por três semanas. Depois ligou para um encontro. Me deu uma fita e falamos de tudo, menos da música. Ele me deixou livre para colocar as canções onde bem quisesse. Às vezes eu lhe mandava umas fitas do filme. Uma semana depois, me ligou dizendo que encontrou as fitas todas molhadas no gramado e não pôde assisti-las. Ainda assim, ele tinha tudo na cabeça; o ritmo, os movimentos do filme. RZA achava que o espírito do filme estava nele. A música saiu naturalmente. Era meu trabalho colocá-la e modelá-la em função das imagens."

RITMO -
"A música me ajuda a encontrar o ritmo do filme de um modo um pouco abstrato, mas ela sugere também imagens e cria ligações temáticas. Sou muito atento às imagens do rap. Por que, nas cidades, eles usam roupas com capuz? Porque se tornam invisíveis, principalmente quando a polícia chega. O exagero deles também me interessa, é o modo de encontrar uma forma de poder. Isso existe no cinema, como em "Scarface", de De Palma, muito popular nessa geração."

O OLHO ESCUTA -
"Às vezes tenho a impressão de que não procuro a música para um filme, mas sim o filme que vai acompanhar a música de que gosto. Casar sons e imagens é um dos grandes prazeres da atividade de cineasta, principalmente na montagem."


Tradução Luiz Antonio Del Tedesco


Texto Anterior: Televisão: Pearl Jam é a estrela do fim-de-semana na MTV
Próximo Texto: Samurai negro glamouriza violência
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.