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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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MÚSICA

Projeto Samba de Fato" traz nomes como Xangô da Mangueira e Leci Brandão, relembrando o gênero dos anos 20

Série quer colocar partido-alto em seu devido lugar

ISRAEL DO VALE
DA REPORTAGEM LOCAL

Primo sambista do repente nordestino, o partido-alto migra das esquinas para o palco a partir de hoje, com o primeiro de quatro shows da série semanal "Partido-Alto - Samba de Fato", no CCBB do Rio de Janeiro.
O nome do evento é, claro, uma provocação. Tenta levar as coisas de volta ao seu devido lugar. Com registros iniciais que remontam a fins dos anos 20, esse recorte do samba se tornaria figurinha fácil no disco cerca de 40 anos mais tarde. Duas décadas atrás, desdobraria-se em viés mais popular, por meio de uma derivação sua conhecida como pagode, antes de o termo ser maltratado pelo pop-a-gode da década passada.
Associado a nomes como Bezerra da Silva, Fundo de Quintal e Zeca Pagodinho, que o preservaram em registro respeitável nas últimas décadas, o partido-alto enfileira no currículo entusiastas do porte de Noel Rosa, Martinho da Vila e Chico Buarque.
Seu código de conduta, porém, foi escrito nas rodas de samba por nomes menos conhecidos do grande público, mas de extrema relevância para a história do samba. Gente como Aniceto do Império, Silas de Oliveira, Alvaiade, Candeia -mestres de herdeiros como Paulinho da Viola, um de seus mais conhecidos militantes na geração que cresceu de mãos dadas com a velha guarda.
Embalado originalmente pelos tambores do jongo, seu avô de origem africana, o partido-alto se sustenta sobre métrica encaixada no mais das vezes em seis ou oito versos, intercalados por um coro que repete o refrão. Sempre viveu soltinho por quintais e botequins, celebrado nas rodas à base de improviso, galhofa entre músicos e público e convite à dança, conduzido pelo repicado do pandeiro.
O improviso e a dança são suas características mais marcantes. "Os partideiros são uma espécie de tropa de elite dentro do exército do samba", diz Luis Filipe de Lima, violonista de sete cordas, mentor e diretor-geral da série. "Há, claro, os versos decorados, de estrofes peneiradas pelo tempo que alguém ouve, registra e passa a cantar", conta. "Mas a marca mais forte, que distingue os grande partideiros, é a capacidade de improvisar poeticamente."
A estrutura remete às rodas de pernada e ao samba-duro, muito populares até os anos 70. "Há uma variedade de estilos de dança praticamente tão grande quanto o número de dançarinos", diz.
"Partido-Alto - Samba de Fato" terá três convidados por noite -embora, como boa roda, sempre seja possível incorporar mais alguém. Zeca Pagodinho, por exemplo, é um que prometeu aparecer, mas sem marcar data.
O programa de hoje, centrado nas raízes, reúne Xangô da Mangueira, Casquinha e Jorge Presença. Semana que vem, Leci Brandão divide o palco com Pedro Amorim e a catarinense Jandira, vencedora do Festival de Partido Alto, no Balroom em 2001.
O dia 18 centra as atenções na dança, com homenagem a Aniceto do Império capitaneada por Dona Ivone Lara, Tantinho da Mangueira e Ivan Milanês, da Velha Guarda do Império Serrano. Por fim, no dia 25, a proximidade com a embolada será explicitada com um embate poético entre Arlindo Cruz, Marquinho China e o estivador e flautista Claudio Camunguelo, que traz no currículo um prêmio em concurso de choro promovido pelo MIS carioca.


PARTIDO-ALTO - SAMBA DE FATO - Série semanal com mestres do partido-alto. Quando: hoje, dia 11, 18 e 25 de fevereiro, das 12h30 e 18h30. Onde: CCBB do Rio de Janeiro: r Primeiro de Março, 66 (tel. 0/xx/21/ 3808-2020). Quanto: de R$ 3 a R$ 6.


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