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MÚSICA
Projeto Samba de Fato" traz nomes como Xangô da Mangueira e Leci Brandão, relembrando o gênero dos anos 20
Série quer colocar partido-alto em seu devido lugar
ISRAEL DO VALE
DA REPORTAGEM LOCAL
Primo sambista do repente nordestino, o partido-alto migra das
esquinas para o palco a partir de
hoje, com o primeiro de quatro
shows da série semanal "Partido-Alto - Samba de Fato", no CCBB
do Rio de Janeiro.
O nome do evento é, claro, uma
provocação. Tenta levar as coisas
de volta ao seu devido lugar. Com
registros iniciais que remontam a
fins dos anos 20, esse recorte do
samba se tornaria figurinha fácil
no disco cerca de 40 anos mais
tarde. Duas décadas atrás, desdobraria-se em viés mais popular,
por meio de uma derivação sua
conhecida como pagode, antes de
o termo ser maltratado pelo pop-a-gode da década passada.
Associado a nomes como Bezerra da Silva, Fundo de Quintal e
Zeca Pagodinho, que o preservaram em registro respeitável nas
últimas décadas, o partido-alto
enfileira no currículo entusiastas
do porte de Noel Rosa, Martinho
da Vila e Chico Buarque.
Seu código de conduta, porém,
foi escrito nas rodas de samba por
nomes menos conhecidos do
grande público, mas de extrema
relevância para a história do samba. Gente como Aniceto do Império, Silas de Oliveira, Alvaiade,
Candeia -mestres de herdeiros
como Paulinho da Viola, um de
seus mais conhecidos militantes
na geração que cresceu de mãos
dadas com a velha guarda.
Embalado originalmente pelos
tambores do jongo, seu avô de
origem africana, o partido-alto se
sustenta sobre métrica encaixada
no mais das vezes em seis ou oito
versos, intercalados por um coro
que repete o refrão. Sempre viveu
soltinho por quintais e botequins,
celebrado nas rodas à base de improviso, galhofa entre músicos e
público e convite à dança, conduzido pelo repicado do pandeiro.
O improviso e a dança são suas
características mais marcantes.
"Os partideiros são uma espécie
de tropa de elite dentro do exército do samba", diz Luis Filipe de
Lima, violonista de sete cordas,
mentor e diretor-geral da série.
"Há, claro, os versos decorados,
de estrofes peneiradas pelo tempo
que alguém ouve, registra e passa
a cantar", conta. "Mas a marca
mais forte, que distingue os grande partideiros, é a capacidade de
improvisar poeticamente."
A estrutura remete às rodas de
pernada e ao samba-duro, muito
populares até os anos 70. "Há
uma variedade de estilos de dança
praticamente tão grande quanto o
número de dançarinos", diz.
"Partido-Alto - Samba de Fato"
terá três convidados por noite
-embora, como boa roda, sempre seja possível incorporar mais
alguém. Zeca Pagodinho, por
exemplo, é um que prometeu
aparecer, mas sem marcar data.
O programa de hoje, centrado
nas raízes, reúne Xangô da Mangueira, Casquinha e Jorge Presença. Semana que vem, Leci Brandão divide o palco com Pedro
Amorim e a catarinense Jandira,
vencedora do Festival de Partido
Alto, no Balroom em 2001.
O dia 18 centra as atenções na
dança, com homenagem a Aniceto do Império capitaneada por
Dona Ivone Lara, Tantinho da
Mangueira e Ivan Milanês, da Velha Guarda do Império Serrano.
Por fim, no dia 25, a proximidade
com a embolada será explicitada
com um embate poético entre Arlindo Cruz, Marquinho China e o
estivador e flautista Claudio Camunguelo, que traz no currículo
um prêmio em concurso de choro
promovido pelo MIS carioca.
PARTIDO-ALTO - SAMBA DE FATO - Série semanal com mestres do partido-alto. Quando: hoje, dia 11, 18 e 25 de
fevereiro, das 12h30 e 18h30. Onde:
CCBB do Rio de Janeiro: r Primeiro de
Março, 66 (tel. 0/xx/21/ 3808-2020).
Quanto: de R$ 3 a R$ 6.
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