São Paulo, sábado, 04 de fevereiro de 2006

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Personagem clássico retorna em dois livros; da Inglaterra vem a continuação oficial de sua história e, dos Estados Unidos, obra que conta origens do herói

A volta de PETER PAN

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Peter Pan anda ansioso com um incessante tique-taque. O barulho não vem do despertador engolido pelo crocodilo que papou a mão de seu arquiinimigo, o Capitão Gancho. Mas dos relógios que marcam para as primeiras horas de 5 de outubro o aguardado lançamento, no Reino Unido, da primeira continuação oficial de suas aventuras. O "menino que não queria crescer", criado em 1904 pelo escritor escocês James Matthew Barrie [1860-1937], voltará a alçar vôo numa história que se passa em 1930, com Wendy madura o bastante para ser uma avó. Enquanto isso, nos EUA, uma versão "não-autorizada" conta as origens do herói.
Ainda sem direitos comprados para o Brasil, "Peter Pan in Scarlet" [Peter Pan em escarlate], editado pela Oxford University Press, foi escrito pela inglesa Geraldine McCaughrean, 53. Já publicada no Brasil pela Salamandra, três vezes premiada com o prestigioso Whitbread, ela foi escolhida entre mais de 200 escritores de várias partes do mundo num concurso feito pelo hospital infantil Great Ormond Street, para o qual Barrie deixou os direitos da obra em 1929. Sua missão: responder a perguntas como "o que foi feito da Terra do Nunca?", ou ainda "por que os garotos eram perdidos?". Segredos guardados a sete chaves, diz McCaughrean.
"Mas como o original de Barrie termina com os Garotos Perdidos deixando a Terra do Nunca e crescendo, enquanto Peter fica lá, adianto que a aventura só pode começar com eles encontrando um modo de voltar para a ilha", diz a autora à Folha.
"O título também dá uma pista: na última vez em que vimos Peter ele usava uma túnica de folhas verdes, e agora elas se tornaram vermelhas. Parece um bom presságio?", indaga, reticente.
McCaughrean -autora de mais de 130 livros, boa parte deles infantis, como "Gold Dust", uma corrida do ouro que se passa no Brasil- ganhou de última hora dois concorrentes do outro lado do Atlântico. Os americanos Ridley Pearson e Dave Barry assinam "Peter and the Starcatchers", espécie de "episódio 1" da história de Peter, cujos direitos já foram comprados pela Companhia das Letras. A editora, que publicou em 1999 as aventuras originais, ainda não tem previsão para o novo lançamento.
O livro de Pearson e Barry já tem uma continuação própria por vir -"Peter and the Shadow Thieves" [Peter e os ladrões de sombras]-, e ambos tiveram seus direitos adquiridos pela Disney, que vai transformá-los em animações. Detalhe: a Disney acaba de comprar a Pixar, toda poderosa da animação, responsável por arrasa-quarteirões como "Os Incríveis".

Episódio 1
A movimentação milionária vem tirando o sono da OUP e do hospital inglês. Embora tenha direito a royalties pelos filmes da Disney, por conta de um contrato assinado pelo próprio Walt há 50 anos, o hospital dependerá da boa vontade dos concorrentes -e da Justiça- se quiser ganhar com as vendas dos filhos bastardos.
E o problema não é somente financeiro; tem a ver com respostas àquelas perguntas lá de cima.
"Não quero mal a "Peter and the Starcatchers". Mas espero que os leitores não fiquem confusos e pensem que ele é a continuação autorizada de que já ouviram falar tanto. Por sorte, trata-se de uma aventura anterior. "Peter Pan in Scarlet" é o único livro escrito por sugestão e com a aprovação do hospital", defende McCaughrean.
Em "Peter and the Starcatchers", Terra do Nunca é o nome do navio que transporta Pan e um bando de outros órfãos para uma ilha de nome Mollusk, onde trabalharão como escravos do malvado rei Zarboff. No caminho, Peter é convencido a ajudar a misteriosa Molly a salvar o mundo, evitando que piratas como um certo Black Stache -o futuro Gancho?- ponham as mãos num baú contendo um pó mágico, capaz de fazer voar.
McCaughrean não deixa escapar se abordará questões como estas, sobre as origens de Peter. Adianta apenas que, além dele, voltam à cena Sininho e Wendy.
"Fiz questão de que algo acontecesse a cada página, de modo que tivesse bastante ritmo. E de que houvesse muita aventura, perigos e bravura. Meu maior desafio, no entanto, foi que o grande vilão, o capitão Gancho, foi visto pela última vez caindo na mandíbula de um faminto crocodilo. E não há nada que eu possa fazer para alterar isso."


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