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Crítica/Música/"Da Sanfona à Sinfônica..."
Wagner Tiso ganha coletânea eclética
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tem de Maysa a Fagner,
passando por Mercedes
Sosa, Gal Costa, Chico
Buarque, Zeca Pagodinho, Fafá
de Belém e Johnny Alf. "Da
Sanfona à Sinfônica" é uma
eclética caixa com quatro CDs,
documentando os 40 anos da
trajetória de Wagner Tiso como arranjador.
Nada mais sintomático do
salto qualitativo do "status" do
arranjador na MPB, por sinal,
do que o lançamento de uma
coleção em que canções díspares são enfeixadas tendo como
fator unificador não o intérprete, mas o orquestrador. Não
custa lembrar que, nos velhos
tempos do LP, a presença de
uma ficha técnica com créditos
para os arranjos parecia constituir antes exceção do que regra.
Trata-se de uma generosa coletânea com, ao todo, 59 faixas
-todas elas, gravações originais de arranjos de Tiso. A mais
antiga é um arranjo a quatro
mãos com Paulo Moura para
"O Sonho", de Egberto Gismonti, na voz de Agostinho dos
Santos, em 1968; a mais recente, "A Flor e o Cais", parceria
com Geraldo Carneiro, cantada
por Cauby Peixoto, em 2006,
com acompanhamento luxuoso da Orquestra Petrobras Sinfônica, em parceria com a qual,
desde 2004, o músico vem desenvolvendo uma série de concertos, intitulada MPB & Jazz.
No meio do caminho, tem, é
claro, muita música mineira.
Natural, assim como Milton
Nascimento, de Três Pontas,
Tiso foi um dos nomes mais
proeminentes do Clube da Esquina, movimento que, na década de 1960, mesclava os timbres do rock e as harmonias do
jazz "fusion" a um melodismo
que parecia brotar naturalmente das pedras e cachoeiras
de Minas Gerais.
Talvez o melhor da caixa sejam justamente itens como
"Nuvem Cigana", do histórico
LP "Clube da Esquina" (1972);
"Feira Moderna", de Lô Borges,
Beto Guedes e Fernando Brant;
e "Milagre dos Peixes", em que
a voz do Milton, então (1974)
imaculada, é acompanhada pelo Som Imaginário, grupo em
que Tiso tocava teclados.
Teclados datados
O gosto do músico pelos teclados, por sinal, representa o
que há de mais datado -e questionável- nos arranjos da caixa. No texto do encarte, João
Máximo explica que houve
uma época em que a utilização
dos teclados eletrônicos era
uma imposição dos produtores
dos discos, "exigência em nome
da economia".
Podemos ouvir como esse
"barato" saía caro em termos
artísticos. Se, nos anos 1980, já
não tinha muita graça aquela
sucessão de timbres sintetizados, hoje, então, sua sonoridade possui infalível poder de
cansar e saturar o ouvinte.
Que Tiso podia e pode mais
do que isso está comprovado no
álbum, em itens como as delicadas harpas e sopros com os
quais ele emoldura o acento luso de Eugênia Melo e Castro
em "Soneto da Separação", de
Tom Jobim e Vinícius de Moraes, ou as cordas que acarinham o violão de Garoto em
"Vivo Sonhando".
Em meio a uma produção tão
vasta, abarcando um notável
espaço de tempo, e poéticas
distintas, pode-se dizer que a
caixa tem um pouco para todos
os gostos, mas será difícil quem
consiga extrair prazer de tudo.
Enquanto uns vão se esbaldar
com Djavan em "Meu Bem
Querer"; Sá e Guarabyra, em
"Dona"; ou Tetê Espíndola em
"Escrito nas Estrelas", outros,
enfadados desta sonoridade de
FM dos anos 1980, talvez prefiram descobrir o seresteiro Luiz
Cláudio entoando as "Rugas",
de Nelson Cavaquinho.
DA SANFONA À SINFÔNICA -
WAGNER TISO - 40 ANOS DE ARRANJOS
Artista: Wagner Tiso
Gravadora: Universal
Quando: R$ 80, em média
Avaliação: regular
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