São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2005

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CRÍTICA

Moby retorna aos anos 80, mas falta passar pelos 90

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Se todo o mundo hoje olha para os anos 80 com carinho e corre atrás de um pedacinho para tirar proveito, por que não Moby?
Depois do megassucesso que foi "Play", com suas quase 10 milhões de cópias e músicas tocando desde em comerciais de TV até em trilha de lojas de departamento, fica difícil lembrar que Moby já foi um produtor bem eclético.
Lá em 1992 ele lançava o primeiro álbum, que ajudava a dar formato ao tecno e ao trance por todos os anos 90; é dele também "Everything Is Wrong" (95), grande disco que já combinava músicas de pistas com ambientações; e é dele também o punk rock "Animal Rights" (96).
Com "Play", em 1999, Moby dava a largada para um outro tipo de eletrônica: climática, inofensiva, diluída, usando misturas vocais soul. Muita gente cairia nessa; ele próprio, há três anos, com "18", retornou à armadilha.
Este "Hotel" mostra um produtor diferente. Primeiro, o disco não traz samples. Moby toca guitarra, baixo, teclados... É um disco pop, mais do que eletrônico.
O problema aqui é que "Hotel" é um disco esquemático. Muitas de suas 14 faixas se encerram em soluções fáceis. É o caso de "Spiders" e "Raining Again", duas das canções mais dançantes do álbum. A primeira começa com Moby cantando sobre uma base de teclados; o ritmo vai num crescendo até chegar ao refrão, que "explode" com um coral. Sim, levanta o público, mas esse truque é velho. A segunda inicia com uma marcação de bateria que lembra Stone Roses, corta para uma base de piano, volta para a bateria e assim segue, em velocidade pouco maior. Só. Espera-se mais de alguém que fez faixas como "Go".
O primeiro single, "Lift Me Up", é a "bandeira anos 80" de Moby. Tem guitarra, backing vocal, lembra Depeche Mode. A década retorna com toda a força no cover "Temptation". Aqui, o produtor segura a eufórica faixa do New Order numa versão intimista, levada quase num sussurro pela voz de Laura Dawn. Não anima.
Já "Very" é, talvez, a que mais destoa em "Hotel". Tem batida disco, rápida, com um vocal sexy. Divertida, cai bem numa pista.
Na metade final do álbum, Moby "puxa o freio", se dirige à ambient music e até arrisca mais. "I Like it" é diferente, permeada por barulhinhos, meio trip hop; é o tipo de experimentação que se deseja ouvir num disco de alguém como Moby. E abre caminho para a boa balada "Love Should".
Com "Hotel", Moby retorna aos anos 80. Mas faltou passar pelo começo dos 90, quando ele realmente fazia uma diferença.


Hotel   
Artista: Moby
Lançamento: EMI
Quanto: a definir


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