São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grupo paraense relê "Dark Side of the Moon"

BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Enquanto Roger Waters se aproxima do Amazonas, o Pará vai ao seu encontro. Como o nome sugere, "The Charque Side of the Moon" é uma versão nortista de "The Dark Side of the Moon", álbum-assinatura do Pink Floyd, que Waters promete tocar na íntegra no Coachella, festival norte-americano que acontece em abril.
"Charque" transportou o disco, faixa a faixa, para a música paraense, com a mesma fidelidade que marca "Dub Side of the Moon" (2003), do Easy Star All-Star, que traduziu o clássico para a música jamaicana.
"A gente foi anotando os andamentos das músicas originais e adaptando aos ritmos regionais", conta Luiz Félix, guitarrista e percussionista do La Pupuña e criador da versão ensolarada de "Dark Side" (disponível para download na comunidade do grupo no Orkut) ao lado de Fabrício Jomar, baixista do grupo paraense.
""The Great Gig in the Sky", que é uma música bem sensual, por exemplo, ganhou um zouk [gênero das Antilhas], um ritmo que é dançado, com o casal quase copulando", ri Félix.
A exemplo do zouk, o disco tem forte influência da música caribenha. "Antigamente, no interior do Pará, as pessoas não conseguiam ouvir as rádios da capital, só do Caribe, pela proximidade com a região", conta.
A guitarra é outra marca do disco, aproximando-o do original -o Pupuña é conhecido por unir influências como surf music e música brega à guitarrada, uma forma de se tocar o instrumento característica do Pará.

Sinos de Belém
As letras em inglês foram mantidas, assim como os detalhes criados pelo Floyd, adaptados à região. Os popopos (barcos a motor da região) substituíram o helicóptero de uma das faixas, enquanto os sinos de "Time" foram gravados da Basílica da Nossa Senhora de Nazaré, em Belém -o custo do disco não passou dos R$ 300.
As mais de 15 participações de "Charque" trazem nomes conhecidos da cena paraense. O guitarrista Pio Lobato produziu "On the Run". "Money" tem solo de guitarrada de Mestre Vieira, um dos criadores do gênero, e Sammliz, vocalista do grupo metal Madame Sataan.
Gabi Amarantes, vocalista do Tecnoshow, um dos maiores grupos do tecno brega, sola em "The Great Gig in the Sky". João Henrique, vocalista da banda cover oficial do Pink Floyd no Pará, participa, propositalmente, de "Us and Them". "Brain Damage" tem gargalhada de Fafá de Belém.
Os regionalismos ainda ditaram a capa do disco. "Charque" é sinônimo de carne seca no norte do país e das "partes íntimas" da mulher, como conta Félix, o que inspirou o encarte virtual do trabalho: uma sobreposição do prisma original do Floyd e do sexo feminino, "de uma modelo que prefere manter sua identidade em sigilo", segundo a ficha técnica.


Texto Anterior: Saiba mais: Ópera é "pop sinfônico" orquestrado
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.