|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Grupo paraense relê "Dark Side of the Moon"
BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Enquanto Roger Waters se
aproxima do Amazonas, o Pará
vai ao seu encontro. Como o
nome sugere, "The Charque Side of the Moon" é uma versão
nortista de "The Dark Side of
the Moon", álbum-assinatura
do Pink Floyd, que Waters promete tocar na íntegra no Coachella, festival norte-americano que acontece em abril.
"Charque" transportou o disco, faixa a faixa, para a música
paraense, com a mesma fidelidade que marca "Dub Side of
the Moon" (2003), do Easy Star
All-Star, que traduziu o clássico
para a música jamaicana.
"A gente foi anotando os andamentos das músicas originais e adaptando aos ritmos regionais", conta Luiz Félix, guitarrista e percussionista do La
Pupuña e criador da versão ensolarada de "Dark Side" (disponível para download na comunidade do grupo no Orkut) ao
lado de Fabrício Jomar, baixista do grupo paraense.
""The Great Gig in the Sky",
que é uma música bem sensual,
por exemplo, ganhou um zouk
[gênero das Antilhas], um ritmo que é dançado, com o casal
quase copulando", ri Félix.
A exemplo do zouk, o disco
tem forte influência da música
caribenha. "Antigamente, no
interior do Pará, as pessoas não
conseguiam ouvir as rádios da
capital, só do Caribe, pela proximidade com a região", conta.
A guitarra é outra marca do
disco, aproximando-o do original -o Pupuña é conhecido por
unir influências como surf music e música brega à guitarrada,
uma forma de se tocar o instrumento característica do Pará.
Sinos de Belém
As letras em inglês foram
mantidas, assim como os detalhes criados pelo Floyd, adaptados à região. Os popopos (barcos a motor da região) substituíram o helicóptero de uma
das faixas, enquanto os sinos de
"Time" foram gravados da Basílica da Nossa Senhora de Nazaré, em Belém -o custo do
disco não passou dos R$ 300.
As mais de 15 participações
de "Charque" trazem nomes
conhecidos da cena paraense.
O guitarrista Pio Lobato produziu "On the Run". "Money" tem
solo de guitarrada de Mestre
Vieira, um dos criadores do gênero, e Sammliz, vocalista do
grupo metal Madame Sataan.
Gabi Amarantes, vocalista do
Tecnoshow, um dos maiores
grupos do tecno brega, sola em
"The Great Gig in the Sky".
João Henrique, vocalista da
banda cover oficial do Pink
Floyd no Pará, participa, propositalmente, de "Us and
Them". "Brain Damage" tem
gargalhada de Fafá de Belém.
Os regionalismos ainda ditaram a capa do disco. "Charque"
é sinônimo de carne seca no
norte do país e das "partes íntimas" da mulher, como conta
Félix, o que inspirou o encarte
virtual do trabalho: uma sobreposição do prisma original do
Floyd e do sexo feminino, "de
uma modelo que prefere manter sua identidade em sigilo",
segundo a ficha técnica.
Texto Anterior: Saiba mais: Ópera é "pop sinfônico" orquestrado Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|