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Após captação, mostra leiloará obras
Com trabalhos de 150 artistas, exposição para financiar preservação ambiental arrecadou R$ 750 mil por lei de incentivo
Diretor de museus do MinC considera a operação "estranha", mas assessoria do ministério assegura que não há irregularidade
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a participação de 150 artistas brasileiros, "Arte pela
Amazônia", mostra que é inaugurada hoje no pavilhão na Bienal, tem como objetivo central
arrecadar fundos para a compra de uma área na fronteira do
Mato Grosso com o Amazonas
para preservação ambiental. Os
artistas doaram as obras, que
irão a leilão no dia 3 de abril.
Segundo Ricardo Ribenboim, um dos sócios da Base 7
Projetos Culturais, produtora
que organiza a mostra, a expectativa é arrecadar entre R$ 300
mil e R$ 500 mil, suficientes
para comprar um terreno de
833 hectares, área cinco vezes
superior ao parque Ibirapuera.
"Esse terreno, onde será possível plantar 1 milhão de árvores,
custa em torno de R$ 120 mil e
com o dinheiro restante pretendemos criar um edital para
projetos de qualidade para a
população indígena e ribeirinha", conta Ribenboim.
Curioso, entretanto, é que a
Base 7 arrecadou, por meio da
Lei de Incentivo à Cultura, R$
750 mil para a organização da
exposição, valor bem superior
ao que se pretende arrecadar.
"Uma exposição com 150 artistas é muito cara por conta do
seguro das obras, do aluguel de
espaço, da edição de um catálogo. Nós só quisemos organizar a
mostra e depois viabilizá-la a
ponto de conseguir que a renda
seja totalmente entregue ao
projeto", diz Ribenboim.
"Acho estranho que isso
ocorra e, se virar moda, todo
mundo vai usar a lei de incentivo para organizar uma exposição e fazer negócios em favor
de alguma causa, independente
do que ela seja", diz José do
Nascimento Júnior, diretor do
Departamento de Museus do
Ministério da Cultura (MinC).
Coordenador de Análise e
Aprovação de Projetos do
MinC, Maurício Bortoloti disse
que irá emitir um parecer sobre
o caso nos próximos dias.
A assessoria de imprensa do
ministério assegura, no entanto, que não há irregularidade,
pois os projetos inscritos podem ter fim comercial, se houver uma finalidade cultural.
Em família
A idéia para organizar a mostra com fins filantrópicos teve
início numa conversa familiar:
o filho de Ribenboim, Gabriel, é
um dos proprietários da CO2
Soluções Ambientais, empresa
que realiza projetos de neutralização de carbono, e tem uma
fazenda próxima à área onde se
pretende adquirir o novo terreno e irá monitorar o novo espaço contra incêndios e o desmatamento. "A idéia surgiu da
união da CO2 e da Base 7 para
criar um projeto de preservação consciente da Amazônia de
longo prazo", diz Ribenboim.
O resultado da arrecadação
do leilão será dividido em duas
partes: 30% para os artistas e
70% para uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), criada a partir
do Instituto Arte Mais Meio
Ambiente, que irá gerenciar o
projeto. Os artistas, segundo
Ribenboim, estão sendo convidados a participarem da entidade. "A idéia é entender que
isso é uma atitude de artistas e
foi bacana ver como houve sensibilidade para o projeto", diz.
De 170 convidados, 150 aceitaram o convite para a mostra.
No entanto, vários artistas ouvidos pela Folha não sabiam da
captação. "Acho o valor arrecadado muito elevado, mas acredito ser por uma boa causa", diz
Mauro Restiffe. Outros atenderam por respeito ao organizador: "Participo porque confio
no Ribenboim", diz Carlito
Carvalhosa. Outros artistas
-que preferiram não se identificar- tiveram reações mais
exaltadas ao tomar conhecimento da captação.
A Base 7 conseguiu ainda
uma parceria com a Fundação
Bienal de São Paulo que, mesmo ainda tendo dívidas da Bienal de 2006, deu um desconto
substantivo para o aluguel: em
vez de cobrar o preço normal,
R$ 274 mil, está recebendo R$
50 mil. O curador da fundação,
Jacopo Crivelli Visconti, também trabalha para "Arte pela
Amazônia", organizando a disposição das obras e escrevendo
o texto do catálogo. Segundo
Ribenboim, Visconti recebe
verba da própria fundação.
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