São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010

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Medo de vingança soviética ajudou a prolongar fim do conflito, diz autor

DA REPORTAGEM LOCAL

Atribuir à loucura de Hitler a opção alemã de lutar até a derrota total é tentador, mas não dá conta da complexidade do que ocorreu ao fim da Segunda Guerra, afirma o historiador britânico Richard Bessel, autor de "Alemanha, 1945".
"Hitler estava determinado a não repetir a rendição de 1918 e defendia que daquela vez a Alemanha cairia com honra. Mas houve o medo do Exército Vermelho, e do que os soviéticos fariam com sede de revanche quando entrassem na Alemanha. Pessoas envolvidas nos crimes dos nazistas tinham razão para acreditar que seriam mortas de qualquer jeito e que, portanto, nada tinham a perder por continuar lutando", disse o autor à Folha.
"Vários soldados foram colocados em posições das quais não tinham como recuar, estavam cercados, não tinham alternativa. E havia muitos que não imaginavam vida após a rendição e então continuavam lutando ou se suicidavam." "Mas vale lembrar", pondera Bessel, "que, especialmente no oeste, muitos soldados alemães se renderam em abril de 1945, preferindo sobreviver como prisioneiros de guerra a morrer pela causa nazista."
O livro analisa o fato de que grande parte do povo alemão, preocupado com seu próprio sofrimento nos últimos momentos da guerra, não teve compaixão pelo sofrimento causado pelo regime nazista.
"Alguns, como religiosos protestantes e católicos, expressaram compaixão logo após a derrota. Outros acharam mais fácil se concentrar em seus próprios problemas, para serem confrontados décadas mais tarde por uma geração mais jovem horrorizada pelo que foi feito em nome de seu país. Acredito que muitos alemães hoje pensam assim, e eles estão entre os principais colaboradores para aliviar os efeitos da guerra pelo mundo."
Especialista no tema que aborda -é autor de "Nazism and War" e "Germany after the First World War", entre outros-, Bessel contou ter tido duas surpresas durante a pesquisa para "Alemanha, 1945".
"Uma foi como explicar que os alemães não tenham amargado fortes racionamentos de comida logo após a rendição, em maio de 1945, o que em grande medida se deveu a saques em grande escala, e não só de locais militares. Outra foi descobrir a extensão com que pessoas assumiram novas identidades no pós-Guerra -não apenas ex-nazistas tentando evitar perseguição, mas pessoas se passando por médicos, advogados, padres etc, com objetivo de defraudar outros."
Foi um tempo em que, como consequência da dupla identidade, muitos acabaram mais tarde condenados por bigamia.
O historiador descarta comparações entre o pós-Guerra alemão e o iraquiano. "A Alemanha foi totalmente destruída e ocupada por milhões de soldados, que esperavam enfrentar feroz insurgência, que não houve. No Iraque, destruição e baixas foram menores, as forças de ocupação foram menores e esperavam ser saudadas como libertadoras, mas enfrentaram insurgência". (FV)


ALEMANHA, 1945

Autor: Richard Bessel
Tradução: Berilo Vargas
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 55 (504 págs.)




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