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Medo de vingança soviética ajudou a prolongar fim do conflito, diz autor
DA REPORTAGEM LOCAL
Atribuir à loucura de Hitler a
opção alemã de lutar até a derrota total é tentador, mas não
dá conta da complexidade do
que ocorreu ao fim da Segunda
Guerra, afirma o historiador
britânico Richard Bessel, autor
de "Alemanha, 1945".
"Hitler estava determinado a
não repetir a rendição de 1918 e
defendia que daquela vez a Alemanha cairia com honra. Mas
houve o medo do Exército Vermelho, e do que os soviéticos
fariam com sede de revanche
quando entrassem na Alemanha. Pessoas envolvidas nos
crimes dos nazistas tinham razão para acreditar que seriam
mortas de qualquer jeito e que,
portanto, nada tinham a perder
por continuar lutando", disse o
autor à Folha.
"Vários soldados foram colocados em posições das quais
não tinham como recuar, estavam cercados, não tinham alternativa. E havia muitos que
não imaginavam vida após a
rendição e então continuavam
lutando ou se suicidavam."
"Mas vale lembrar", pondera
Bessel, "que, especialmente no
oeste, muitos soldados alemães
se renderam em abril de 1945,
preferindo sobreviver como
prisioneiros de guerra a morrer
pela causa nazista."
O livro analisa o fato de que
grande parte do povo alemão,
preocupado com seu próprio
sofrimento nos últimos momentos da guerra, não teve
compaixão pelo sofrimento
causado pelo regime nazista.
"Alguns, como religiosos
protestantes e católicos, expressaram compaixão logo
após a derrota. Outros acharam
mais fácil se concentrar em
seus próprios problemas, para
serem confrontados décadas
mais tarde por uma geração
mais jovem horrorizada pelo
que foi feito em nome de seu
país. Acredito que muitos alemães hoje pensam assim, e eles
estão entre os principais colaboradores para aliviar os efeitos da guerra pelo mundo."
Especialista no tema que
aborda -é autor de "Nazism
and War" e "Germany after the
First World War", entre outros-, Bessel contou ter tido
duas surpresas durante a pesquisa para "Alemanha, 1945".
"Uma foi como explicar que
os alemães não tenham amargado fortes racionamentos de
comida logo após a rendição,
em maio de 1945, o que em
grande medida se deveu a saques em grande escala, e não só
de locais militares. Outra foi
descobrir a extensão com que
pessoas assumiram novas
identidades no pós-Guerra
-não apenas ex-nazistas tentando evitar perseguição, mas
pessoas se passando por médicos, advogados, padres etc, com
objetivo de defraudar outros."
Foi um tempo em que, como
consequência da dupla identidade, muitos acabaram mais
tarde condenados por bigamia.
O historiador descarta comparações entre o pós-Guerra
alemão e o iraquiano. "A Alemanha foi totalmente destruída e ocupada por milhões de
soldados, que esperavam enfrentar feroz insurgência, que
não houve. No Iraque, destruição e baixas foram menores, as
forças de ocupação foram menores e esperavam ser saudadas como libertadoras, mas enfrentaram insurgência".
(FV)
ALEMANHA, 1945
Autor: Richard Bessel
Tradução: Berilo Vargas
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 55 (504 págs.)
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