São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2005 |
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É TUDO VERDADE Ponte sobre o abismo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MONTEVIDÉU
"Eu faço aniversário todos os dias", desconversa, entre gargalhadas, o diretor de 80 anos, completados há três semanas. Fernando Birri -um dos pais do novo cinema latino-americano e fundador da histórica Escola Latino-Americana de Documentários de Santa Fé, em 1956- está atarefado com outra comemoração: no próximo ano, celebram-se duas décadas de mais uma instituição que ajudou a colocar de pé, a Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños, em Cuba. "Será um momento muito importante, porque atesta que é possível uma experiência que, quando começou, não sabíamos se ia durar seis meses", diz o cineasta argentino, homenageado pelo É Tudo Verdade. O bolo da festa cubana será um novo filme, que Birri desenvolve com os alunos da escola. "Lo Viejo y lo Nuevo" está sendo feito com filmagens dos estudantes e fragmentos de arquivo do novo cinema latino-americano, trabalhos fundacionais realizados a partir de meados dos anos 50. A produção homenageia Eisenstein, e, segundo Birri, "a idéia é colocar as imagens frente a frente, sem querer demonstrar nada". Neste ano, o festival paulistano exibe da lavra do cineasta os documentários "Jogue uma Moeda"/"Tire Dié" (1959) e "Che: Morte da Utopia?" (1997), além de "O Caso Norte" (1977), de João Batista de Andrade, "Subterrâneos do Futebol" (1964), de Maurice Capovilla, e "Marimbás" (1962), de Vladimir Herzog. "Vivi momentos definitivos relacionados ao Brasil", afirma Birri, que se recorda do país sobretudo pelo filtro das pessoas que o marcaram. "Quando fundei a escola de Santa Fé, me aparece um jovenzinho, com sua malinha, e era Vlado Herzog. Maurice Capovilla, diretor de enorme talento, o trouxe aqui para ensinar. Ao Rio, cheguei no momento em que Nelson Pereira dos Santos estreava "Vidas Secas". Numa noite, com toda a turma do cinema novo, vimos a primeira projeção de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber. Foi um momento lindo, de uma força impressionante." O diretor vê o que está sendo produzido no continente e lhe agrada o que anda assistindo. "Sou um péssimo espectador, porque gosto de tudo o que vejo e quero ver tudo. Não vejo grandes propostas originais ou movimentos, mas há coisas lindas, estamos atravessando um momento de autores", afirma. Leia a seguir a entrevista que o cineasta concedeu à Folha, por telefone. Folha - Com "Jogue uma Moeda",
marco do documentário argentino,
sua câmara propunha reflexão sobre os efeitos da pobreza naquele
país. Depois de mais de 40 anos,
com uma deterioração social ainda
mais flagrante, é maior o papel dos
"militantes da imagem"? Folha - O sr. criou a Escola Latino-Americana de Documentários de
Santa Fé e a Escola Internacional de
Cinema e Televisão em Cuba. Há
um impulso no cinema da região? Folha - Como um dos pais do novo
cinema latino, de que modo o sr. vê
a produção do continente hoje? Folha - Os prêmios internacionais
atestam a qualidade do que está
sendo feito, ou a América Latina está na moda? Folha - Outro documentário seu
no festival é "Che: Morte da Utopia?". O sr. citou os governos do
Brasil, Venezuela, Uruguai, que
têm lideranças de esquerda. As
utopias continuam? |
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