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Guia conta história de cem livrarias brasileiras
Seleção parte do Colégio dos Jesuítas, no século 17
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Estantes envidraçadas eram
protegidas por balcões, atrás
dos quais atendentes faziam o
meio de campo entre os fregueses e os livros. No século 19, várias livrarias brasileiras lembravam farmácias, e não só na
aparência; vendiam remédios,
além de perfumes, chás e rapé.
Décadas depois, algumas delas teriam de manter os títulos
ainda mais seguros -durante a
ditadura, Raimundo Jinkings
fez um fundo falso numa prateleira de seu estabelecimento,
em Belém, e lá depositou volumes de filosofia e marxismo,
que agradavam aos fregueses,
mas não tanto às autoridades.
O "Pequeno Guia Histórico
das Livrarias Brasileiras", de
Ubiratan Machado, conta a saga de uma centena dessas lojas,
selecionadas em 16 Estados, a
partir de critérios como data de
inauguração, repercussão entre intelectuais e no mercado.
"Mais difícil que chegar às
cem foi conseguir dados aparentemente prosaicos, mas essenciais para o rigor histórico",
diz Machado, 68. Isso deixou de
fora, por exemplo, a Livraria do
Povo, sebo que existiu até os
anos 1970 na praça paulistana
João Mendes. Mas não impediu a inclusão da remota coleção de obras piedosas vendidas
pelos jesuítas, ainda no século
17, no colégio da ordem, no Rio.
Entre as mais antigas, receberam destaque as criadas por
imigrantes franceses, como a
Laemmert (1833), frequentada
por Machado de Assis, no Rio, e
Garraux (1860), em São Paulo.
Os franceses, diz o autor,
abriam livrarias mais bem estruturadas que os portugueses.
Mas foi um argentino quem
criou uma espécie de megastore ainda nos anos 1940, em Belo
Horizonte. Com mais de 50
funcionários e o nome do proprietário, a Oscar Nicolai foi visionária ao oferecer obras latino-americanas numa época em
que a guerra dificultava a importação das europeias.
As bancas de livros de São
Paulo, improvisadas em bancas
de jornais, mereceram um capítulo à parte. "Fenômeno paulistano", persistiram por meio
século, até os livreiros serem
enxotados pela prefeitura, durante a caça aos camelôs.
As livrarias antigas que restaram precisaram se adaptar. A
Francisco Alves, no Rio, que insistiu nas estantes fechadas e
nos balcões, fechou as portas
nos anos 1990. Outras, como a
Saraiva e a Cultura, multiplicaram-se e estão entre as maiores
do país. A mais antiga ainda em
funcionamento na mesma loja
resiste em Campos, no Rio -é a
Ao Livro Verde, criada em 1844.
PEQUENO GUIA HISTÓRICO DAS
LIVRARIAS BRASILEIRAS
Autor: Ubiratan Machado
Editora: Ateliê Editorial
Quanto: R$ 46 (264 págs.)
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