São Paulo, sábado, 04 de abril de 2009

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Guia conta história de cem livrarias brasileiras

Seleção parte do Colégio dos Jesuítas, no século 17

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Estantes envidraçadas eram protegidas por balcões, atrás dos quais atendentes faziam o meio de campo entre os fregueses e os livros. No século 19, várias livrarias brasileiras lembravam farmácias, e não só na aparência; vendiam remédios, além de perfumes, chás e rapé.
Décadas depois, algumas delas teriam de manter os títulos ainda mais seguros -durante a ditadura, Raimundo Jinkings fez um fundo falso numa prateleira de seu estabelecimento, em Belém, e lá depositou volumes de filosofia e marxismo, que agradavam aos fregueses, mas não tanto às autoridades.
O "Pequeno Guia Histórico das Livrarias Brasileiras", de Ubiratan Machado, conta a saga de uma centena dessas lojas, selecionadas em 16 Estados, a partir de critérios como data de inauguração, repercussão entre intelectuais e no mercado. "Mais difícil que chegar às cem foi conseguir dados aparentemente prosaicos, mas essenciais para o rigor histórico", diz Machado, 68. Isso deixou de fora, por exemplo, a Livraria do Povo, sebo que existiu até os anos 1970 na praça paulistana João Mendes. Mas não impediu a inclusão da remota coleção de obras piedosas vendidas pelos jesuítas, ainda no século 17, no colégio da ordem, no Rio.
Entre as mais antigas, receberam destaque as criadas por imigrantes franceses, como a Laemmert (1833), frequentada por Machado de Assis, no Rio, e Garraux (1860), em São Paulo. Os franceses, diz o autor, abriam livrarias mais bem estruturadas que os portugueses.
Mas foi um argentino quem criou uma espécie de megastore ainda nos anos 1940, em Belo Horizonte. Com mais de 50 funcionários e o nome do proprietário, a Oscar Nicolai foi visionária ao oferecer obras latino-americanas numa época em que a guerra dificultava a importação das europeias. As bancas de livros de São Paulo, improvisadas em bancas de jornais, mereceram um capítulo à parte. "Fenômeno paulistano", persistiram por meio século, até os livreiros serem enxotados pela prefeitura, durante a caça aos camelôs.
As livrarias antigas que restaram precisaram se adaptar. A Francisco Alves, no Rio, que insistiu nas estantes fechadas e nos balcões, fechou as portas nos anos 1990. Outras, como a Saraiva e a Cultura, multiplicaram-se e estão entre as maiores do país. A mais antiga ainda em funcionamento na mesma loja resiste em Campos, no Rio -é a Ao Livro Verde, criada em 1844.


PEQUENO GUIA HISTÓRICO DAS LIVRARIAS BRASILEIRAS

Autor: Ubiratan Machado
Editora: Ateliê Editorial
Quanto: R$ 46 (264 págs.)



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