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Crítica
Convencional, minissérie se dá bem
ao investir no realismo das batalhas
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A primeira advertência
vem da música balofa
durante os letreiros.
Mas esse tem sido o padrão
musical da Hollywood recente,
grandiloquente e vazio -então,
toca em frente.
O que segue aponta para uma
surpresa: a de ver Steven Spielberg e Tom Hanks envolvidos
com uma minissérie das mais
chochas. A guerra no Pacífico é
uma das mais bem documentadas e filmadas de que se tem
notícia. Não faltam filmes, reais
e fictícios, da época ou posteriores, pró ou contra, dando
conta das atrocidades que ali
aconteceram. E foram atrozes.
"The Pacific" começa estranho, fincando pé na vida pré-guerra dos pracinhas, tipo namoros e vida familiar. Parece
novela de TV. Passa batido por
um dos aspectos mais interessantes do início das hostilidades: o intenso, brutal treinamento dos recrutas para a guerra. É o que se vê em "Iwo Jima
-O Portal da Glória" (Allan
Dwan, 1949), para ficar com o
exemplo mais célebre.
Após uma introdução que
aparentemente deve apresentar o conflito à garotada, vamos
quase que em linha reta para a
batalha de Guadalcanal, vitória
decisiva e sangrenta.
O filme se dá bem na reconstituição das batalhas, em especial na parte sonora. Esse parece ser o investimento principal:
as batalhas e sua intensidade
sonora. Ao mesmo tempo, logo
no início, constroem-se personagens e situações convencionais. Desde o oficial com indefectível discurso de Estado
Maior até pracinhas com incurável otimismo que, aos poucos, descobrem o terror da
guerra.
É compreensível que os personagens não sejam muito desenvolvidos em meio a tantas
bombas e mortes (algumas das
melhores cenas dizem respeito
ao final das batalhas, quando a
sangueira enfim se mostra em
toda crueza). Podia-se esperar
que as coisas evoluíssem melhor na Austrália, onde os rapazes chegam após exaustivos
combates e dispostos a não menos exaustivos namoros com as
garotas australianas. Mas os
namoros (assim como as bebedeiras e tal) têm pouco a mostrar, apoiam-se na convenção.
Pode ser que mais adiante tudo mude. Por ora, a série está à
altura da música de abertura. O
espectador terá mais a ver a
respeito da guerra no Pacífico
procurando por filmes de
Raoul Walsh, Otto Preminger,
Samuel Fuller, John Ford e
Clint Eastwood sobre o tema.
Algo de inquietante se desprende dessa série: os filmes
clássicos sobre a Segunda
Guerra foram feitos no momento dos combates (o chamado "esforço de guerra"), em instantes de autocrítica (no momento do Vietnã), como apoio à
Guerra Fria ou como reflexão
pacifista. Por que "The Pacific"
se abalaria até o distante Oriente, hoje, que as ameaças japonesa e comunista estão conjuradas? Terá a China algo a ver
com isso?
THE PACIFIC
Quando: a partir do dia 11, às 22h, na
HBO (reprises às ter., às 21h)
Classificação: 16 anos
Avaliação: regular
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