São Paulo, domingo, 04 de abril de 2010

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Crítica

Convencional, minissérie se dá bem ao investir no realismo das batalhas

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

A primeira advertência vem da música balofa durante os letreiros. Mas esse tem sido o padrão musical da Hollywood recente, grandiloquente e vazio -então, toca em frente.
O que segue aponta para uma surpresa: a de ver Steven Spielberg e Tom Hanks envolvidos com uma minissérie das mais chochas. A guerra no Pacífico é uma das mais bem documentadas e filmadas de que se tem notícia. Não faltam filmes, reais e fictícios, da época ou posteriores, pró ou contra, dando conta das atrocidades que ali aconteceram. E foram atrozes.
"The Pacific" começa estranho, fincando pé na vida pré-guerra dos pracinhas, tipo namoros e vida familiar. Parece novela de TV. Passa batido por um dos aspectos mais interessantes do início das hostilidades: o intenso, brutal treinamento dos recrutas para a guerra. É o que se vê em "Iwo Jima -O Portal da Glória" (Allan Dwan, 1949), para ficar com o exemplo mais célebre.
Após uma introdução que aparentemente deve apresentar o conflito à garotada, vamos quase que em linha reta para a batalha de Guadalcanal, vitória decisiva e sangrenta.
O filme se dá bem na reconstituição das batalhas, em especial na parte sonora. Esse parece ser o investimento principal: as batalhas e sua intensidade sonora. Ao mesmo tempo, logo no início, constroem-se personagens e situações convencionais. Desde o oficial com indefectível discurso de Estado Maior até pracinhas com incurável otimismo que, aos poucos, descobrem o terror da guerra.
É compreensível que os personagens não sejam muito desenvolvidos em meio a tantas bombas e mortes (algumas das melhores cenas dizem respeito ao final das batalhas, quando a sangueira enfim se mostra em toda crueza). Podia-se esperar que as coisas evoluíssem melhor na Austrália, onde os rapazes chegam após exaustivos combates e dispostos a não menos exaustivos namoros com as garotas australianas. Mas os namoros (assim como as bebedeiras e tal) têm pouco a mostrar, apoiam-se na convenção.
Pode ser que mais adiante tudo mude. Por ora, a série está à altura da música de abertura. O espectador terá mais a ver a respeito da guerra no Pacífico procurando por filmes de Raoul Walsh, Otto Preminger, Samuel Fuller, John Ford e Clint Eastwood sobre o tema.
Algo de inquietante se desprende dessa série: os filmes clássicos sobre a Segunda Guerra foram feitos no momento dos combates (o chamado "esforço de guerra"), em instantes de autocrítica (no momento do Vietnã), como apoio à Guerra Fria ou como reflexão pacifista. Por que "The Pacific" se abalaria até o distante Oriente, hoje, que as ameaças japonesa e comunista estão conjuradas? Terá a China algo a ver com isso?


THE PACIFIC
Quando: a partir do dia 11, às 22h, na HBO (reprises às ter., às 21h)
Classificação: 16 anos
Avaliação: regular




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