São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2007

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"Pai" do jazz rap faz dois shows em SP

Em entrevista à Folha, DJ Premier diz que não pensa em fabricar hits na hora de compor e defende vigor do hip hop

Músico, que já produziu nomes como Nas, Jay-Z e Christina Aguilera, vai se apresentar em Perdizes e em palco da Virada Cultural


Sergio Carvalho/Folha Imagem
DJ Premier rechaça críticas de MC Guru, ex-companheiro no duo Gang Starr, e desconversa quando o assunto é seu cachê; "há caras que ganham muito mais"


ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele escolheu se chamar Premier porque queria ser o primeiro DJ a experimentar novas formas de fazer hip hop. E foi o que fez, criando o jazz rap, ao lado do MC Guru, no extinto duo Gang Starr.
Ele também esteve entre os que notaram o talento de novatos como Jay-Z, Notorious B.I.G. e Nas, colaborando em discos de estréia considerados clássicos e que o tornaram um dos principais produtores dos anos 90, hoje disputado por nomes como Christina Aguilera, Limp Bizkit e Kanye West.
Em São Paulo para duas apresentações, uma delas com os Racionais MC's, na Virada Cultural, o nova-iorquino Christopher Martin, o DJ Premier, minimiza a criação do jazz rap e releva as críticas feitas por Guru, que, em entrevista à Folha em 2005, disse ter sido traído pelo ex-parceiro -o que selou o fim do Gang Starr.
Aos 41 anos, Premier se divide entre produções para Christina Aguilera e Kanye West e seu primeiro disco solo, "A Man of Few Words" (um homem de poucas palavras), com participações de Nas e Jay-Z.
 

FOLHA - Quando Guru veio a SP, disse que você o traiu porque teria apoiado um novo artista, Young Guru. Ele até cantou uma música atacando o outro Guru. O que houve?
PREMIER -
Ah, cara, isso é uma bobagem! Young Guru estava trabalhando com Jay-Z. É um engenheiro [de som], não um rapper nem um MC. Não faz músicas. Tem esse nome porque, na escola, costumava dar aulas para crianças. Guru se sentiu deixado de lado. Respeito o Gang Starr, amo o Guru como artista e nunca desrespeitei seu nome. Ele é uma lenda no hip hop e Young Guru nunca vai aparecer nos livros de história. Ele [Guru] deveria se focar em coisas mais positivas. Discordo dessa história de fazer uma música sobre o cara.

FOLHA - Mas você abandonou a turnê do Gang Starr em 2003. Foi por causa do Young Guru?
PREMIER -
Acredite em mim: se isso fosse um grande problema, sei meu lugar, sempre defenderia Guru. Mas não é o caso de criar uma situação como essa por causa de um engenheiro.

FOLHA - A você é creditada a invenção do jazz rap. Como foi?
PREMIER -
Não criei. Me classificaram assim por causa dos samples de jazz. Só fazia isso porque, naquela época, todas as pessoas utilizavam músicas de James Brown. Muitos samples de jazz eram apenas instrumentais, sem vocal, o que permitia criar loops e transformar as músicas. Queria fazer algo novo e, quando me juntei ao Gang Starr, todo o resto era hard e alto, e eu estava usando algo diferente. Então, as pessoas chamaram jazz rap. Mas, para mim, jazz rap é rap sobre jazz. Podíamos fazer um álbum inteiro assim e não fizemos.

FOLHA - Você trabalha para muitos artistas. Como faz para não deixar as músicas parecidas e, por outro lado, colocar sua própria marca?
PREMIER -
Sou fã de música desde criança. Tenho um apreço e um respeito que muitos novatos não têm. Não ouvi rap quando era jovem, porque não existia. Então, ver a evolução desse estilo, desde o início, torna muito fácil para mim criar um som que se identifique com o artista. Penso no vocal, no jeito como ele é, como se veste.

FOLHA - Como sabe que uma música será um hit?
PREMIER -
Meu foco não é esse. Hoje, todas as músicas são feitas para as pessoas dançarem nos clubes. Nunca penso se a faixa fará as pessoas dançarem. Quero fazer uma faixa agradável de se ouvir. Se for agradável e virar hit, ótimo. Mas o melhor é que seja uma boa canção.

FOLHA - É verdade que é muito caro produzir uma faixa com você (dizem que chega a US$ 30 mil)?
PREMIER -
Nada. Há caras que ganham muito mais. Timbaland e Pharrell, do Neptunes, cobram muito mais caro.

FOLHA - Você está trabalhando no novo CD de Kanye West. Como será?
PREMIER -
Ele me pediu alguns scratches para uma faixa, que vou terminar quando voltar a NY. Se ele aprovar, gostaria de fazer o álbum, mas, até agora, foi apenas uma música. Ela tem piano, alguns samples. Gosto da maneira como ele juntou tudo isso, e a letra está muito boa.

FOLHA - Em 2006, Nas lançou o disco "Hip Hop Is Dead". Você acredita que o rap está morto?
PREMIER -
O que ele quis dizer é que tudo o que foi feito é tão grande e você não ouve mais isso na rádio e em nenhum outro lugar. Os rappers continuam os mesmos, as músicas, a levada, as roupas. Está tudo igual. Não houve avanço, e pessoas como nós têm que existir para trazer de volta um balanço. Foi isso que ele quis dizer. O hip hop não acabou, está bem.


DJ PREMIER
Quando:
hoje, às 22h
Onde: Aldeia Turiassu (r. Turiassu, 928, Perdizes, tel. 0/xx/11 3865.3065)
Quanto: R$ 25 (antecipado) e R$ 30

DJ NA VIRADA CULTURAL
Quando:
dom., às 3h (após noite de sáb.), com Racionais MC's e convidados
Onde: pça. da Sé (palco da Virada Cultural)
Quanto: entrada gratuita


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