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Crítica
Filme de Murat mostra amargo retrato social
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Em "Quase Dois Irmãos"
(HBO Plus, 0h45), dois amigos
de infância se reencontram.
Miguel era rico, mas o pai, homem de esquerda, gostava de
vê-lo brincar com crianças de
outras classes sociais. Jorge era
seu grande amigo, podia ser seu
irmão.
Ao crescer, ambos se reencontrarão na cadeia. Miguel, o
rico, é preso político, pertence
a uma organização guerrilheira. Jorge, o pobre, virou traficante. Nessa cadeia, os presos
políticos ensinarão os detentos
comuns a se comportar como
gente. E, portanto, a se organizar.
O tempo passa e, desta organização que os guerrilheiros
ensinaram aos pobres, nascem
as máfias criminosas que todos
conhecemos hoje.
O que isso nos ensina? Nada.
Simplesmente que isso aconteceu. Há quem critique o didatismo da situação desenvolvida
por Lucia Murat. Isso me parece um pouco de mesquinharia.
Este é, de longe, o mais perspicaz, amargo e conseqüente dos
filmes recentes feitos sobre o
abismo de classes no Brasil.
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