São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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"Panorama estrangeiro" é atacado na web

Tradicional mostra bienal sobre arte brasileira, agora curada por Adriano Pedrosa, gera polêmica por só ter estrangeiros

"Que presunção, que vaidade, que egocentrismo", diz artista Artur Barrio; ideia também tem defensores, que a Ilustrada ouviu


Leonardo Wen-3.mar.09/Folha Imagem
O curador da próxima edição do "Panorama de Arte Brasileira", Adriano Pedrosa

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em vez de "Panorama da Arte Brasileira", "Brazilian Art Landscape" é como o artista Alex Cabral propõe que seja denominada a mostra com curadoria de Adriano Pedrosa, a ser inaugurada em outubro, no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo).
Já a artista Ligia Borba sugere "Panorama da Arte Brasilianista". O sarcasmo faz parte da maior parte das 58 mensagens já postadas (até o fechamento desta edição) no site Canal Contemporâneo, a partir da proposta de Pedrosa de não incluir artistas brasileiros na exposição com caráter bienal, criada há 40 anos.
No blog do Canal Contemporâneo -uma comunidade digital organizada pela artista Patrícia Canetti-, a grande parte dos comentários à proposta de Pedrosa, após reportagem publicada na Folha, é marcada por reações bastante violentas (http://www.canalcontemporaneo.art.br/
brasa/archives/002119.html
).
Um dos exemplos é como o artista Artur Barrio contesta Pedrosa: "Que presunção, que vaidade, que egocentrismo, que exclusão, que ignorância".
"Sabia que a proposta geraria polêmica, e o formato de blog propicia reações violentas. Como a curadoria é uma prática que exclui muito mais do que inclui, pois o conjunto incluso é sempre infinitamente menor do que o excluído, quanto mais reputada a mostra curada, maior o número de potencialmente frustrados ou irados em relação a ela", diz Pedrosa.

Opiniões favoráveis
A Folha ouviu outros 13 artistas e curadores (leia íntegra dos depoimentos em www.folha.com.br/091221) e a maioria, ao contrário do que ocorre no Canal Contemporâneo, posicionou-se a favor do projeto de Pedrosa. De todos, apenas a artista Carmela Gross e o curador Paulo Venancio Filho foram contrários à proposta.
A favor manifestaram-se os artistas Jac Leirner, Rivane Neuenschwander, Rosângela Rennó, Sandra Cinto e Ricardo Basbaum, além dos curadores Agnaldo Farias, Lisette Lagnado, Daniela Labra, Rodrigo Moura, Cristiana Tejo e Felipe Chaimovich.
Curador do MAM-SP, Chaimovich coloca a instituição em defesa de Pedrosa: "O "Panorama" caracteriza-se pelo questionamento regular da natureza da arte brasileira e o debate gerado pela proposta curatorial de 2009 mostra a relevância de uma reflexão renovada a cada edição, quebrando expectativas e apontando interpretações inesperadas, como cabe a um museu de arte moderna".
No entanto, nem todos são a favor da ideia de forma integral, apresentando algumas ressalvas, como o artista e curador Ricardo Basbaum.
"Parece que somente os curadores são capazes hoje de provocar polêmicas; antes estas eram produzidas pelas obras, pelos artistas. Se pensarmos na 28ª Bienal, a discussão que mobilizou a opinião pública foi provocada pelos curadores e não por qualquer artista ou obra da mostra", diz ele.
"Isso me preocupa: obras e artistas não estão sendo mais percebidos enquanto agentes provocadores, e sim os curadores", completa Basbaum, que está em cartaz em São Paulo, na galeria Luciana Brito.
A polêmica, contudo, está ajudando o curador a redefinir sua própria exposição.
"A princípio, eu tinha pensado em fazer uma exposição mais esparsa, com um número menor de artistas, mas agora estou considerando incluir mais obras, mais exemplos de "arte brasileira feita por estrangeiros", sem querer esgotar o assunto, mas tornando o argumento mais claro", diz Pedrosa.


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