Saem as primeiras histórias de herói cego que travava lutas contra bandidos comuns em seu bairro, em Nova York

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O gênero dos super-heróis foi "revivido" nas histórias em quadrinhos dos anos 60 com uma nova geração de personagens, que iam de mutantes a deuses, passando por alienígenas, feiticeiros etc. Em 1964, o roteirista Stan Lee queria um personagem que destoasse dos demais. Nasceu o Demolidor, um super-herói cego e católico que se veste com uma fantasia que remete ao demônio.
Essas características não surgiram todas de uma vez, e a construção do personagem pode ser acompanhada em "Biblioteca Histórica Marvel - Demolidor", coletânea lançada no Brasil e que traz as 11 primeiras histórias estreladas pelo herói. Stan Lee não tinha medo de experimentar, e foi assim que surgiram o monstruoso Hulk, o divino Thor e a família do Quarteto Fantástico. O Demolidor foi outro passo na direção de fugir da mesmice, ainda que seguindo a fórmula básica dos super-heróis.
Assim, o Demolidor surge com identidade secreta, amor não correspondido e uniforme chamativo. A fantasia, aliás, era amarela e vermelha nas primeiras histórias, e só a partir da sétima edição ficou totalmente rubra e com chifres, aproximando-se mais da figura de um demônio.
A diferença mais marcante, a princípio, estava no lado humano do personagem. As HQs abordavam as dificuldades de ser cego, mostrando especialmente o quanto Matthew Murdock (sua identidade secreta) era subestimado -o que para ele era uma vantagem, pois ajudava a disfarçar sua vida dupla.

Combates comuns
Mas surgiram diferenças também em outros aspectos do personagem. Na primeira história, ele não enfrentava supervilões, mas bandidos comuns. Quando passou a confrontá-los, não eram gênios do crime, capazes de dominar o mundo ou destruir o universo, mas criaturas com ambições menores, como assaltar bancos.
Hoje, o Demolidor é um dos personagens mais peculiares da editora Marvel. Sua identidade não é mais secreta, ele não pertence a supergrupos e limita suas atividades, normalmente, ao bairro em que mora.
E, se ainda é alguém à parte no panteão de super-heróis quase divinos, tudo começa com essa formação idealizada por Stan Lee. O personagem seria amadurecido, anos depois, por roteiristas como Frank Miller e Brian Michael Bendis, mas foram as sementes que estão nestas histórias que germinariam neste super-herói diferenciado.