São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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VIRADA CULTURAL

Êxito de público produz efeito "panela de pressão"

Cerca de 4 milhões superlotam ruas do centro de São Paulo, que ficou pequeno para o evento; na av. São João, organização pediu "passo atrás" para não "esmagar a plateia"

Guilherme Lara Campos/Folha Imagem
COM ROSAS E CALCINHAS, WANDO LEVA MULTIDÃO AO PALCO ROMÂNTICO, ÀS 23H30
DE SÁBADO

No Arouche, o cantor arrancou gritos da plateia com sucessos como "Fogo e Paixão", antes do show de Reginaldo Rossi, que mostrou sua versão de "I Will Survive", o "hino das bichas"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Está uma panela de pressão. O centro já não é suficiente", disse o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho. Do viaduto do Chá, Carvalho observava, na noite de sábado, o público tomar as ruas da região, atraído pela 5ª Virada Cultural, realizada durante 24 horas, a partir das 18h25.
Foram em torno de 4 milhões de pessoas, divididas entre as cerca de 800 atrações, estima a Prefeitura, responsável pela Virada.
Ontem, a "pressão" aumentou perigosamente. Das caixas de som do palco da avenida São João, ecoou o aviso: "Vamos todos colaborar, por favor, e ir um pouco para trás, para que as pessoas na grade não sejam esmagadas. Por favor, um passo para trás para que as pessoas na grade possam respirar". Só então, às 18h05, a cantora Maria Rita deu início ao show de encerramento da festa.
Com sobrevoos de helicóptero, o coordenador da Virada, José Mauro Gnaspini, concluiu que "apesar de lindas fotos [aéreas], o público terá que, em 2009, migrar de um palco para outro com mais facilidade".
A ideia é afastar mais os palcos da próxima vez, ocupando regiões como a do terminal Princesa Isabel e a praça João Mendes, para evitar que se repita o fenômeno assim descrito pelo prefeito Gilberto Kassab: "Os públicos de diferentes palcos acabaram se emendando".
Ao público, a terra firme bastou para dimensionar o aperto. Às 18h30 de sábado, a circulação era tão intensa na estação Anhangabaú que o metrô não viu alternativa para garantir a segurança dos usuários, a não ser fechá-la por meia hora.
O produtor musical Billy Albuquerque, 46, que pretendia assistir aos shows de rock na praça da República, desistiu diante da superlotação.
"Ao mesmo tempo em que aumenta o público, fica mais insuportável acompanhar a programação da Virada", disse ele. A Prefeitura estima que no ano passado o público foi de cerca de 3,5 milhões. Mais do que o aumento, para o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, "o que ocorreu é que o espaço de circulação ficou menor", dada a redução do número de palcos. Foram 22 no centro, contra 26 em 2008.
Mas quem se animou a ir até a República não arredou pé. Às 10h de ontem, a animação no palco dedicado ao rock era tanta que surpreendia até quem se apresentava. "Parece um sonho isso aqui. Nunca tinha acordado antes das duas", comentou com a plateia o vocalista da banda CPM22, Badauí.
Já o Arouche ferveu com as atrações bregas, ditas "românticas". Wando subiu ao palco, às 23h30, com camisa e calça pretas. Arrancou gritos com uma série de sucessos, como "Fogo e Paixão" ("Você é luz, é raio, estrela e luar...") e com tiradas bem-humoradas. Após 1h20 no palco, despediu-se das fãs atirando rosas e calcinhas.
Reginaldo Rossi veio em seguida. Entrou no palco aplaudidíssimo e, depois da segunda música, mandou um recado: "Só aqui no Brasil é que têm vergonha de ser popular. Tem três ou quatro eleitos que se acham os intelectuais". Emendou "I Will Survive", o "hino das bichas", segundo ele.
Na plateia, havia até quem não gostasse do gênero, como o casal morador do Arouche Tarcísio Cardoso, 26, e Jenifer Souza, 22. "Dormimos mal. A janela tremia. Ainda mais com Wando!", disse Jenifer, que resolveu descer para a festa. "É ruim, mas faz parte."


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