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Jornalismo cultural é tema de encontro em SP
Para o espanhol Juan Cruz, do "El País", editores têm medo de se arriscar e reverenciam sempre os mesmos nomes
Escritor diz que a profissão hoje é refém de confidências e rumores que se espalham pela internet e cobra rigor e reação dos grandes jornais
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nos dias de hoje, um novo
João Ubaldo teria de se atirar
das Torres Gêmeas ou de algo
parecido para se fazer conhecido." É com esse exemplo que o
jornalista espanhol Juan Cruz,
60, ilustra a dificuldade e a negligência dos suplementos culturais para detectar novidades.
Para o escritor, principal
convidado do 1º Congresso de
Jornalismo Cultural, que começa hoje, a multiplicação de assuntos e tendências potencializada pela internet não tem encontrado eco
nos meios impressos.
"Os cadernos de cultura estão ficando todos iguais. Os nomes reverenciados são sempre
reverenciados e a novidade tem
pouco espaço. Isso é um fenômeno mundial", disse à Folha.
A explicação para tal fato, em
sua opinião, é que, diante da cada vez mais difícil tarefa de
identificar movimentos nas artes, os editores "se garantem
apoiando-se no que é mais fácil". A saber, apostam no que já
foi ou é bom e conhecido e não
se arriscam a tratar do que está
por revelar-se, e que pode tanto ser bom como ruim.
Cruz concedeu entrevista
por telefone, de Buenos Aires,
onde ocorre, até 11 de maio, a
feira do livro local (www.el-libro.org.ar). E usou-a como
referência. "A quantidade de
escritores e livros aqui é imensa, e os jornais locais entrevistaram as mesmas pessoas."
E complementa: "Para um
artista jovem se destacar nos
dias de hoje, é preciso que
aconteça com ele algo surpreendente e não necessariamente relacionado à sua obra".
Cruz nasceu em Tenerife, é
diretor-adjunto do diário "El
País", para o qual também faz
entrevistas e artigos sobre cultura, e possui um blog (blogs.elpais.com/juan-cruz).
Entre 1992 e 1998, foi diretor
da editora Alfaguara, o que o
aproximou de grandes nomes e
revelações da literatura hispânica e latino-americana.
Também escreveu livros, como "Toda la Vida Preguntando", em que fala sobre as pessoas que conheceu em seus
mais de 40 anos de carreira.
Entre seus entrevistados estiveram o cineasta sueco Ingmar Bergman e escritores como o peruano Mario Vargas
Llosa e o uruguaio Juan Carlos
Onetti. "É o tipo de jornalismo
que gosto de fazer, um jornalismo de conversas", resume.
Confidências
Outra constatação negativa
que Cruz faz sobre o jornalismo
dos nossos dias é a valorização
das confidências e dos rumores. "A internet traz isso à tona,
cria ou reforça detalhes atrativos e faz com que circule rapidamente." Porém, diz, a rede
não seria a única culpada. A
reação dos que lidam com o noticiário "sério" deveria ser mais
rigorosa. Ao conferir credibilidade a fontes incertas, prejudica-se o bom jornalismo.
"Muitas vezes vejo que nem
sequer há a preocupação de
atribuir crédito a quem dá a informação. Os jornais estão
cheios da palavra "fontes", de
origem não identificada".
Por fim, considera que a saída é fortalecer as marcas dos
grandes jornais, para que imprimam respeito ao publicado.
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