São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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Jornalismo cultural é tema de encontro em SP

Para o espanhol Juan Cruz, do "El País", editores têm medo de se arriscar e reverenciam sempre os mesmos nomes

Escritor diz que a profissão hoje é refém de confidências e rumores que se espalham pela internet e cobra rigor e reação dos grandes jornais


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nos dias de hoje, um novo João Ubaldo teria de se atirar das Torres Gêmeas ou de algo parecido para se fazer conhecido." É com esse exemplo que o jornalista espanhol Juan Cruz, 60, ilustra a dificuldade e a negligência dos suplementos culturais para detectar novidades.
Para o escritor, principal convidado do 1º Congresso de Jornalismo Cultural, que começa hoje, a multiplicação de assuntos e tendências potencializada pela internet não tem encontrado eco nos meios impressos.
"Os cadernos de cultura estão ficando todos iguais. Os nomes reverenciados são sempre reverenciados e a novidade tem pouco espaço. Isso é um fenômeno mundial", disse à Folha.
A explicação para tal fato, em sua opinião, é que, diante da cada vez mais difícil tarefa de identificar movimentos nas artes, os editores "se garantem apoiando-se no que é mais fácil". A saber, apostam no que já foi ou é bom e conhecido e não se arriscam a tratar do que está por revelar-se, e que pode tanto ser bom como ruim.
Cruz concedeu entrevista por telefone, de Buenos Aires, onde ocorre, até 11 de maio, a feira do livro local (www.el-libro.org.ar). E usou-a como referência. "A quantidade de escritores e livros aqui é imensa, e os jornais locais entrevistaram as mesmas pessoas."
E complementa: "Para um artista jovem se destacar nos dias de hoje, é preciso que aconteça com ele algo surpreendente e não necessariamente relacionado à sua obra".
Cruz nasceu em Tenerife, é diretor-adjunto do diário "El País", para o qual também faz entrevistas e artigos sobre cultura, e possui um blog (blogs.elpais.com/juan-cruz).
Entre 1992 e 1998, foi diretor da editora Alfaguara, o que o aproximou de grandes nomes e revelações da literatura hispânica e latino-americana.
Também escreveu livros, como "Toda la Vida Preguntando", em que fala sobre as pessoas que conheceu em seus mais de 40 anos de carreira.
Entre seus entrevistados estiveram o cineasta sueco Ingmar Bergman e escritores como o peruano Mario Vargas Llosa e o uruguaio Juan Carlos Onetti. "É o tipo de jornalismo que gosto de fazer, um jornalismo de conversas", resume.

Confidências
Outra constatação negativa que Cruz faz sobre o jornalismo dos nossos dias é a valorização das confidências e dos rumores. "A internet traz isso à tona, cria ou reforça detalhes atrativos e faz com que circule rapidamente." Porém, diz, a rede não seria a única culpada. A reação dos que lidam com o noticiário "sério" deveria ser mais rigorosa. Ao conferir credibilidade a fontes incertas, prejudica-se o bom jornalismo.
"Muitas vezes vejo que nem sequer há a preocupação de atribuir crédito a quem dá a informação. Os jornais estão cheios da palavra "fontes", de origem não identificada".
Por fim, considera que a saída é fortalecer as marcas dos grandes jornais, para que imprimam respeito ao publicado.


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