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Mercado opera em ritmo artificial
Com escassez de obras consagradas no mercado, trabalhos de artistas ainda em ascensão entram em espiral de valorização
Estudo de investidores mostra que peças de Cildo Meireles, Adriana Varejão e Beatriz Milhazes valem 50 vezes o que valiam em 2000
DA REPORTAGEM LOCAL
Num mercado enxugado pela
altíssima demanda, obras de
artistas consagrados, em geral
os mortos, estão cada vez mais
escassas, abrindo um vácuo para que as bolas da vez da arte
contemporânea se transformem mais cedo que nunca em
fetiche de colecionadores.
Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Vik Muniz e Adriana Varejão viraram cifrões luminosos em cartelas de investimento. Na cola deles, nomes da novíssima geração, como Thiago
Rocha Pitta, Tatiana Blass,
Henrique Oliveira e André Komatsu já sofrem especulação.
"Poucos ativos têm potencial
de valorização tão grande
quanto arte brasileira", diz Rodolfo Riechert, da consultoria
Plural Capital. "É um dos melhores campos para investir."
Junto de Heitor Reis, ex-diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia, Riechert criou um
fundo de investimentos de R$
40 milhões para arte brasileira.
Um estudo que fizeram circula
entre possíveis investidores e
mostra que obras de alguns artistas hoje chegam a valer 50
vezes o que valiam há dez anos.
"Essa figura do investidor,
que é comum lá fora, começou a
aparecer também por aqui,
gente que viu que comprar uma
Beatriz Milhazes é um alto investimento", diz o galerista Oscar Cruz. "É sinal da evolução
do mercado, é uma tendência."
No caso, tendência que leva o
mercado a operar num ritmo
artificial. A entrada de megainvestidores no circuito, às vezes
mais interessados em lucrar
com a revenda de obras em momentos estratégicos do que formar coleções, vem sustentando
uma bolha especulativa e tornando menor o intervalo entre
o momento em que o artista
surge no circuito e a hora em
que suas obras vão a leilão.
Espiral de valor
Trabalhos chegam a valer até
cinco vezes sob o martelo do
leiloeiro o preço que têm no cubo branco das galerias. Isso
porque elas não têm "pronta
entrega", nas palavras de Jones
Bergamin, diretor da Bolsa de
Arte, a casa de leilões mais importante do país. "Eles não têm
como suprir a demanda do
mercado, já que a rotatividade
está muito intensa e o gosto
muda muito rápido."
Dependendo desse gosto, séries específicas de alguns artistas, como as fotografias com
diamantes, de Vik Muniz, ou as
paredes que simulam charque,
de Adriana Varejão, entram numa espiral descontrolada de valores. Isso pode estancar a demanda por esses artistas e levar
a uma eventual desvalorização,
ou seja, ao estouro da bolha.
"Tem gente que retira obra
da galeria e manda entregar na
casa de leilão", diz Márcia Fortes, da Fortes Vilaça. "É péssimo porque essas pessoas não
representam o artista, só trabalham a especulação da obra",
diz o galerista André Millan.
"Mas não tem controle, a gente
não comanda o espetáculo."
No máximo, galeristas tentam conter a alta excessiva dos
valores comprando de volta
obras de seus artistas que surgem no mercado. Até vão a leilões para resgatar suas obras e
evitar que não sejam vendidas.
Mas, enquanto galeristas no
país se assustam, esse movimento é normal no mercado internacional, sinal de que o país
se aproxima de hábitos de consumo praticados lá fora. "Isso é
bom, a gente tem de abrir a cabeça", diz Maria Baró, galerista
espanhola radicada em São
Paulo. "Isso de ficar marcando
território é um erro."
(SILAS MARTÍ)
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