São Paulo, segunda, 4 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS
Mostra na galeria Camargo Vilaça reúne pinturas de dez expoentes da arte contemporânea mundial
Sobra cor e falta ruído em "Hanging"

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

"Hanging", a mostra de pintura que a galeria Camargo Vilaça inaugura hoje, se propõe, como explica a curadora e colaboradora da Folha Márcia Fortes no texto do catálogo, "um amálgama das sensibilidades que compõem a paisagem da mais recente pintura contemporânea".
Com obras de dez artistas provenientes de vários pontos do mundo, "Hanging" certamente compõe "uma paisagem", mas não "a paisagem", absoluta, como pressupõe o uso do artigo definido. Trata-se de uma paisagem bonita, mas não panorâmica, já que evidencia o gosto da curadora por trabalhos "prazerosos ao olhar".
Isso se reflete na escolha, por exemplo, de artistas intimamente ligados a um imaginário pop. "A arte pop formou esses artistas. Eles reformulam isso com um investimento emocional na cor, nos volumes e na composição", disse.
Pouco atrito
Trata-se assim de um universo atraente, mas de pouco atrito. Um mundo onde tudo é cor, pouco é o estranhamento, nenhum é o ruído. A norte-americana Elizabeth Peyton, por exemplo, não avança naquilo que mostrou na última Bienal e comparece com um retrato realista de Mark Webber, do grupo pop Suede.
Também não emocionam as duas obras do inglês Alessandro Raho, que realiza retratos hiper-realistas de amigos a partir de fotografias tiradas por ele mesmo.
O hiper-realismo também é o artifício de Richard Phillips, que se diz preocupado em "combinar arte pop e a tradição secular da pintura a óleo".
O alemão Franz Ackermann merece atenção maior. Apresenta uma pintura da série "Mapas Mentais", em que círculos concêntricos de cor revelam arquiteturas urbanas (reconheça em uma delas o elevador Lacerda, de Salvador, Bahia, onde o pintor esteve recentemente).
Christian Schumann também se destaca, mas por seu virtuosismo. Em um de seus dois trabalhos, busca nas histórias em quadrinhos os personagens de uma intrincada colagem de heróis e vilões.
Também instigante é a tela "Zorkon", de Sean Landers, que canibaliza influências do cinema e da TV ao retratar cinco seres alienígenas, que, reduzidos em uma esquálida embarcação, observam um tufão que se aproxima, e também da história da arte, já que se trata de uma remissão ao quadro "A Jangada da Medusa", de Théodore Géricault (1791-1824).
A tela deve interessar a Paulo Herkenhoff, curador da próxima Bienal, já que a obra do pintor francês é um dos leitmotivs do evento de outubro próximo.
Por falar em Bienal, a mostra traz ainda duas telas -já vendidas- de Beatriz Milhazes, uma das estrelas nacionais já confirmadas para o evento.

Mostra: Hanging (coletiva de pintura) Artistas: Franz Ackerman (Alemanha), Alejandra Icaza (Espanha), Sean Landers (EUA), Beatriz Milhazes (Brasil), Elizabeth Peyton (EUA), Richard Phillips (EUA), Alessandro Raho (Inglaterra), Christian Schumann (EUA), Hiroshi Sugito (Japão) e Nicola Tyson (Inglaterra) Curadoria: Márcia Fortes Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 011/221-7781, Vila Madalena, São Paulo) Vernissage: hoje, às 20h Quando: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h Quanto: de R$ 2.000 a R$ 26.000


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.