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TELEVISÃO
"Chiquititas' é ficção para Woody Allen ver
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Se o velho Humbert Humbert
pudesse se libertar do presídio
Nabokov, e Woody Allen, o mais
evidente de seus sucessores, fosse
informado, talvez o seriado das
"Chiquititas" pudesse ter dois telespectadores adultos.
O seriado está cheio de ninfetas
de fitas vermelhas nas tranças,
todas vestidas com as mesmas
minissaias e coletes. Todas também muito atribuladas com seus
problemas de órfãs cinco estrelas.
Nem um pouco vitorianas, elas
moram num orfanato, sem lágrimas ostensivas, que parece um
monumento ao "decapê" e ao
"composê".
As crianças e as mães com planos ambiciosos para suas filhas
talvez talentosas vêem "Chiquititas" com grande prazer e, o que é
mais importante, assiduidade. E
egoístas não dão a mais ninguém
a senha. Nem para forasteiros
que queiram visitar rapidamente
suas aventuras. Sem a senha, essas aventuras ficam distantes e
sem vida. Uma chiquitita briga
com a outra e vai trancá-la num
porão. Ah, as órfãs.
Muito diferente, aparece uma
chiquitita loura com todo o jeito
de quem já viveu um "passado".
Ela é bem mais atrevida do que
as outras. Além de um desembaraço muito pessoal, ela até dá um
beijo na boca do Júlio (o orfanato
é misto), um menino de grande
prestígio na casa. Fim da festa.
É muito complicada a tarefa de
ser penetra em "Chiquititas". De
repente, uma mulher sofre a angústia de que as pessoas descubram que a personagem do livro
que ela escreveu seja ela própria.
Quantos minutos de "Chiquititas" precisa um penetra para
avaliar a intensidade de tal perigo? Dois segundos.
Bem melhor foi o conto escrito
por uma órfã e de imediata encenação pela imaginação dos leitores. Tem um caolho perneta, uma
bruxa vestida com o luxo de um
travesti num gala-gay e um herói
com uma máscara que parece
roubada da exposição Dalí, que
ainda está no Rio.
Mas, como criança é chata, interrompem a leitura do conto e
voltam para sua impenetrável
realidade de possíveis adoções
por pais arrependidos ou tios vilões. Homessa.
É muito bonitinho o lema das
chiquititas. "Amigas para sempre". Um pouco Baden Powel demais? Isso é o de menos. O problema é que as meninas vivem
brigando. Como a Vivi e a Tati.
Tati e Vivi? Isso mesmo. O bonitinho é sempre bem de propósito.
Mas alegria mesmo, só na abertura, intervalos e encerramento.
Aí as "Chiquititas" cantam e
dançam com o entusiasmo de
musical americano. Embora a
preferência como cenário sejam
os prédios e até os heliportos da
avenida Paulista, musicalmente
falando elas estão naquele estilo
recém-descoberto Broadway-Bexiga. Com acento agudo-grave-e-circunflexo na Broadway.
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