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LIVROS
SEXUALIDADE
Inglês Desmond Morris e brasileira Márcia Lobo ficam na superfície
Autores despem a mulher para compreender sua feminilidade
Lionel Cironneau - 12.mai.2000/Associated Press
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Mulher passa diante de outdoor de uma loja em Cannes (França) |
COLUNISTA DA FOLHA
Escrever livros sobre sexo
(no caso feminino) sem que
eles caiam no gênero auto-ajuda
nem ganhe tom enciclopédico
não é fácil. Duas obras lançadas
agora conseguem o feito. A "Mulher Nua", do inglês Desmond
Morris, e "Uma História Universal da Fêmea", da jornalista carioca Márcia Lobo, conseguem fugir
dessas armadilhas. Mas, por outro lado, tampouco se aprofundam nos temas que se propõem a
discutir.
O zoólogo Desmond Morris ficou famoso ao lançar o best-seller
"O Macaco Nu". Agora, usa as
teorias da evolução e história para
falar sobre o corpo feminino. Ele
disseca cada parte do corpo. Explica, por exemplo, que ter os
olhos pintados é um costume que
remete há cerca de 5.000 anos,
que os cientistas ainda não sabem
como nossos ancestrais lidavam
com seus cabelos antes do surgimento de facas, pentes e tesouras
e que pintar e cortar os pêlos púbicos é um hábito que existiu em
todos os tempos.
Fatos atuais, como a ditadura da
imagem que faz com que o aumento da procura por cirurgias
plásticas para afinar o nariz (rinoplastia) ou o abuso do silicone e
das cirurgias para deixar os lábios
carnudos apavorem especialistas
sérios, até são citados, mas não
questionados. O autor acaba caindo em teorias do estilo: "O nariz
fino passa uma imagem de maior
feminilidade". E pára por aí.
A brasileira Márcia Lobo se propôs um outro desafio: falar especificamente sobre a sexualidade
feminina, contando os mitos históricos e curiosidades. Ela faz uso
do humor e de um certo feminismo, apesar de negar tal condição
logo no prefácio da obra. Além de
abordar temas como a menstruação, que era considerada sagrada
para depois ser considerada uma
maldição, conta também curiosidades como o surgimento da primeira camisinha. Ela lembra também o que os filósofos pensavam
sobre as fêmeas.
Aí, abusa da ironia ao afirmar
que Schopenhauer (1788-1860),
por exemplo, afirmou que "a única coisa que chama seriamente a
atenção das mulheres é o amor,
fazer conquistas e tudo ligado a isso". E que Hegel (1770-1831) escreveu que "quando as mulheres
tomam o timão do governo, o Estado se acha imediatamente em
perigo porque elas regulamentam
seus atos pelas inclinações e opiniões arbitrárias".
O interessante é que Márcia Lobo, que escreve sobre sexo há
mais de 30 anos para revistas como "Cláudia" e "Nova", ideários
das "reportagens" do estilo "como agradar seu homem na cama", consegue deixar essas fórmulas de lado e fazer um apanhado divertido e curioso sobre a história da feminilidade. Sem escrever uma cartilha de regras.
Mas o caso é que tanto "A Mulher Nua" como "Uma História
Universal da Fêmea" deixam uma
sensação de superficialidade. Os
assuntos são jogados, como curiosidades históricas ou científicas, mas pouco questionados. As
mulheres, tão endeusadas nos livros, bem que mereciam ser tratadas pelos autores com mais profundidade.
(NINA LEMOS)
A Mulher Nua
Autor: Desmond Morris
Tradução: Eliana Rocha
Editora: Globo
Quanto: R$ 42 (247 págs.)
Uma História Universal da Fêmea
Autora: Márcia Lobo
Editora: Religare
Quanto: R$ 28,90 (223 págs.)
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