São Paulo, sábado, 04 de junho de 2005

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LIVROS

SEXUALIDADE

Inglês Desmond Morris e brasileira Márcia Lobo ficam na superfície

Autores despem a mulher para compreender sua feminilidade

Lionel Cironneau - 12.mai.2000/Associated Press
Mulher passa diante de outdoor de uma loja em Cannes (França)


COLUNISTA DA FOLHA

Escrever livros sobre sexo (no caso feminino) sem que eles caiam no gênero auto-ajuda nem ganhe tom enciclopédico não é fácil. Duas obras lançadas agora conseguem o feito. A "Mulher Nua", do inglês Desmond Morris, e "Uma História Universal da Fêmea", da jornalista carioca Márcia Lobo, conseguem fugir dessas armadilhas. Mas, por outro lado, tampouco se aprofundam nos temas que se propõem a discutir.
O zoólogo Desmond Morris ficou famoso ao lançar o best-seller "O Macaco Nu". Agora, usa as teorias da evolução e história para falar sobre o corpo feminino. Ele disseca cada parte do corpo. Explica, por exemplo, que ter os olhos pintados é um costume que remete há cerca de 5.000 anos, que os cientistas ainda não sabem como nossos ancestrais lidavam com seus cabelos antes do surgimento de facas, pentes e tesouras e que pintar e cortar os pêlos púbicos é um hábito que existiu em todos os tempos.
Fatos atuais, como a ditadura da imagem que faz com que o aumento da procura por cirurgias plásticas para afinar o nariz (rinoplastia) ou o abuso do silicone e das cirurgias para deixar os lábios carnudos apavorem especialistas sérios, até são citados, mas não questionados. O autor acaba caindo em teorias do estilo: "O nariz fino passa uma imagem de maior feminilidade". E pára por aí.
A brasileira Márcia Lobo se propôs um outro desafio: falar especificamente sobre a sexualidade feminina, contando os mitos históricos e curiosidades. Ela faz uso do humor e de um certo feminismo, apesar de negar tal condição logo no prefácio da obra. Além de abordar temas como a menstruação, que era considerada sagrada para depois ser considerada uma maldição, conta também curiosidades como o surgimento da primeira camisinha. Ela lembra também o que os filósofos pensavam sobre as fêmeas.
Aí, abusa da ironia ao afirmar que Schopenhauer (1788-1860), por exemplo, afirmou que "a única coisa que chama seriamente a atenção das mulheres é o amor, fazer conquistas e tudo ligado a isso". E que Hegel (1770-1831) escreveu que "quando as mulheres tomam o timão do governo, o Estado se acha imediatamente em perigo porque elas regulamentam seus atos pelas inclinações e opiniões arbitrárias".
O interessante é que Márcia Lobo, que escreve sobre sexo há mais de 30 anos para revistas como "Cláudia" e "Nova", ideários das "reportagens" do estilo "como agradar seu homem na cama", consegue deixar essas fórmulas de lado e fazer um apanhado divertido e curioso sobre a história da feminilidade. Sem escrever uma cartilha de regras.
Mas o caso é que tanto "A Mulher Nua" como "Uma História Universal da Fêmea" deixam uma sensação de superficialidade. Os assuntos são jogados, como curiosidades históricas ou científicas, mas pouco questionados. As mulheres, tão endeusadas nos livros, bem que mereciam ser tratadas pelos autores com mais profundidade. (NINA LEMOS)


A Mulher Nua
 
Autor: Desmond Morris
Tradução: Eliana Rocha
Editora: Globo
Quanto: R$ 42 (247 págs.)

Uma História Universal da Fêmea
 
Autora: Márcia Lobo
Editora: Religare
Quanto: R$ 28,90 (223 págs.)


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