São Paulo, domingo, 04 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

As revoluções por minuto do "Metrópolis'


É mais um tijolinho da desconstrução da Cultura, um passo rumo a não se sabe onde


A partir de amanhã, não há mais "Metrópolis". Não: a partir de amanhã, o programa ganha novo horário, tem sua duração ampliada em dez minutos e, ainda, ganha mais uma inserção no "Jornal da Cultura".
O leitor que estiver estranhando o parágrafo acima pode se tranqüilizar. Está em seu juízo perfeito. Estranhas são as idas e vindas da TV Cultura em relação ao "Metrópolis", um dos únicos programas diários de jornalismo cultural, que completou 18 anos no ar em abril deste ano.
Na sombra das comemorações, anunciou-se que o programa passaria de diário a semanal; não havia data definida, mas o programa prosseguiu ainda diário. Depois de idas e vindas, ele desaparece para transformar-se em inserções nos telejornais.
É mais um tijolinho da desconstrução progressiva da TV Cultura, mais um passo de uma trajetória rumo a não se sabe muito bem onde.
O fim do "Metrópolis" faz parte da "programação 2006", que só agora entra no ar. O destaque é a ampliação do espaço para o jornalismo, que saltou de 50 minutos para três horas diárias. De resto, é mais do mesmo. Ou melhor, só mais um pouquinho do mesmo. Foram 18 anos no ar fazendo jornalismo cultural na TV, reportando o mundo das artes e espetáculos de SP. Se 18 anos atrás a agenda já comportava um programa diário de 30 minutos, não é por falta de assunto que acharam por bem acabar com o "Metrópolis".
É mais uma questão de falta de ousadia, de um lado, em bancar essa programação mais diferenciada, que, aos poucos, tende a sumir da TV Cultura, pelo andar da carruagem. De outro, uma tentativa canhestra de se adequar ao que se supõe ser a demanda do "mercado", privilegiando programas mais "vendáveis" para captar dinheiro de publicidade.
Não é irônico que uma das vítimas da "nova" TV Cultura seja justamente um programa sobre... cultura? Ah, pode-se argumentar que a essência do "Metrópolis" será incorporada a esse jornalismo mais robusto, que terá três telejornais diários e, que, portanto, ele não vai sumir. Mas, evidentemente, a marca do programa, que eram reportagens mais longas, a tentativa de captar a vibração cultural da cidade, o registro da recepção do público aos principais eventos corre o risco de se perder no meio do noticiário. Um dos trunfos do "Metrópolis" era justamente chamar a atenção para os temas culturais; outro, a possibilidade de dar espaço para uma diversidade maior de pautas, inclusive as que fugiam da agenda mais "obrigatória". Ambos devem se diluir no novo formato.

@ - biabramo.tv uol.com.br

Texto Anterior: Nas lojas
Próximo Texto: Novelas da semana
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.