São Paulo, segunda-feira, 04 de junho de 2007

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Henfil se declara ao Flamengo em "Urubu"

Reunidas em livro, charges do cartunista mineiro fazem crônica do futebol carioca do fim dos anos 70

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Gostar de futebol e torcer por um time é mais do que sentir alegria, tristeza, decepção, surpresa... É acompanhar essa equipe, nos bons e maus momentos, com uma paixão incondicional. O livro "Urubu", lançado neste mês, resgata as charges sobre futebol feitas por Henrique de Souza Filho, o Henfil (1944-88), talentoso humorista mineiro e flamenguista roxo.
O título do livro vem da personagem criada por Henfil para representar o torcedor típico de seu time. Os principais rivais também receberam "homenagens": Cri-Cri (que representa os torcedores do Botafogo), Pó-de-Arroz (Fluminense) e Bacalhau (Vasco). Normalmente, eles apareciam levando a pior, mas não necessariamente. Quando o rubro-negro estava em má fase, era ele o alvo do humor certeiro do chargista.
O livro "Urubu" funciona quase como uma compilação de crônicas sobre o futebol do Rio do final dos anos 70 e início dos anos 80. Havia menos campeonatos do que agora: apenas os estaduais e o Brasileiro, além da Libertadores, que era disputada por, no máximo, três times brasileiros (neste ano, foram seis). A final do campeonato do Rio era de grande importância e motivo de muitas charges, estando o Flamengo na decisão ou não.
Henfil era, acima de tudo, um apaixonado. Não poupava ninguém, muito menos os jogadores de seu time. Em uma das charges, a comissão técnica orienta Zico: "Você não vai jogar nem tão mal, como se estivesse na seleção, nem tão bem, como se estivesse boicotando o Telê (Santana, técnico do Brasil nas Copas de 1982 e 86)".
A fixação pelo esporte está sempre lá, ora exaltando a qualidade do elenco flamenguista, ora criticando a falta de humildade do plantel. Não há meio-termo, como não há um torcedor que seja fanático e moderado ao mesmo tempo.
Henfil não pegava leve nas críticas: o excesso de jogos, a violência de alguns atletas, a falta de rigor dos árbitros e as decisões dos cartolas que comandavam o esporte nacional - assuntos que, duas décadas depois, ainda são pertinentes- eram seus alvos preferenciais.
Entre os fãs de humor e histórias em quadrinhos, Henfil é uma unanimidade. Personagens como os Fradinhos, o Capitão Zeferino e a Graúna são clássicos, assim como sua luta pela democracia. Após ler "Urubu", um torcedor, flamenguista ou não, vai perceber que não é só como artista que ele tem valor: a crítica e o humor do torcedor Henfil fazem falta ao futebol brasileiro.

URUBU


Autor: Henfil
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 24,90 (144 páginas)



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