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Henfil se declara ao Flamengo em "Urubu"
Reunidas em livro, charges do cartunista mineiro fazem crônica do futebol carioca do fim dos anos 70
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Gostar de futebol e torcer por
um time é mais do que sentir
alegria, tristeza, decepção, surpresa... É acompanhar essa
equipe, nos bons e maus momentos, com uma paixão incondicional. O livro "Urubu",
lançado neste mês, resgata as
charges sobre futebol feitas por
Henrique de Souza Filho, o
Henfil (1944-88), talentoso humorista mineiro e flamenguista
roxo.
O título do livro vem da personagem criada por Henfil para
representar o torcedor típico
de seu time. Os principais rivais
também receberam "homenagens": Cri-Cri (que representa
os torcedores do Botafogo), Pó-de-Arroz (Fluminense) e Bacalhau (Vasco). Normalmente,
eles apareciam levando a pior,
mas não necessariamente.
Quando o rubro-negro estava
em má fase, era ele o alvo do humor certeiro do chargista.
O livro "Urubu" funciona
quase como uma compilação
de crônicas sobre o futebol do
Rio do final dos anos 70 e início
dos anos 80. Havia menos campeonatos do que agora: apenas
os estaduais e o Brasileiro, além
da Libertadores, que era disputada por, no máximo, três times
brasileiros (neste ano, foram
seis). A final do campeonato do
Rio era de grande importância
e motivo de muitas charges, estando o Flamengo na decisão
ou não.
Henfil era, acima de tudo, um
apaixonado. Não poupava ninguém, muito menos os jogadores de seu time. Em uma das
charges, a comissão técnica
orienta Zico: "Você não vai jogar nem tão mal, como se estivesse na seleção, nem tão bem,
como se estivesse boicotando o
Telê (Santana, técnico do Brasil
nas Copas de 1982 e 86)".
A fixação pelo esporte está
sempre lá, ora exaltando a qualidade do elenco flamenguista,
ora criticando a falta de humildade do plantel. Não há meio-termo, como não há um torcedor que seja fanático e moderado ao mesmo tempo.
Henfil não pegava leve nas
críticas: o excesso de jogos, a
violência de alguns atletas, a
falta de rigor dos árbitros e as
decisões dos cartolas que comandavam o esporte nacional
- assuntos que, duas décadas
depois, ainda são pertinentes-
eram seus alvos preferenciais.
Entre os fãs de humor e histórias em quadrinhos, Henfil é
uma unanimidade. Personagens como os Fradinhos, o Capitão Zeferino e a Graúna são
clássicos, assim como sua luta
pela democracia. Após ler
"Urubu", um torcedor, flamenguista ou não, vai perceber que
não é só como artista que ele
tem valor: a crítica e o humor
do torcedor Henfil fazem falta
ao futebol brasileiro.
URUBU
Autor: Henfil
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 24,90 (144 páginas)
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