São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2008

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Para professora, áudio não substitui leitura, mas amplia conhecimento

DA REPORTAGEM LOCAL

A Plugme, como outras editoras que tentam investir no segmento de audiolivro no Brasil, miram o mercado potencial de ouvintes que ficam presos no trânsito das grandes capitais do país. Duas professoras ouvidas pela Folha são otimistas em relação ao investimento, ainda que com ressalvas.
A professora Neide Luzia de Rezende, da Faculdade de Educação da USP, sustenta que "o áudio abre mais uma possibilidade de acesso ao livro". Numa primeira avaliação, a professora não acredita que o formato possa representar uma ameaça para o livro impresso, num mercado de poucos leitores como o brasileiro.
"Acho que quem lê literatura de qualidade não deixará de ler o livro no papel, ainda que eventualmente possa ouvir o áudio", afirma Neide.
"O impresso traz a relação direta de leitor e texto, sem outras intervenções interpretativas, o que faz toda a diferença, além de outras particularidades. Áudio e impresso são coisas muito distintas."

Tempo ocioso
A professora Lilian Jacoto, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, concorda que o audiolivro pode vir a ocupar um lugar de "razoável importância" na realidade do estudante e do trabalhador brasileiros, sobretudo nos grandes centros urbanos.
"Para os que atravessam horas do dia confinados num ônibus, num trem, no metrô, a audição de um livro é uma forma de aproveitamento do tempo ocioso, talvez mais produtiva do que a própria leitura, que, para muitos, requer esforço não disponível no momento."
Lilian Jacoto defende ainda que o meio auditivo em nada deixa a desejar na aquisição da informação e, apesar de não substituir a leitura, pode aprimorar o processo de intelecção.
"O audiolivro é uma boa alternativa também aos que evitam ler justamente por não terem desenvolvido uma fluência do discurso verbal que se adquire pelos hábitos da leitura e da escrita. A audição, ao menos no tocante aos bons textos, ensina a ler, a escrever e a pensar de forma lógica, clara, e até bela, se calhar", acrescenta a professora, ressaltando ainda que a cultura antiga era predominantemente auditiva.
"O que se deve discutir é sempre, portanto, o que ouvir e para quê", conclui. (ES)


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