São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011 |
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CRÍTICA ROMANCE Livro traz engenhoso retrato dos infortúnios da Bulgária NELSON DE OLIVEIRA ESPECIAL PARA A FOLHA "Solo" é a superfície sólida da crosta terrestre onde pisamos. Mas também é o trecho musical para ser executado por um só instrumento ou uma só voz. O título do romance do britânico-indiano Rana Dasgupta privilegia ora uma acepção, ora outra. Para o ficcionista mineiro Campos de Carvalho (1916-1998), autor do irreverente "O Púcaro Búlgaro", a Bulgária não passa de pura fantasia. Se o mítico país dos búlgaros existe realmente, então ainda é preciso descobri-lo. É exatamente isso o que Dasgupta realiza: uma engenhosa e solitária expedição de descobrimento (ou de invenção) da Bulgária. Como uma peça musical, o romance está dividido em dois movimentos distintos, mas complementares: "Vida" e "Devaneios". O primeiro movimento é química pura. Nele, acompanhamos em detalhes o infortúnio do búlgaro Ulrich, um pobre coitado cego e centenário morando num pardieiro em Sófia. O segundo movimento é pura alquimia. Nele, atravessamos a fronteira que separa a realidade da ficção e ficamos conhecendo "a outra história de Ulrich", ambientada nos Estados Unidos. Estamos no primeiro quartel do século 20. Desde a juventude, Ulrich era apaixonado por química e música. E pela Alemanha. O melhor momento de sua vida é quando vai estudar em Berlim, onde estão os melhores cientistas do mundo. Porém as convulsões políticas e sociais de seu país o enredam e arrastam de volta a Sófia. A partir daí, a decadência da Bulgária e de Ulrich, massacrados pelos soviéticos, segue rápida. Sob o governo comunista, o país vira um campo de batalha. Os amigos são assassinados, a mãe é enviada a um campo de concentração, Ulrich é obrigado a trabalhar numa usina química e a mulher o abandona. A velhice sem luz de Ulrich é assombrada por fantasmas de todas as qualidades. Porém, o mais incontornável dos fantasmas é o cientista Albert Einstein (1879-1955). Em seus últimos dias, o cego percebe que um gênio como Einstein só é possível se houver ao seu redor, alimentando-o, milhares de homens como Ulrich: reprimidos e anulados. NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral), entre outros livros SOLO AUTOR Rana Dasgupta EDITORA Benvirá TRADUÇÃO Valter Lellis Siqueira QUANTO R$ 39,90 (352 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: "Solo" recria tragédias do Ocidente no século 20 Próximo Texto: Livros: Restrepo conta a própria saga familiar na guerrilha Índice | Comunicar Erros |
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