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TECNOLOGIA
Setor faturou, em 2003, US$ 3,5 bilhões em todo o mundo e é o que mais cresce dentro do mercado fonográfico
Ringtones tiram gravadoras do abismo
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Se o telefone é bom para Syang,
é bom também para a indústria
da música. Desnorteado com o
crescimento do comércio pirata e
ainda combalido pelos efeitos dos
programas de troca de arquivos
de MP3, o mundo fonográfico enxerga a saída do buraco nos toques de celulares, os ringtones.
Nenhum outro setor que envolve música se desenvolveu tanto e
tão rápido quanto esse. Em 2003,
o mercado de ringtones faturou
US$ 3,5 bilhões no planeta -esse
número chegará a US$ 4,5 bi neste
ano, segundo estimativa do instituto americano Juniper Research
Mobile Music and Ringtones.
A Folha ouviu executivos de telefonia, gente ligada à indústria
fonográfica no Brasil e no exterior
e até o finlandês que "inventou"
os ringtones (leia texto abaixo)
sobre esse fenômeno que está
mudando os hábitos de entretenimento dos (principalmente, mas
não só) adolescentes.
"É impossível quantificar o
quanto esse mercado está crescendo, mas definitivamente podemos dizer que está crescendo
muito rápido", diz Matt Phillips,
diretor da British Phonography
Industry, o órgão que regula a indústria fonográfica no Reino Unido. Na Inglaterra e na Alemanha,
a venda de toques personalizados
de celulares já é maior do que a de
CDs singles.
No Brasil, a situação não é muito diferente. Há aqui 51 milhões
de celulares (no mundo são 1,5
bi). No ano passado, foram comercializados no país cerca de 22
milhões de ringtones, e a previsão
para 2004 é que chegue a 70 milhões. A gravadora Universal
criou uma gerência especial para
celulares. A Trama, por sua vez,
está renegociando contratos com
artistas, pois atualmente eles não
prevêem esse tipo de negócio.
"O que acontece é que a indústria fonográfica percebeu que trabalha com música, e não com suporte, com o CD", diz André Szajman, presidente da Trama. "O
mercado de ringtones é o que
mais cresce mesmo. O potencial
de mercado é absurdo, pois o
"custo" você teve ao produzir o
disco do artista. O que vem com o
ringtone é apenas lucro."
Com todos esses números e informações, veio também a pergunta: por que alguém se dispõe a
pagar para colocar a melodia de
uma música como toque de seu
celular, mas deixa de comprar,
por preço semelhante, um CD
single (os ringtones chegam a custar de US$ 1 a US$ 4, nos EUA, e
de R$ 2 a R$ 4 no Brasil)?
"Por alguns motivos", explica
Marcia Elena Almeida, da Universal. "O celular está com o consumidor 24 horas por dia, ao alcance
da mão; o celular é um item de diferenciação e integração social; o
usuário compra ringtones não só
para ele ouvir, mas também para
outros ouvirem; o celular deixou
de ser um aparelho de comunicação para se transformar quase
num vício entre os adolescentes; a
curiosidade inata do ser humano
para tudo o que é novidade."
A maioria dos celulares no Brasil está habilitada a comportar um
ringtone em qualquer um de seus
três tipos: monofônico (que toca
apenas um timbre); polifônico
(que pode tocar até 32 timbres);
ou o chamado truetone (a reprodução original de uma música).
Pode-se adquirir um desses toques através da operadora do celular ou de empresas fornecedoras de ringtones. "Alguns artistas
chegam a disponibilizar um ringtone antes mesmo de lançar o disco", afirma André Mafra, gerente
de conteúdo da Vivo. "É muito
simples de comprar e é muito
simples de oferecer. Alguém que
não sabe mexer direito no telefone consegue baixar um ringtone",
diz Andrea Ortenzi, gerente de
ofertas de serviços da Tim.
Como são produzidos a partir
da melodia de uma canção, os toques monofônicos e polifônicos
geram pagamento de direitos
apenas ao compositor da música
(ou à editora que detém o direito).
Já os truetones aumentam a receita também das gravadoras, pois
utilizam o fonograma original.
"Estamos há quatro meses negociando valores com as operadoras", disse Glória Braga, superintendente do Ecad (Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição). "A previsão é que a arrecadação com ringtones seja metade da conseguida com as TVs
abertas e as rádios."
O computador no celular
A oferta de ringtones cresce exponencialmente, motivada pelo
hábito compulsivo dos usuários
de celulares. "Este é um mercado
que dificilmente terá esgotamento. Pessoas entre 12 e 28 anos geralmente pegam dez ringtones
nos primeiros dois meses após a
compra do celular. Depois disso, a
média fica entre um e três ringtones por mês", afirma Ralph Simon, diretor para as Américas da
Mobile Entertainment Forum
(www.mobileentertainmentfo
rum.org), associação internacional responsável pela criação da
parada de ringtones na Inglaterra.
Nos EUA, teme-se até o aparecimento de um "Napster dos ringtones". A empresa Xingtone
(www.xingtones.com) oferece
tecnologia para "transportar" os
arquivos musicais de um computador para o celular por US$ 15
dólares; foi motivo de extensa reportagem do "New York Times".
Já a revista "Business Week"
chama a atenção para o que acontece na Coréia do Sul, país que está tecnologicamente, segundo
Ralph Simon, "três anos na frente
dos EUA". Lá já existem desde o
ano passado os chamados "ringbacks": ao ligar para uma pessoa
que tem esse serviço, ouve-se uma
canção em vez do toque de chamada "normal".
Em bem pouco tempo, o telefone celular será um novo iPod.
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