São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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TECNOLOGIA

Setor faturou, em 2003, US$ 3,5 bilhões em todo o mundo e é o que mais cresce dentro do mercado fonográfico

Ringtones tiram gravadoras do abismo

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Se o telefone é bom para Syang, é bom também para a indústria da música. Desnorteado com o crescimento do comércio pirata e ainda combalido pelos efeitos dos programas de troca de arquivos de MP3, o mundo fonográfico enxerga a saída do buraco nos toques de celulares, os ringtones.
Nenhum outro setor que envolve música se desenvolveu tanto e tão rápido quanto esse. Em 2003, o mercado de ringtones faturou US$ 3,5 bilhões no planeta -esse número chegará a US$ 4,5 bi neste ano, segundo estimativa do instituto americano Juniper Research Mobile Music and Ringtones.
A Folha ouviu executivos de telefonia, gente ligada à indústria fonográfica no Brasil e no exterior e até o finlandês que "inventou" os ringtones (leia texto abaixo) sobre esse fenômeno que está mudando os hábitos de entretenimento dos (principalmente, mas não só) adolescentes.
"É impossível quantificar o quanto esse mercado está crescendo, mas definitivamente podemos dizer que está crescendo muito rápido", diz Matt Phillips, diretor da British Phonography Industry, o órgão que regula a indústria fonográfica no Reino Unido. Na Inglaterra e na Alemanha, a venda de toques personalizados de celulares já é maior do que a de CDs singles.
No Brasil, a situação não é muito diferente. Há aqui 51 milhões de celulares (no mundo são 1,5 bi). No ano passado, foram comercializados no país cerca de 22 milhões de ringtones, e a previsão para 2004 é que chegue a 70 milhões. A gravadora Universal criou uma gerência especial para celulares. A Trama, por sua vez, está renegociando contratos com artistas, pois atualmente eles não prevêem esse tipo de negócio.
"O que acontece é que a indústria fonográfica percebeu que trabalha com música, e não com suporte, com o CD", diz André Szajman, presidente da Trama. "O mercado de ringtones é o que mais cresce mesmo. O potencial de mercado é absurdo, pois o "custo" você teve ao produzir o disco do artista. O que vem com o ringtone é apenas lucro."
Com todos esses números e informações, veio também a pergunta: por que alguém se dispõe a pagar para colocar a melodia de uma música como toque de seu celular, mas deixa de comprar, por preço semelhante, um CD single (os ringtones chegam a custar de US$ 1 a US$ 4, nos EUA, e de R$ 2 a R$ 4 no Brasil)?
"Por alguns motivos", explica Marcia Elena Almeida, da Universal. "O celular está com o consumidor 24 horas por dia, ao alcance da mão; o celular é um item de diferenciação e integração social; o usuário compra ringtones não só para ele ouvir, mas também para outros ouvirem; o celular deixou de ser um aparelho de comunicação para se transformar quase num vício entre os adolescentes; a curiosidade inata do ser humano para tudo o que é novidade."
A maioria dos celulares no Brasil está habilitada a comportar um ringtone em qualquer um de seus três tipos: monofônico (que toca apenas um timbre); polifônico (que pode tocar até 32 timbres); ou o chamado truetone (a reprodução original de uma música).
Pode-se adquirir um desses toques através da operadora do celular ou de empresas fornecedoras de ringtones. "Alguns artistas chegam a disponibilizar um ringtone antes mesmo de lançar o disco", afirma André Mafra, gerente de conteúdo da Vivo. "É muito simples de comprar e é muito simples de oferecer. Alguém que não sabe mexer direito no telefone consegue baixar um ringtone", diz Andrea Ortenzi, gerente de ofertas de serviços da Tim.
Como são produzidos a partir da melodia de uma canção, os toques monofônicos e polifônicos geram pagamento de direitos apenas ao compositor da música (ou à editora que detém o direito). Já os truetones aumentam a receita também das gravadoras, pois utilizam o fonograma original.
"Estamos há quatro meses negociando valores com as operadoras", disse Glória Braga, superintendente do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). "A previsão é que a arrecadação com ringtones seja metade da conseguida com as TVs abertas e as rádios."

O computador no celular
A oferta de ringtones cresce exponencialmente, motivada pelo hábito compulsivo dos usuários de celulares. "Este é um mercado que dificilmente terá esgotamento. Pessoas entre 12 e 28 anos geralmente pegam dez ringtones nos primeiros dois meses após a compra do celular. Depois disso, a média fica entre um e três ringtones por mês", afirma Ralph Simon, diretor para as Américas da Mobile Entertainment Forum (www.mobileentertainmentfo rum.org), associação internacional responsável pela criação da parada de ringtones na Inglaterra.
Nos EUA, teme-se até o aparecimento de um "Napster dos ringtones". A empresa Xingtone (www.xingtones.com) oferece tecnologia para "transportar" os arquivos musicais de um computador para o celular por US$ 15 dólares; foi motivo de extensa reportagem do "New York Times".
Já a revista "Business Week" chama a atenção para o que acontece na Coréia do Sul, país que está tecnologicamente, segundo Ralph Simon, "três anos na frente dos EUA". Lá já existem desde o ano passado os chamados "ringbacks": ao ligar para uma pessoa que tem esse serviço, ouve-se uma canção em vez do toque de chamada "normal".
Em bem pouco tempo, o telefone celular será um novo iPod.



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