São Paulo, terça-feira, 04 de julho de 2006

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Crítica/erudito

Penderecki fez discurso sonoro consistente

IRINEU FRANCO PERPETUO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Se as orquestras brasileiras não fazem mais música contemporânea, não é por deficiência técnica. Assim como a Osesp vem demonstrando, também a Petrobras Sinfônica mostrou-se à altura da intrincada escrita dos autores da atualidade, anteontem, no Municipal do Rio, em concerto regido pelo compositor Krzysztof Penderecki e constituído exclusivamente por obras de sua lavra.
O programa ofereceu a oportunidade de comparar o Penderecki "vanguardista" dos anos 60 com o autor neo-romântico em que ele se converteu nas décadas posteriores e, antes do intervalo, a reação do público inclinou-se em favor do primeiro: executada duas vezes (para substituir a excluída "De Natura Sonoris 2"), "Polymorphia", de 1960, recebeu mais aplausos do que o "Agnus Dei" do "Réquiem Polonês" (1984), que, em transcrição para cordas de Boris Pergamenschikow, ficou "ensanduichada" entre as performances da peça anterior.
Nada mais compreensível: com suas sonoridades ásperas e gestual agressivo, a obra corresponde ao que há de melhor em Penderecki e que deve garantir seu lugar na posteridade.
Vanguarda
Ela foi escrita em tempos em que a união entre retórica dramática e pesquisa de linguagem conseguida pelo autor polonês parecia oferecer, ao elevado cerebralismo das vanguardas dos anos 60, uma alternativa radical e sem concessões ao tonalismo. Em comparação a isso, o "Agnus Dei", com seu "pathos" declaradamente emocional e sintaxe "acessível", acabou soando menos relevante.
A vanguarda, em Penderecki, foi um momento histórico que ficou para trás. E a segunda parte do concerto foi constituída pela neo-romântica "Sinfonia nš 2", estreada pela Filarmônica de Nova York em 1980.
Em movimento único e com 35 minutos de duração, pontilhada de clímaxes intermediários e com citações que incluem obras do próprio compositor, além de "Noite Feliz", a peça soa como uma sinfonia extemporânea de Chostakovitch. Aplaude-se, no final, ao discurso sonoro consistente e muito bem realizado pela orquestra. Mas deu vontade de ouvir mais do Penderecki anterior.


O jornalista IRINEU FRANCO PERPETUO viajou a convite da Orquestra Petrobras Sinfônica
KRZYSZTOF PENDERECKI    


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