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Crítica/erudito
Penderecki fez discurso sonoro consistente
IRINEU FRANCO PERPETUO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Se as orquestras brasileiras não fazem mais música contemporânea,
não é por deficiência técnica.
Assim como a Osesp vem demonstrando, também a Petrobras Sinfônica mostrou-se à altura da intrincada escrita dos
autores da atualidade, anteontem, no Municipal do Rio, em
concerto regido pelo compositor Krzysztof Penderecki e
constituído exclusivamente
por obras de sua lavra.
O programa ofereceu a oportunidade de comparar o Penderecki "vanguardista" dos anos 60 com o autor neo-romântico
em que ele se converteu nas décadas posteriores e, antes do intervalo, a reação do público inclinou-se em favor do primeiro:
executada duas vezes (para
substituir a excluída "De Natura Sonoris 2"), "Polymorphia",
de 1960, recebeu mais aplausos
do que o "Agnus Dei" do "Réquiem Polonês" (1984), que, em
transcrição para cordas de Boris Pergamenschikow, ficou
"ensanduichada" entre as performances da peça anterior.
Nada mais compreensível:
com suas sonoridades ásperas e
gestual agressivo, a obra corresponde ao que há de melhor
em Penderecki e que deve garantir seu lugar na posteridade.
Vanguarda
Ela foi escrita em tempos em
que a união entre retórica dramática e pesquisa de linguagem
conseguida pelo autor polonês
parecia oferecer, ao elevado cerebralismo das vanguardas dos
anos 60, uma alternativa radical e sem concessões ao tonalismo. Em comparação a isso, o
"Agnus Dei", com seu "pathos"
declaradamente emocional e
sintaxe "acessível", acabou
soando menos relevante.
A vanguarda, em Penderecki,
foi um momento histórico que
ficou para trás. E a segunda
parte do concerto foi constituída pela neo-romântica "Sinfonia nš 2", estreada pela Filarmônica de Nova York em 1980.
Em movimento único e com
35 minutos de duração, pontilhada de clímaxes intermediários e com citações que incluem
obras do próprio compositor,
além de "Noite Feliz", a peça
soa como uma sinfonia extemporânea de Chostakovitch.
Aplaude-se, no final, ao discurso sonoro consistente e muito
bem realizado pela orquestra.
Mas deu vontade de ouvir mais
do Penderecki anterior.
O jornalista IRINEU FRANCO PERPETUO viajou
a convite da Orquestra Petrobras Sinfônica
KRZYSZTOF PENDERECKI
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