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Silviano Santiago evoca "obra póstuma"
Escritor e crítico lerá trechos de seu romance, "Em Liberdade", em encontro com o argentino Cesar Aira
DA REPORTAGEM LOCAL
A versão literária do clássico
futebolístico Brasil x Argentina
acontecerá na Flip no sábado à
tarde e reunirá os críticos e romancistas Silviano Santiago, do
lado verde-e-amarelo, e Cesar
Aira, do lado azul e branco.
A mesa "Dois Lados do Balcão" tratará da "dupla personalidade" de autores que ora se
dedicam a criticar a literatura,
ora a fazê-la de próprio punho.
Se depender do brasileiro, os
argentinos vão sair muito bem
na fita. Santiago não economiza
elogios aos vizinhos. Considera
que, lá, valoriza-se mais a marginalidade do que aqui. "No
Brasil, se o autor trabalha demais nas margens, é considerado um "outsider". Na Argentina,
correr fora da raia é por si só
uma qualidade, escritores como Roberto Arlt e Macedonio
Fernandes são exemplos."
Santiago acha que isso acontece porque os críticos brasileiros são muito reverentes ao
"cânone". "Não é a toa que Harold Bloom [crítico literário
norte-americano, autor de "O
Cânone Ocidental] faça tanto
sucesso aqui e no resto da América Latina, não."
Como cânone no Brasil, Santiago identifica dois focos. Do
lado da crítica, seria a USP, e no
da criação literária, giraria em
torno de nomes como Mario de
Andrade e o romance de 1930.
Santiago lerá trechos de seu
romance "Em Liberdade"
(Rocco), lançado em 1981. O autor considera a obra, que ficcionaliza, por meio de um diário
inventado, a vida do escritor
Graciliano Ramos (1892-1953)
logo após deixar a prisão, um livro "quase póstumo".
"Ele faz mais sentido agora
do que quando foi lançado. Hoje se valorizam obras que tratam de momentos decisivos da
vida de um personagem que, de
alguma forma, se dedica à reflexão." Santiago faz analogias entre seu romance e livros como
"O Mestre de São Petersburgo",
de J.M. Coetzee, que aborda o
momento em que Dostoiévski,
após perder um enteado, se
prepara para escrever "Os Demônios"; o filme "Capote", que
se concentra no momento em
que Truman Capote escreve
sua obra-prima, "A Sangue
Frio"; e "Diários de Motocicleta", que retrata a viagem que
Che Guevara fez na juventude.
Outro livro de Santiago que
deve ser evocado na Flip é o recente "As Raízes e o Labirinto
da América Latina" (Rocco),
que analisa as obras do brasileiro Sérgio Buarque de Holanda,
"Raízes do Brasil", e do mexicano Octavio Paz, "O Labirinto da
Solidão". O crítico destaca a
atualidade do clássico de Paz ao
tratar da diáspora latino-americana. "Ele retratou a decadência da colonização européia
dos trópicos, cuja conseqüência estamos vendo hoje, nos refugiados em geral, na América
Latina, na África e na Ásia. É
uma resposta do colono ao fracasso do colonialismo e do pós-colonialismo, e que já estava na
obra dele."
(SYLVIA COLOMBO)
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