São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

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Silviano Santiago evoca "obra póstuma"

Escritor e crítico lerá trechos de seu romance, "Em Liberdade", em encontro com o argentino Cesar Aira

DA REPORTAGEM LOCAL

A versão literária do clássico futebolístico Brasil x Argentina acontecerá na Flip no sábado à tarde e reunirá os críticos e romancistas Silviano Santiago, do lado verde-e-amarelo, e Cesar Aira, do lado azul e branco.
A mesa "Dois Lados do Balcão" tratará da "dupla personalidade" de autores que ora se dedicam a criticar a literatura, ora a fazê-la de próprio punho.
Se depender do brasileiro, os argentinos vão sair muito bem na fita. Santiago não economiza elogios aos vizinhos. Considera que, lá, valoriza-se mais a marginalidade do que aqui. "No Brasil, se o autor trabalha demais nas margens, é considerado um "outsider". Na Argentina, correr fora da raia é por si só uma qualidade, escritores como Roberto Arlt e Macedonio Fernandes são exemplos."
Santiago acha que isso acontece porque os críticos brasileiros são muito reverentes ao "cânone". "Não é a toa que Harold Bloom [crítico literário norte-americano, autor de "O Cânone Ocidental] faça tanto sucesso aqui e no resto da América Latina, não."
Como cânone no Brasil, Santiago identifica dois focos. Do lado da crítica, seria a USP, e no da criação literária, giraria em torno de nomes como Mario de Andrade e o romance de 1930.
Santiago lerá trechos de seu romance "Em Liberdade" (Rocco), lançado em 1981. O autor considera a obra, que ficcionaliza, por meio de um diário inventado, a vida do escritor Graciliano Ramos (1892-1953) logo após deixar a prisão, um livro "quase póstumo".
"Ele faz mais sentido agora do que quando foi lançado. Hoje se valorizam obras que tratam de momentos decisivos da vida de um personagem que, de alguma forma, se dedica à reflexão." Santiago faz analogias entre seu romance e livros como "O Mestre de São Petersburgo", de J.M. Coetzee, que aborda o momento em que Dostoiévski, após perder um enteado, se prepara para escrever "Os Demônios"; o filme "Capote", que se concentra no momento em que Truman Capote escreve sua obra-prima, "A Sangue Frio"; e "Diários de Motocicleta", que retrata a viagem que Che Guevara fez na juventude.
Outro livro de Santiago que deve ser evocado na Flip é o recente "As Raízes e o Labirinto da América Latina" (Rocco), que analisa as obras do brasileiro Sérgio Buarque de Holanda, "Raízes do Brasil", e do mexicano Octavio Paz, "O Labirinto da Solidão". O crítico destaca a atualidade do clássico de Paz ao tratar da diáspora latino-americana. "Ele retratou a decadência da colonização européia dos trópicos, cuja conseqüência estamos vendo hoje, nos refugiados em geral, na América Latina, na África e na Ásia. É uma resposta do colono ao fracasso do colonialismo e do pós-colonialismo, e que já estava na obra dele." (SYLVIA COLOMBO)


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