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Ciclo aborda o uso do som no cinema
Mostra com 15 filmes que começa hoje no CCBB-SP apresenta produções como "M, o Vampiro de Dusseldorf"
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Até pouco tempo atrás ainda
havia quem sustentasse que o
"verdadeiro cinema" era o cinema mudo, por ter desenvolvido
uma linguagem especificamente visual para expressar aquilo
que não podia dizer com palavras. Já o cinema falado, para
esses críticos, seria um retrocesso em direção ao teatro e à
literatura, com os diálogos
amesquinhando o papel da
imagem.
Se faltasse outro argumento
para refutar essa tese, bastariam os 15 filmes da mostra "E o
Som se Fez", que começa hoje
no Centro Cultural Banco do
Brasil de São Paulo.
Pois se houve cineastas que
de fato se acomodaram à facilidade do diálogo explicativo, outros souberam experimentar as
possibilidades do som como
elemento expressivo que, em
vez de diminuir a importância
da imagem, a realçava.
É o caso de Fritz Lang, gigante do cinema mudo que, em sua
primeira fita sonora, "M, o
Vampiro de Dusseldorf" (1931),
colocou no centro da trama um
vendedor de balões cego que
identifica por um assobio o assassino de crianças que aterroriza a cidade.
Outro exemplo notável é o do
diretor e ator Jacques Tati, que
em "As Férias do Sr. Hulot"
(1953), um de seus clássicos, faz
com que as palavras sejam percebidas como ruídos, esvaziadas de sentido, de modo a acentuar a solidão do protagonista e
o absurdo do seu entorno.
Silêncio
A introdução do som no cinema permitiu, paradoxalmente,
uma valorização dramática do
silêncio, e poucos cineastas
souberam explorar esse caminho com a argúcia e a sensibilidade de Robert Bresson.
Em seu "Mouchette" (1967),
que no Brasil ganhou o escandaloso (e anti-bressoniano)
subtítulo "A Virgem Possuída",
o drama de uma menina do
campo violentada é mostrado
sem ênfase, sem discurso explicativo e sem música.
É seu modo de colocar em
evidência, como queria o diretor, "a miséria e a crueldade" do
mundo.
Entre as preciosidades da
mostra está "A Herança"
(1971), de Ozualdo Candeias,
ousada e curiosa transposição
da tragédia de "Hamlet" para o
ambiente rural brasileiro.
Outro clássico nacional do ciclo é "Ganga Bruta" (1933), primeiro longa sonoro do pioneiro
Humberto Mauro.
Por fim, a mostra do CCBB
permite também conferir o radical e pouco visto "O Buraco"
(1998), do malaio radicado em
Taiwan Tsai Ming-liang, uma
visão ao mesmo tempo apocalíptica e doméstica da virada do
milênio.
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