São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ciclo aborda o uso do som no cinema

Mostra com 15 filmes que começa hoje no CCBB-SP apresenta produções como "M, o Vampiro de Dusseldorf"

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Até pouco tempo atrás ainda havia quem sustentasse que o "verdadeiro cinema" era o cinema mudo, por ter desenvolvido uma linguagem especificamente visual para expressar aquilo que não podia dizer com palavras. Já o cinema falado, para esses críticos, seria um retrocesso em direção ao teatro e à literatura, com os diálogos amesquinhando o papel da imagem.
Se faltasse outro argumento para refutar essa tese, bastariam os 15 filmes da mostra "E o Som se Fez", que começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo.
Pois se houve cineastas que de fato se acomodaram à facilidade do diálogo explicativo, outros souberam experimentar as possibilidades do som como elemento expressivo que, em vez de diminuir a importância da imagem, a realçava.
É o caso de Fritz Lang, gigante do cinema mudo que, em sua primeira fita sonora, "M, o Vampiro de Dusseldorf" (1931), colocou no centro da trama um vendedor de balões cego que identifica por um assobio o assassino de crianças que aterroriza a cidade.
Outro exemplo notável é o do diretor e ator Jacques Tati, que em "As Férias do Sr. Hulot" (1953), um de seus clássicos, faz com que as palavras sejam percebidas como ruídos, esvaziadas de sentido, de modo a acentuar a solidão do protagonista e o absurdo do seu entorno.

Silêncio
A introdução do som no cinema permitiu, paradoxalmente, uma valorização dramática do silêncio, e poucos cineastas souberam explorar esse caminho com a argúcia e a sensibilidade de Robert Bresson.
Em seu "Mouchette" (1967), que no Brasil ganhou o escandaloso (e anti-bressoniano) subtítulo "A Virgem Possuída", o drama de uma menina do campo violentada é mostrado sem ênfase, sem discurso explicativo e sem música.
É seu modo de colocar em evidência, como queria o diretor, "a miséria e a crueldade" do mundo.
Entre as preciosidades da mostra está "A Herança" (1971), de Ozualdo Candeias, ousada e curiosa transposição da tragédia de "Hamlet" para o ambiente rural brasileiro.
Outro clássico nacional do ciclo é "Ganga Bruta" (1933), primeiro longa sonoro do pioneiro Humberto Mauro.
Por fim, a mostra do CCBB permite também conferir o radical e pouco visto "O Buraco" (1998), do malaio radicado em Taiwan Tsai Ming-liang, uma visão ao mesmo tempo apocalíptica e doméstica da virada do milênio.


Texto Anterior: Exposição busca aproximação de artistas cearenses com o mercado
Próximo Texto: Arqueologia: Série usa médium para achar a Atlântida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.