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Ripper leva sua Capitu ao Festival de Campos
Compositor carioca estréia obra machadiana no evento que começa amanhã
Com o tema Música e Literatura, 39ª edição do festival terá composições inspiradas em escritores, de Dante a Cervantes
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os "olhos de cigana oblíqua e
dissimulada" da mais famosa
personagem feminina da literatura brasileira vão ganhar, neste ano, uma expressão musical.
O carioca João Guilherme Ripper, 49, compositor-residente
do Festival Internacional de
Inverno de Campos do Jordão,
escreveu especialmente para a
ocasião uma obra intitulada
"Olhos de Capitu".
Com atrações como Kurt
Masur, Nelson Freire e Antonio Meneses, o festival vai de
amanhã a 27 de julho. Adotou
como tema Música e Literatura. Assim, os 50 espetáculos terão obras inspiradas por criações de escritores de diversas
épocas e estilos, como Cervantes, Shakespeare, Dante -e
Machado de Assis, escolhido
por Ripper como homenagem
ao centenário de falecimento
do autor de "Dom Casmurro".
Em três partes, a obra tem
trechos do romance, lidos por
um narrador que representa
Bentinho; e um poema de Ripper, sobre Capitu, cantado por
uma soprano solista.
"As metáforas de Machado
são muito bonitas. Queria que a
música não perdesse essa qualidade mágica que a prosa dele
tem", diz o autor, que chegou à
música pelas mãos da literatura. "Eu escrevia poemas desde
cedo, e, na adolescência, fui estudar música porque queria
cantar os meus versos."
A peça será executada no dia
18, pela Orquestra Acadêmica,
formada por alunos e bolsistas
do festival, sob regência do belga Ronald Zollman. Mas amanhã, na abertura, a Osesp, regida por Victor Hugo Toro (John
Neschling dirige o resto do programa, com peças de Camargo
Guarnieri e Tchaikovski), executa outra obra do compositor.
Trata-se de "Desenredo", cuja primeira audição mundial a
própria Osesp fez em maio deste ano. Para coro, orquestra e
solistas, a obra trata, na forma
de um desafio de repentistas,
do embate entre vanguardismo
e nacionalismo que dominou a
música erudita brasileira na segunda metade do século 20.
Tonal e acessível
Diretor artístico da Sala Cecília Meireles, no Rio, membro
da Academia Brasileira de Música, professor da UFRJ, e autor
da ópera "Anjo Negro", Ripper
escreve em um idioma tonal e
acessível. Como compositor-residente, terá tarefas pedagógicas: trabalhará, por dez dias,
com seis alunos de composição
por ele selecionados.
A figura do compositor residente foi uma criação de Roberto Minczuk desde que assumiu a direção artística do festival, em 2004.
Sobre os rumores de que deixará o evento em 2009, ele diz:
"Tenho um compromisso com
o festival, que faz parte da minha história desde o início da
carreira, tenho um compromisso com São Paulo, apoio do governador José Serra, compromissos com nossos patrocinadores e, acima de tudo, muita
motivação para continuar me
dedicando a esta missão".
FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO
Quando: de amanhã a 27 de julho (programação completa no site www.festivalcamposdojordao.org.br)
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