São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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Ripper leva sua Capitu ao Festival de Campos

Compositor carioca estréia obra machadiana no evento que começa amanhã

Com o tema Música e Literatura, 39ª edição do festival terá composições inspiradas em escritores, de Dante a Cervantes


IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" da mais famosa personagem feminina da literatura brasileira vão ganhar, neste ano, uma expressão musical. O carioca João Guilherme Ripper, 49, compositor-residente do Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, escreveu especialmente para a ocasião uma obra intitulada "Olhos de Capitu".
Com atrações como Kurt Masur, Nelson Freire e Antonio Meneses, o festival vai de amanhã a 27 de julho. Adotou como tema Música e Literatura. Assim, os 50 espetáculos terão obras inspiradas por criações de escritores de diversas épocas e estilos, como Cervantes, Shakespeare, Dante -e Machado de Assis, escolhido por Ripper como homenagem ao centenário de falecimento do autor de "Dom Casmurro".
Em três partes, a obra tem trechos do romance, lidos por um narrador que representa Bentinho; e um poema de Ripper, sobre Capitu, cantado por uma soprano solista.
"As metáforas de Machado são muito bonitas. Queria que a música não perdesse essa qualidade mágica que a prosa dele tem", diz o autor, que chegou à música pelas mãos da literatura. "Eu escrevia poemas desde cedo, e, na adolescência, fui estudar música porque queria cantar os meus versos."
A peça será executada no dia 18, pela Orquestra Acadêmica, formada por alunos e bolsistas do festival, sob regência do belga Ronald Zollman. Mas amanhã, na abertura, a Osesp, regida por Victor Hugo Toro (John Neschling dirige o resto do programa, com peças de Camargo Guarnieri e Tchaikovski), executa outra obra do compositor. Trata-se de "Desenredo", cuja primeira audição mundial a própria Osesp fez em maio deste ano. Para coro, orquestra e solistas, a obra trata, na forma de um desafio de repentistas, do embate entre vanguardismo e nacionalismo que dominou a música erudita brasileira na segunda metade do século 20.

Tonal e acessível
Diretor artístico da Sala Cecília Meireles, no Rio, membro da Academia Brasileira de Música, professor da UFRJ, e autor da ópera "Anjo Negro", Ripper escreve em um idioma tonal e acessível. Como compositor-residente, terá tarefas pedagógicas: trabalhará, por dez dias, com seis alunos de composição por ele selecionados.
A figura do compositor residente foi uma criação de Roberto Minczuk desde que assumiu a direção artística do festival, em 2004. Sobre os rumores de que deixará o evento em 2009, ele diz: "Tenho um compromisso com o festival, que faz parte da minha história desde o início da carreira, tenho um compromisso com São Paulo, apoio do governador José Serra, compromissos com nossos patrocinadores e, acima de tudo, muita motivação para continuar me dedicando a esta missão".


FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO
Quando: de amanhã a 27 de julho (programação completa no site www.festivalcamposdojordao.org.br)



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