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Viver e morrer na TV
Ao transmitir em rede nacional a morte de um dos protagonistas,
a série "Pesca Mortal" não só bateu recordes de audiência nos EUA como reacendeu o debate em torno
dos limites dos reality shows
Divulgação
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Cena do reality show norte-americano "Pesca Mortal", que registra as dificuldades vividas em alto mar durante a captura de caranguejos no Alasca
CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK
"Você me ouve? Qual é o
seu nome?" "Phil." "Você
consegue sorrir para mim?
Levantar as bochechas?" A
paramédica cutuca o rosto de
Phil, mas ele permanece imóvel, com os olhos virados.
O paciente é Phil Harris,
53, capitão do barco Cornelia
Marie e uma das estrelas do
reality show "Pesca Mortal",
do Discovery Channel. A
morte de Phil está marcada
para o próximo dia 13, três semanas após ter um derrame
em rede nacional, nos EUA.
Na vida real, o coração do
pescador parou de bater em 9
de fevereiro, 11 dias depois de
um AVC derrubá-lo, causando paralisia parcial. Na TV, a
sua agonia terá durado quatro episódios, vistos por uma
multidão de curiosos.
O primeiro, descrito acima, foi exibido no dia 22 e levou o canal pago aos melhores índices de audiência da
história da série sobre pescadores de caranguejo -5,4 milhões de espectadores.
O recorde anterior era da
estreia da sexta e atual temporada, que atraiu 4,6 milhões de pessoas ávidas por
acompanhar a edição da
morte anunciada.
Foi o suficiente para gerar
comentários na mídia sobre
os limites dos realities.
O Discovery Channel nega
que tenha feito da tragédia
uma oportunidade de lucro.
Executivos do canal dizem
ter seguido o desejo do próprio Phil, que escreveu um
bilhete ao sair do coma induzido, após o derrame: "Continue gravando. É preciso que
essa história tenha um fim".
O operador de câmera que
acompanhava Phil, Todd
Stanley, disse ao "New York
Times" que procurou manter
o bom gosto, evitando imagens que o "desumanizassem", como a troca do penico
sob a cama do hospital.
Segundo Josh Harris, filho
do capitão, a presença das
câmeras foi limitada para
evitar o estresse do doente, e
elas não capturaram o momento da morte. Josh disse
ao jornal que a família não
pediu o corte de nenhuma cena, "queremos que [a série]
seja o mais real possível".
O Discovery justifica a sequência como uma forma de
"homenagem" ao capitão. O
episódio em que é encontrado caído foi anunciado no site do canal como o clímax de
"Pesca Mortal".
LIMITES
Em 2005, quando foi lançado, o programa era propagandeado como "o mais real
dos realities". Desde então,
outras séries passaram a testar os limites do público.
Recentemente, a protagonista de "Pretty Wild", por
exemplo, foi presa depois de
ter os meses prévios ao seu
julgamento televisionados.
Os barracos das "Real
Housewives", que chegam a
envolver a polícia, se multiplicam, em novas versões,
por cidades americanas.
"Os realities estão cada vez
mais extremos. Estão contratando as pessoas mais loucas, que fazem qualquer coisa por aquilo. Assim, os programas acabam se afastando
da realidade", diz a pesquisadora Sarah Coyne, da Brigham Young University.
Os momentos dramáticos,
afirma Coyne, são os mais
"empolgantes". Exibir o derrame e a agonia de alguém à
beira da morte, no entanto, é
"um pouco de exagero".
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