|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Art Revolution: A Bigger Splash" reúne em SP a vigorosa produção britânica do pós-guerra
arte da REconstrução
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A rampa temporária e aparentemente precária que conduz ao segundo andar da Oca, no parque
Ibirapuera, não dá pistas da sofisticada produção britânica prestes
a ser vista. A rampa serve, no entanto, como metáfora dos anos 50
na Inglaterra, período de reconstrução de um país arrasado pela
Segunda Guerra Mundial.
Foi desse período de reconstrução, impulsionado pela nova lei
da gratuidade nas escolas de arte
inglesas, segundo o crítico inglês
Simon Casimir Wilson, que surgiu uma vigorosa produção nos
40 anos seguintes, cujo resultado
pode ser visto a partir de hoje em
"Art Revolution: A Bigger Splash
-°Arte Britânica da Tate de 1963 a
2003", na Oca, mostra promovida
pela associação BrasilConnects a
partir do acervo do museu inglês.
Após subir a nova rampa ao segundo andar, parte da cenografia
da exposição, de Daniela Thomas
e Felipe Tassara, não há obra, e
são 109, que não tenha sido parte
importante da construção da história da arte inglesa. É o caso das
quatro do pintor Francis Bacon,
prova de que a seleção das peças
pelas curadoras inglesas Catherine Kinley e Joanne Bernstein, da
Tate Gallery, não economizou em
obras-primas. "Esse é o creme de
nosso acervo", diz Kinley.
Além de Bacon, um dos mais
importantes pintores do século
20, estão, no segundo andar,
obras de mestres do pincel como
David Hockney, autor da tela "A
Bigger Splash", que dá título à
mostra, e Lucian Freud. Richard
Hamilton, precursor da arte pop,
comparece com gravuras e colagens. A exposição, montada em
ordem cronológica, tem início assim nos anos 60.
Um dos desafios é manter a
afluência de público após o sucesso da mostra dos guerreiros chineses -com mais de 800 mil visitantes- para um tema com menos apelo, a arte contemporânea.
"Vamos nos esforçar para que o
público perceba a importância da
exposição e, por isso, nosso trabalho na arte-educação será fundamental. Queremos criar um novo
olhar", diz Edemar Cid Ferreira,
presidente da BrasilConnects.
Para as curadoras inglesas, a capital paulista já tem familiaridade
com o tema. "É a primeira vez que
a Tate expõe na América Latina, e
escolhemos a cidade por já contar
com um público sofisticado graças à Bienal de São Paulo", afirma
Bernstein.
Para evitar o "isso meu filho sabe fazer", a organização afixou
textos ao lado de obras como "An
Oak Tree", de Michael Craig-Martin, composta por um copo
com água sobre um aparato de
banheiro. O artista faz parte do
movimento de arte conceitual, interessado em criar metáforas e
alusões. Também participa do
módulo a dupla Gilbert & George. Assim, o primeiro andar é o local dos anos 70, representado ainda pela escultura britânica com
nomes como Anthony Caro,
Anish Kapoor, Tony Cragg e Antony Gormley, atuantes até hoje e
influentes na geração dos anos 80.
É no térreo que se encontra a
nova pintura inglesa e a fotografia, outro dos destaques da produção britânica dos 80. Entretanto,
ao lado dessa geração, já estão os
nomes da Young British Art (Jovem Arte Britânica), que, nos
anos 90, tornou Londres a meca
da arte contemporânea, novamente graças às escolas britânicas, especialmente o Goldsmiths
College, além do mecenato do colecionador Charles Saatchi.
No primeiro andar e no subsolo, estão os expoentes da "Sensation", mostra da coleção de Saatchi, que projetou os jovens ingleses no cenário internacional, como Richard Billingham, na fotografia, Sarah Lucas, com escultura, Michael Raedecker, em pintura, e Damien Hirst, o mais badalado de todos, que comparece com
"The Last Supper", na qual se
apropria do visual de caixas de remédio e escreve nomes de itens da
alimentação inglesa como as
"sausages" (linguiças).
Enquanto a exposição na Oca
trata com comedimento da ousadia da Young British Art, é no Instituto Tomie Ohtake -que apresenta a produção em vídeo do
grupo, além de figuras marginais
ao movimento- que está o impacto dos jovens ingleses.
"O vídeo é importante na arte
contemporânea inglesa", diz
Bernstein. Sete são os artistas que
apresentam obras no primeiro
andar do instituto. Há desde "So
Much I Want to Say" (1983), da libanesa Mona Hatoum, sobre a
expressão das minorias políticas,
até "Why I Never Became a Dancer" (1996), de Tracey Emin, participante da "Sensation".
"Com a exposição, esperamos
mostrar que não temos apenas a
Young British Art, mas há um
contínuo da produção, desde os
anos 60", defende Kinley. A partir
de quarta, cabe ao público julgar.
ART REVOLUTION: A BIGGER SPLASH -
ARTE BRITÂNICA DA TATE DE 1963 A
2003. Curadoria: Catherine Kinley e
Joanne Bernstein. Onde: Pavilhão da Oca
(parque Ibirapuera - av. Pedro Álvares
Cabral, s/nš, portão 3, São Paulo).
Quando: abertura, hoje, às 20h (para
convidados); a partir de quarta para o
público; de ter. a sex., das 9h às 21h; sáb.
e dom., das 10h às 21h. Até 26/10.
Quanto: R$ 6. Patrocinadores: Accenture,
British Council, HSBC Bank, Sodexho.
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria
Lima, 201, entrada pela r. Coropés, SP,
tel.: 0/xx/11/6844-1900). Quando:
abertura amanhã, às 20h (para
convidados); de ter. a dom., das 11h às
20h; Até 21/9. Quanto: entrada franca.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Hip hop: Gil propõe intercâmbio entre rappers e repentistas Índice
|